Respeite a Toca-Stoll

55 4 0
                                    

Em uma hora, Travis já estava conseguindo correr novamente. Lee não ia conseguir usar o Arco-e-Flecha tão cedo, mas a mão dele já estava bem melhor. O filho de Apolo ergueu triunfante um arco de alguma pilha de tralhas nossa.
- Esse foi um dos meus primeiros arcos que eu usei! Tem até uma falha no entalhamento de quando um campista de Ares me acertou em uma Captura da Bandeira - Ele tirou os olhos do pedaço de madeira e ollhou para mim e meu irmão - seus desgraçados! Sumiu faz anos! Anos
Eu dei de ombros.
- Você nunca deu falta… Aí ficou guardado aqui.
- Pensei que alguém tinha usado e terminado de quebrar… Posso levar? Queria deixar de recordação, isso é mais valiosos do que um troféu.
- Não Lee Fletcher, você não pode - falei ironicamente, o garoto riu e colocou o arco em seus ombros.
- Meninos - Marisa falou, pelo tom de sua voz, notei que era um assunto sério - Vocês não podem contar pra ninguém o que aconteceu no Punho-de-Zeus.
- Mas… - Lee tentou argumentar.
- Nada do que aconteceu. Por favor. - ela disse quase em lágrimas -jurem pelo Rio Estige.
O conselheiro-chefe de Apolo olhou para nós.
- Eu juro pelo Rio Estige - falei. Os outros fizeram o mesmo.
Ficamos em silêncio por um bom tempo, até que Travis pigarreou.
- Vamos arriscar voltar para o acampamento ou vamos esperar amanhecer?
- Acho que nesse horário é muito arriscado - Marisa disse, e então olhou para Lee - Acha que alguém iria notar a sua falta?
O filho de Apolo gargalhou.
- Se você estiver falando sério eu vou ficar muito chateado por achar que a minha ausência não seria percebida… Mas tá tranquilo, Michael tem tudo sob controle, se ele não morrer de preocupação, vai esperar um tempo antes de tentar chamar o Quíron ou qualquer outra coisa.
- Tem alguma cama nesse buraco? - Marisa perguntou - Detesto ter que dormir no chão.
- Mais respeito com a Toca-Stoll - Travis reclamou e a menina mostrou a língua. - acho que temos alguns daqueles sacos de dormir…
E então nós dormimos na Toca.

Antes de amanhecer já estávamos de pé, o ideal seria chegar nos chalés antes dos campistas acordarem, o pessoal do chalé 11 certamente não estaria preocupado, já passamos várias noite fora sem problema algum. Aparentemente esse não era um hábito comum entre os campistas do chalé 7 então teríamos que agir sem que percebessem a ausência de seu conselheiro-chefe.
Durante o dia, a floresta era muito tranquila, quase pacífica, parecia vinda daquelas pinturas de florestas encantadas cheias de fadas e gnomos, o que em parte era verdade, mas era cheia de monstros também.
Caminhamos o mais rápido e silencioso possível, algumas ninfas nos olhavam de esguelha, mas com exceção disso, não vimos mais nada demais.
Chegamos nos chalés, todos com as portas fechadas, os campistas ainda dormindo. Nos despedimos de Fletcher e entramos no nosso.
Passamos pelos colchonetes dos campistas dormindo no meio do corredor, todos muito bem adormecidos, com exceção de Clóvis.
Esse estava desmaiado mesmo, parecia nem respirar. Imaginei se ele já quase matou sua mãe de susto por pensar que ele tinha morrido enquanto dormia.

Não demorou muito para começarmos a fazer a fila para o banheiro e nos dirigirmos ao pavilhão do refeitório, uma longa fila repleta de carinhas amassadas e com fome. Estava tudo tão normal que por um momento, me esqueci de tudo que aconteceu ontem. Mas Michael me interceptou antes que eu pudesse ter o meu café.
- O que vocês aprontaram ontem? Quase me mataram do coração, todos vocês.
Eu lhe ofereci um soriso preguiçoso, me lembrando do meu juramento.
- Só levamos o conselheiro de vocês para um pouquinho de diversão. Se preocupou à tõa, fuinha. - A expressão do garoto não se suavisou.
- O que vocês aprontaram ontem? - ele repetiu - O Lee não quer me falar absolutamente nada e…
- E por que você acha que eu te contaria alguma coisa? - ele ergueu uma sobrancelha - Não é nada do que você está pensando, e juramos pelo rio Estige não falar sobre o que aconteceu. Não é nada para se preoucupar.
Falei e me virei para o refeitório, estava com fome, não jantei nada além de chocolate e coca-cola, precisava comer algo mais saudável, como jujubas.
Michael me segurou pelo braço e eu me virei.
- Eu pensei…- ele falou - pensei que eu me tornaria conselheiro-chefe mais cedo do que previsto - eu engoli em seco - Só… avisem da próxima vez que forem dormir fora tá bom?
Eu entendia mais do que qualquer um como era acordar num dia, olhar para o beliche ao lado e notar que estava vazio, quando isso acontecia era difícil imaginar que a mesma pessoa que dormia ali iria voltar. Perdemos campistas tanto para os monstros quanto para o lado negro da força, e eu ainda não sabia dizer qual destino era pior.
Eu simplesmente assenti e voltei para a fila do meu chalé.

Co-conselheiros Do Acampamento Meio SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora