Meu anjo

Essa é a sua realidade

Derek estava deitado em sua cama encarando o teto do cômodo como se fosse a coisa mais interessante do  mundo. Aquilo era muito estranho para si, sabe? Ele estava deitado, em sua cama, em sua casa, seu lar. Mas ele não se sentia tão confortável quanto antes do acidente. Aquele maldito acidente. Derek não se lembrava de nada dele, apenas sabia que bateu o seu carro e capotou. O moreno se lembrou dos momentos em que tivera,  ali naquele quarto, naquela cama, amado Jennifer de todas as formas e ser amado pela mesma. Ah, suas noites de amor com a mulher foram incríveis. Lembrou-se de cada detalhe, de cada noite. Lembrava-se da vez em que transaram em pé, atrás da porta do quarto, enquanto Theo e um amigo da escola jogavam vídeo game na sala. 

Lembrava-se, também, de como a mulher chupava seus dedos, numa tentativa de abafar o som de seus gemidos, de como a sua mão apertava o seio esquerdo, enquanto a outra segurava a cintura da mulher, para segurá-la quando investisse forte e rapidamente nela. 

Ah, e a vez em que eles fizeram sexo no chão. Sabe-se lá quantas posições eles usaram, ou quantos orgasmos eles tiveram naquela noite. Derek levou sua mão até seu membro, esperando o encontrar duro, mas ele não estava. 

O Hale tomou aquilo como mais uma prova de sua incompetência, de quão (segundo ele) inútil era naquela condição e de sua limitação. Mais um motivo que fizera Jennifer se afastar de si. As lágrimas vieram. Sem controle, rolavam por seu rosto, deixando uma trilha úmida e salgada por sua face. O moreno tentou se virar, para agarrar os lençóis e enfiar seu rosto no travesseiro, para abafar seus gritos de dor e frustração, mas nem isso ele podia fazer. Mais fortes ficou sua dor, mais intensa, mais fundo perfurava seu coração já maltratado. 

O Hale socou a cama e mordeu os lábios com força. Puxou o travesseiro que um dia fora de Jennifer e o forçou contra sua face. Respirou fundo, mas o cheiro de sua mulher não estava lá. Erica trocou até os travesseiros que um dia pertenceram a sua mulher amada. Gritou contra o travesseiro, sendo abafado pelo mesmo. 

Sua vida não tinha como piorar. Não poderia andar, não poderia amar outro alguém, não poderia ter sua mulher em suas mãos. Ah, mas teve como piorar. Derek agora teria que conviver com um completo estranho. Suas irmãs foram embora depois do jantar e algumas horas de conversa com o seu “enfermeiro ” particular.  Derek ainda via aquilo como um modo de o humilhar ainda mais. Por que ninguém conseguia entender que ele só precisava de solidão e algumas garrafas de Vodka? Ainda tinha Erica. A mulher estava deitada no quarto ao lado. Derek sentia-se fraco, mas tentava parecer forte na frente da filha. Mas a verdade era que nem ela, ele queria por perto. Ninguém ali conhecia a dor de ser abandonado pelo amor de sua vida, então não havia alguém com quem ele quisesse ficar naquele momento, ou em momento algum. 

Solidão. 

Era disso que Derek necessitava.

Não!

Jennifer!

Era isso. Era isso que ele queria, era ela com quem ele queria estar. Mas como não podia. A solidão bastava. A solidão o consolava. Era o meio que ele encarava a realidade. Porque era essa é a sua realidade. Solidão. Ele estava sem sua mulher, sem o seu filho e logo estaria sem Erica também. Ele estava só. Era isso o que importa. Nem o cheiro de sua mulher o acompanhava naquela solidão.

 Derek chorou por horas. Ele queria morrer, aquela dor nunca passava, nunca diminuía. Era isso. A única coisa que parecia que lhe consolaria seria a morte. Retirou o travesseiro de seu rosto quando percebeu que chorava mudo. Nem forças para fazer sons e ruídos durante o choro ele tinha. Nem para isso ele servia. O moreno virou o rosto para o lado onde antes Jennifer dormia. Mas estava vazio. Parecia tão sem vida quanto Derek. Tudo o que ele via eram as barras de ferro presas ao chão para ajudar o Hale a se levantar da cama e se sentar em sua cadeira. O moreno se lembrou da conversa que teve com Stiles e suas irmãs depois do jantar.