NO MEIO DO CAMINHO

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Passamos por um caminho chão de terra. A poeira pairando sobre nós. O lugar estava isolado, parecia que não morava ninguém. De repente o céu começou a se fechar, com nuvens densas, e negras, não esperou muito para que chovesse. O tempo foi passando e cada vez mais a chuva engrossava. Ligamos o para-brisa, mas quase não enxergávamos nada pela frente, foi então que o carro começou a andar lento, pensamos que fosse a gasolina que estava acabando, mas não, o carro estava ficando atolado em um lamaçal. Aceleramos mais uma vez, mas foi em vão, não conseguíamos sair do lugar.

— Droga! — Disse John.

— Como saímos daqui? — Tentando achar alguma solução.

— Espera, vamos fazer o seguinte; eu vou empurrar o carro e você pisa no freio. — Disse ele.

— Está bem. — Concordei. 

John desceu do carro, mas graças a Deus a chuva havia cessado. Ele empurrou o carro o máximo que pôde, e quanto mais eu pisava no freio mais aterrado ficávamos. E pra piorar, quando fui olhar pelo retrovisor, John estava todo sujo de lama. Não me aguentei e comecei a rir.

— Haha! Desculpe amor, mas não foi minha culpa.

— Claro que foi, quer ver o que eu vou fazer com a senhorita?

— Ah não, John!

Ele abriu a porta do carro e me pegou; me colocou entre os ombros, eu não sabia se ria ou gritava, me sentou no chão pegando a lama e passando em meu rosto.

— Cretino! —disse eu, sorrindo. — Você me paga John.

Até aí estava tudo bem, estávamos nos divertindo. Fiquei imaginando como seria melhor se nossa filha estivesse por perto. Mas um  homem que aparentava ser bem velho apareceu e chamou nossa atenção; ficou parado nos olhando. Nos colocamos de pé, e ficamos esperando o que ele ia dizer.

— Oi, eu vi o carro de vocês de longe. Eu moro aqui perto, se quiserem ajuda com o carro...

— Oh sim! Precisamos, — Disse John. — Mas...

— Eu posso ajudar! — Disse o homem.

— É... qual o seu o nome? — Disse John desconfiado.

— Desculpe não me apresentar, me chamo Filer. Se quiserem passar a noite, moro aqui perto a uns 5 minutos. Posso ver o carro de vocês amanhã de manhã. Está chovendo muito e não dá pra consertar, fora que está escuro.

— Tem razão. — Disse John.

Olhei pra John, não tínhamos muita opção, era ficar ali sob perigo ou ir com aquele homem que nos ofereceu ajuda.

— Venham, não precisa ter medo. É seguro!

****

Bem vindos à minha casa. Não é grande coisa, mas dá pra vocês descansarem. Eu vou pegar uma toalha pra vocês.

— Obrigada. — Disse eu, olhando ao redor. Não tinha muita coisa, apenas ferramentas jogadas. Ficamos na sala mesmo.

— Aqui está. — Me dando uma xícara de café e a toalha.

— Obrigada. — Disse.

E deu outra toalha para John que o agradeceu.

— E o que vocês estavam fazendo por essas bandas? Sabe que por aqui é perigoso.

— Perigoso, perigoso como? – Indaguei curiosa.

— Ah, roubo, assassinato...

Meu semblante logo mudou e ele percebeu.

— Calma, tem policiamento por aqui. Mas não pode bobear. Como vocês estavam lá fora naquela chuva, isolados, sem proteção, poderiam ser roubados a qualquer momento.

— Obrigada pela ajuda senhor Filer.

— Que isso, só quis ajudar.

Mas por um momento minha mente se distraiu, e minha xícara caiu no chão. Fiquei parada olhando para os cacos de vidro. John olhou pra mim com aquele olhar: "não pense besteira, não pense no pior." Ele se abaixou, catou os cacos de vidro, e foi até a lixeira jogar fora.

— Eu não queria te assustar. Tá tudo bem moça? — Aquele senhor ficou tão preocupado.

— Tá tudo bem, só me distraí. — Dando de ombros, preocupada.

— Ah sim! —  Disse ele preocupado.

— Mas tomem cuidado quando forem andar por aqui.

— Está bem, obrigada mais uma vez. É muito gentil de sua parte.

— Vocês querem mais alguma coisa?

— Sim, onde vamos dormir? — Perguntei.

— Claro, cabeça minha! Eu tenho um quarto sobrando. É aqui nos fundos, podem vir.

Fomos atrás daquele senhor. Não tinha muito recurso, casa de pouca iluminação, mas ele nos atendeu tão bem que não poderíamos deixar de sermos gratos.

— Aqui está. Fiquem à vontade!

— Obrigada Senhor Filer.

— Qualquer coisa é só chamar. — Disse ele.

 Agradeci acenando com a cabeça.

Ele saiu. Fechamos a porta do quarto. Não tinha cama, apenas um colchão no chão, mas dava pra passar a noite.

— Clara? — Chamou John.

— Humm! — Voltando-me para ele.

— Só descansa. Amanhã de manhã vamos embora, está bem?

— Está bem. — Tentando disfarçar minha aflição.

O RAPTO DE ANAOnde histórias criam vida. Descubra agora