Percepção

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créditos a fanart: @gomanonakami1

Acordar ao lado dele não era nada mal.

Me fazia bem virar e ver aquele rosto adormecido, os fios vermelhos cobrindo sua testa, a pele macia iluminada parcialmente pela brecha da luz solar que entrava na sala anunciando a manhã, o sorriso que esboçava quando abria os olhos e me dava um bom dia carregado de uma voz sonolenta.

Se levantou, espreguiçando de uma forma fofa e logo indo para a cozinha. Eu continuei deitado, apenas olhando-o de costas preparar o café, era a melhor visão matinal que eu podia ter.

Daquele jeito pareciamos...

—Que cara é essa? — sua voz me tirou dos devaneios, provavelmente eu estava vermelho e com uma cara boba que poderia entregar que eu estava imaginando uma situação que eu e ele...bem...nós...

—F-Fome! — sorri me levantando, indo até ele, que colocava torradas e ovos fritos na mesa com café. Era inegável que ele cozinhasse bem melhor que eu.

—Sabe... — falou após beber um gole do café. —Eu queria terminar a minha faculdade, falta apenas um semestre, mas não sei se devo. — suspirou fundo, me deixando cheio de dúvidas. Eu não sabia quase nada sobre ele, mas queria muito saber, só não sabia se eu deveria me dar o direito de tal intimidade.

—Por que não? Transfere pra Universidade de Londres, eu vou com você e te ajudo na transferência. — ele me olhou surpreso, mas logo acentiu, sorrindo fechado e agradecendo.

—Tenho que ir. — se levantou da mesa, pegando o casaco e indo até a porta.

Seu corpo parou, a mão ainda no trinco, se virou e veio até mim, me surpreendendo ao sentir seu toque afastando minha franja, segurando suavemente meu maxilar e deixando um selar na minha testa.

—Até mais tarde.

Fechou a porta, me deixando sozinho com um sorriso bobo na cara. Aquele garoto que eu vivia chamando mentalmente de chato estava me tirando sorrisos até demais nas últimas 3 semanas.

Agora que estava apenas eu no apartamento, tinha afazeres por demais pra fazer, peguei minhas argilas e meus moldes para fazer as 15 esculturas que eu tinha que enviar até o fim desse mês para Museus da Inglaterra. Aquilo me deixava feliz, saber que donos de museus famosos se interessaram pelo estilo da minha arte. Claro, eu devia muito ao Obito por isso.

Lembrei da ligação inesperada do Itachi 2 dias após o incêndio, me pedindo que encontrasse ele numa cafeteria próxima ao shopping.

E obviamente, eu fui.

—Oi, bom dia. — cumprimentei Itachi, estranhando o fato de um rapaz moreno estar sentado ao seu lado, mas mesmo assim cumprimentei ele também.

—Deidara, sua escultura foi a única obra que não foi afetada pelas chamas. — fiquei surpreso ao ouvir aquilo, como assim? a única? minha obra estava inteira?! Talvez eu estivesse sorrindo como nunca naquele momento.

—E o Obito... —  colocou a mão sob o ombro do rapaz ao seu lado. —É um jornalista da BBC News que se interessou em fazer uma matéria sobre isso, você topa?

Olhei o moreno, ele me olhou de volta esperando que eu confirmasse mas eu ainda nem estava acreditando que um jornalista da BBC news, a maior rede de notícias inglesa e mundial queria uma matéria sobre a minha arte.

—Claro que eu quero! — estendi a mão para Obito, ele apertou-a e sorriu.

—Já trouxe a minha equipe pra te levar pro local da entrevista, vamos? — ele apontou para o lado de fora, onde uma van da BBC estava estacionada.

Sem pensar duas vezes eu fui, até me belisquei discretamente para saber se aquilo era um sonho. Mas não era, lá estava eu sentado num estúdio de gravação, fazendo uma entrevista ao vivo para rede nacional.

Mas antes da entrevista, me deram alguns minutos para me preparar. Peguei um café, fui tomando-o e pensando exatamente no que falar, eu gostava de planejar tudo para que nada saisse do meu imprevisto.

—Preparado? — Obito perguntou, chegando no camarim sem aviso prévio.

—Sempre. — terminei de beber o café, ele acentiu e saiu da sala.

Obito era um cara bem simpático, haviamos conversado muito no caminho para cá, me tranquilizou sobre tudo e me explicou calmamente como o processo seria.

O sinal apitou para que eu fosse ao estúdio, meu tempo estava esgotado. Mas antes eu precisava fazer uma coisa.

Você vai o-o quê?!

Sorri ao ouvir a voz asssustada de Sasori quando eu disse, por ligação, para que ele ligasse a TV que eu iria aparecer.

Vai logo, vai me assistir, tenho que ir. Tchau.

Desliguei, guardei o celular no bolso e fui correndo para o estúdio.

Eu estava nervoso, mas depois me acostumei com as luzes na minha cara e as perguntas, fui me familiarizando com a câmera e relaxei na cadeira, no fim tudo correu bem e eu consegui mandar o abraço para o Sasori.

—Você foi incrível! — o moreno sorriu pousando a mão sob o meu ombro e fazendo um legal com a mão. —Quer dar uma olhada na matéria?

A manchete era bem chamativa, li a matéria pelo seu notebook:

Eu estava tão satisfeito com o resultado e fiquei mais ainda com as ligações de museus famosos nacionais pedindo que eu enviasse esculturas, dessa vez eu iria ser pago, e bem pago!

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Eu estava tão satisfeito com o resultado e fiquei mais ainda com as ligações de museus famosos nacionais pedindo que eu enviasse esculturas, dessa vez eu iria ser pago, e bem pago!

Mas toda aquela felicidade não foi nada comparada ao que Sasori me causou com aquele jantar.

Estava tudo tão perfeito, ele havia feito tudo do jeito que eu gosto, a cada dia que passávamos juntos eu percebia que ele sempre fazia coisas que eu gosto, sempre reparava em detalhes e me incentivava nas minhas esculturas, como depois do incêndio em que eu fiquei bem pra baixo e ele sempre fazia questão de tentar me animar.

Ah, e por falar naquele incêndio...

Eu realmente fiquei surpreso com o fato de que ele havia, por alguma razão, vindo até o shopping me socorrer, mesmo que eu não tivesse avisado-o, foi como ele estivesse interligado a mim e soubesse que eu estava em prantos. Aquela noite que eu percebi que por trás daquelas feições frias e aquele jeito rígido, existia um coração preocupado com alguém que ele mal conhecia ainda.

E a forma que ele cuidou e se preocupou comigo era tão única, que me fez até suprimir a dor nas costas que o colchão da sala me causava só para dormir ao seu lado.

O cheiro dele me viciou, dormir do lado de alguém que me fazia tão bem me viciou, e desde aquela noite eu passei a sequer lembrar da dor das costas, só me importava que ao fim do dia eu pudesse sentir-o perto de mim.

Talvez não foi um erro ter alugado o apartamento no mesmo dia e hora que Sasori, eu me convencia a cada instante ao seu lado que não poderia existir melhor coincidência.

Ele era o melhor acaso que o destino me preparou.

Como eu era antes de você - SasodeiOnde histórias criam vida. Descubra agora