PRÓLOGO

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{Livro I  Eternas Chuvas}

Havia uma lua minguante de prata a tilintar no céu sobre os extensos campos e pavilhões da Corte Celestial.

A movimentação pelos caminhos de ladrilhos claros era pouca naquele instante. Pequenos grupos aglomerados de imortais aqui e acolá transitavam a ir e vir. Alguns traçavam seus caminhos de volta para seus respectivos palácios, outros ficavam, pois tinham compromissos a atender por aqueles arredores.

"Vocês ficaram sabendo? Da Lua de Inverno?"

"Lua de Inverno? O que tem Yue Chi?"

"O Imperador o convocou. Para um julgamento."

"Não... Sério? Como assim? Pelo quê?"

"O que Yue Chi poderia ter feito?"

"Ao que parece, foi por negligência prolongada."

"Hah! Onde você ouviu isso? Aquele moleque passa mais tempo lá embaixo do que aqui em cima, é mais fácil o pai dele negligenciar os mortais do que ele."

"Vocês acham que ele vai rebaixá-lo?"

"Pah, claro que não... Ele não rebaixaria a Lua de Inverno, não é? Ele não rebaixaria duas pessoas na mesma semana."

"Ah rebaixaria sim, eu já vi ele fazer... E não foi nada bonito..."

"Mas aquele menino é um certinho, ele não vai ter arrumado encrenca."

Dentre os estampidos repetitivos das botas dos imortais aos arredores, um par silencioso de pés descalços ia na direção do Alto Pavilhão de Ouro e Jade.

Mais cedo, ele falava com seu pai.

Dong BaiHe, o antigo imortal consagrado na Corte Celestial pelo título de Rei do Inverno, se sentava graciosamente ao seu trono no Palácio de Gelo. Apesar da posição altiva e do olhar tão baixo para observar seu filho, ele exalava uma aura gentil de esperança e calor. Como um imperador benevolente que distribuía alimentos quentes, abrigo e cobertores aos seus súditos no frio impiedoso do inverno das tundras.

"Não se preocupe, filho. Ele gosta de assustar os jovens como você. Estou certo de que não é nada."

A voz de seu pai lhe deu a confiança que acreditou precisar, mas encarar os portões imensos do pavilhão foi o suficiente para frear seu caminho antes de começar a subir as escadas.

Pela primeira vez, o piso gelado debaixo de seus pés descalços o incomodou.

Quando se viu no centro do pavilhão, degraus de pedra branca se estendiam pelos quatro cantos do salão. Os deuses do mais alto escalão da Corte Celestial se enfileiravam ao seu redor.

Solitário, tão pequeno e acuado, seu primeiro instinto ao não encontrar o rosto de seu pai na multidão foi de encarar o chão diante de seus pés.

O palanque e a mesa no alto das escadarias à frente ainda estavam vazios. Os demais imortais eram como o público aguardando pela atração principal de um teatro num festival.

De dentro das suntuosas pilastras, vigas recurvas, e imensas cortinas de seda, caminhou em sincronia um grupo de quatro imortais uniformizados em robes azul escuro mesclados às peças de armadura cerimonial.

A figura esguia e jovial do rapaz no centro do salão se estremeceu quando os quatro guardas se dispuseram ao seu redor. Dois à frente, dois à trás. Eles mal precisaram terminar seu trajeto para que ele já tivesse obedientemente se ajoelhado no chão.

A cena era deveras estranha. Um semblante tão dócil, um rosto quase infantil, as bochechas sempre tingidas como as de uma criança no frio do inverno. Todas as suas cores e formas exalavam suavidade e graciosidade.

Coruja Voando Alto [XIANXIA ORIGINAL] {BL & GL}Onde histórias criam vida. Descubra agora