10 - Faculdade

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As semanas se passaram nessa mesma rotina. A relação de cão e gato de Sana e Dahyun não parecia dar sinais de mudança e nenhuma delas tinha muito tempo para pensar nisso agora que a faculdade tinha voltado - e, claro, como não poderia deixar de ser, elas estudavam no mesmo campus e frequentavam os mesmos prédios.

Só pode ser piada de mau gosto.

Elas não resistiam uma a outra, mas também não conseguiam se resolver. Minatozaki não entendia qual a dificuldade de Dahyun em não irritá-la com brincadeiras fraternais e Kim, a cada dia, se divertia mais com isso. A princípio era só uma piada, mas agora, como via Sana a cada dia mais irritada - e, consequentemente, a cada dia mais atraente - ela não conseguia mais parar. Quanto mais ódio nos olhos da estudante de psicologia, com mais e mais vontade provocá-la até tê-la pra si e mais satisfatório isso se tornava. Era um ciclo vicioso.

Não bastando tudo isso, também tinha o fato de que Momo e Nayeon seriam obrigadas a voltar a conviver diariamente infernizando a cabeça de Sana. Ela amava a amiga e aprendeu a gostar muito de Nayeon com o tempo, mas não aguentava mais aquele impasse. Ela tentaram voltar a se falar umas vezes nesse meio tempo, mas alguém sempre saía chorando - e, na maioria dos casos, esse alguém era Momo.

Não era um choro de raiva ou coisa do tipo, era puro choro de saudades. Ela ainda não acreditava que viveria alguém o que viveu com ela - e nem queria, na verdade. Chegou num ponto que a dependência emocional pesou demais entre elas e seria muita injustiça com ambas insistir naquilo, até mesmo para preservar um pouco o que restava entre elas.

 - É louco como, mesmo estudando como funciona a nossa mente, a gente ainda consegue ser tão idiota, né? - Hirai comentou virando o resto de café que tinha no copo antes de deixarem a cafeteria e seguirem para a sala de aula.

 - Nem me fale...quando acontece com outra pessoa é fácil de ver, né? Quando é com alguém de fora, um analisando ou paciente, parece tão óbvio como tem coisas que a pessoa precisa resolver dentro dela antes de conseguir se resolver com as outras, mas, quando é com a gente, parece impossível ver onde está o problema - Sana respondeu sinceramente incomodada com esse fato.

 - Por isso que todo terapeuta precisa de terapia. E haja terapia, no meu caso. Acho que eu preciso de uma terapia de choque pra tomar vergonha na cara, isso sim. 

 - Amiga...não é bem assim, também. Fins são sempre difíceis, ainda mais quando você amava muito alguém. E você reconhece como era uma relação que vinha ficando perigosa demais pra cabeça de vocês. Está fazendo tudo certo. Não ia ficar bem do dia pra noite.

 - É...pelo menos eu não sou mais tão iludida, só otária mesmo. É bizarro como ainda dói, Sana. Eu sei que isso não é amor, eu sei que é dependência, eu sei que é só minha insegurança querendo foder a minha cabeça me dizendo que ninguém mais poderia me amar...eu sei que é tudo isso, mas parece que, todo santo dia, quando eu baixo um pouco a guarda, tudo volta e dói como se tivesse sido ontem.

Apesar do tom triste do comentário, era bom ver Hirai já muito mais madura do que no começo de seu ex-relacionamento. Há dois anos ela nunca estaria dizendo essas coisas, ela normalizava demais resumir sua felicidade ao seu namoro, e inclusive achava estranho quando as pessoas a alertavam de que poderia estar passando dos limites.

Sana sabia, lá no fundo, que ainda ia demorar, mas que Momo tinha melhorado muito como pessoa e que superaria aquilo de vez um dia. E ela não estava deixando de viver por conta de seu luto interno, o que era o principal, na sua opinião.

 - Oi... - a voz de Nayeon surgiu no corredor.

A coreana de cabelos longos, ondulados e castanhos passou rapidamente por elas, lançando um meio sorriso para cada e indo direto para a sala. Escolheu um lugar estrategicamente longe dos que elas costumavam sentar e tentou não pensar muito sobre o assunto. Por um minuto, Sana gelou esperando para ver se Hirai esboçava alguma reação, mas ela se manteve aparentemente calma.

 - Tudo bem...vamos lá, né. A gente tem uma aula para ver - foi tudo que comentou.

Ela não fez cara de choro, já é uma boa notícia.





 - Amor! - Mina falou alto quando viu Tzuyu se aproximando do grupinho depois de sua aula.

A japonesa foi até ela e a deu um beijinho acompanhado de um abraço apertado, como se não tivessem se visto no dia anterior.

Como alguém consegue aguentar essa melação toda?

Dahyun já estava até habituada a passar o dia ao lado de Tzuyu e Mina grudadas. Era fofo vê-las felizes, mas a cada dia que passava Kim tinha mais certeza de que detestava aquele tipo de relacionamento. Preferia alguém misterioso, que bagunçasse um pouco mais sua vida, aquele dengo todo ela poderia ter depois de adotar um cachorro ou um gatinho no futuro. 

Na faculdade estava até sendo mais fácil porque tinham as outras amigas delas e as pessoas que Dahyun estava conhecendo em sua nova turma. Mina, que agora já estava no quinto semestre de Design, era a típica aluna simpática e competente que se dava bem com todo mundo. Era inseparável de Son Chaeyoung e Lee Doyun, a aluna mais brilhante da turma e o cara perdido que ninguém sabia como passava nas matérias, respectivamente, e compunham um dos trios mais populares do curso, até porque não perdiam uma festa que tinha e nunca passavam em branco.

Chaeyoung era verdadeiro camaleão no quesito cabelo, mas atualmente tinha ele na altura dos ombros e tingido de rosa. Ela já trabalhava como ilustradora contrata por uma editora desde o primeiro ano da faculdade, alguns meses depois de ter entrado lá como estagiária. Desde muito nova ela amava arte e viu em seu desenho uma forma de ganhar a vida. Tudo nela gritava criatividade, desde suas tatuagens as vezes incompreensíveis até seu delineador extravagante.

Doyun era o típico garoto que a vida inteira foi taxado como gay afeminado mas que, na verdade, nem estava certo sobre sua sexualidade. Fazia o que tinha vontade, isso em todos os âmbitos de sua vida, não só no pessoal. Não sabia se queria mesmo seguir naquela área no futuro, mas estava feliz lá e era o que importava. Uma de suas coisas favoritas no mundo era ler, qualquer papo sobre livros o atraía como ninguém, e seu maior sonho era ser autor - só não sabia de que tipo de literatura ainda. 

Os cinco estavam conversando perto de onde seria a última aula de Dahyun quando, de longe, ela viu Momo e Sana já indo embora conversando com uma outra garota do lado. Era um rosto diferente, uma menina um pouco mais baixa que as japonesas ao lado de Minatozaki, com um riso contagiante e um olhar dócil. Por um instante viu ela rindo de algo e tocando sem parar o braço de Sana, que não deixava de retribuir o ato nenhuma vez.

Quem é essa garota? A Sana odeia contato físico, o que ela está fazendo?

 - Kim, caralho! Eu estou falando com você - Doyun gritou ao seu lado, fazendo ela voltar a si e todo mundo em volta dar risada.

 - Que? - ela perguntou confusa.

 - Nada, amiga. Viu uma assombração, é? Ficou olhando fixamente pra longe, até se perdeu na conversa - ele perguntou rindo.

 - Não, ela só tá espumando de raiva de ver a namorada dela dando em cima de outra - Tzuyu interrompeu.

 - Namorada... - Dahyun falou com desprezo - sei nem o que isso significa, vou fingir que não ouvi.

 - Eu pergunto pra Momo mais tarde quem é essa garota, viu, Dah? Eu te mando mensagem - Mina disse lembrando com não muita alegria de que teria um jantar em família hoje.

 - Mina...nem se dê ao trabalho - a coreana respondeu revirando os olhos - ela que faça o que quiser, eu não vou ficar pensando nisso. 

 - Quando começa a falar assim...a crise de ciúmes vem - Chaeyoung fala com ironia levantando as sobrancelhas.

 - Tchau, gente. Eu vou pra aula, beijinhos - a loira falou tomando seu caminho.

Os quatro amigos que ficaram para trás não conseguiram conter a risada. Dahyun não sabia disfarçar quando estava muito irritada, seu semblante falava por si só.

Isso não é ciúme. Não pode ser. 






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@sanaviews - oi bubu, um beijo viu, obg pela ajuda <3

Life's a bitch - SaidaOnde histórias criam vida. Descubra agora