Cap.3 - Intragável

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02.03.2034

O príncipe com certeza era detestável, não tinha como negar. Estavam a pouco menos de dez minutos no mesmo carro, nem ao menos haviam trocado outras palavras senão as do jardim que, convenhamos, pré estabeleceu um clima nada favorável; Mas ainda sim, incontestável, não precisava de mais confirmações para este fato. A presença dele era insuportável.

- Vocês parecem tensos - Arthur comentou, distraído. Encarava a paisagem pelo vidro escuro da janela, gostava de contemplar as montanhas ao redor dos reinos, o caminho era realmente bonito, campos com diversas flores e lagos extensos. - Aconteceu alguma coisa?

- Nã-

- Sim - O príncipe interrompeu com o olhar faceiro ao soltado. - Seu escolhido aí invadiu o jardim da minha mãe e destruiu as flores favoritas dela, mas não se preocupe... Eram apenas flores. - Sorriu por fim, amargo, e virou o corpo para a janela. Já estava aparentemente inquieto com toda a situação do ultimo dia, talvez não quisesse mais se estressar; Kaiser tentou compreender, mas sua impaciência já lhe batia a porta.

- Eu já pedi perdão, alteza. Não fazia ideia de que...

- Não quero suas desculpas, ponto final. - Mais uma vez interrompido. Como queria apenas poder dar um murro bem dado na boca do mais jovem, talvez assim ele aprendesse a respeitar os demais.

- Entendi... - O conselheiro desviou o olhar, agora um pouco perplexo, não era bom em resolver desavenças. - Então, acho melhor vocês se resolverem, sei lá, vocês vão ficar uns bons dias juntos.

- É, obrigado por lembrar Arthur, amo meu trabalho. - Mostrou os dentes em um sorriso forçado e caricato. Era óbvio sua insatisfação.

- Está convidado a ir embora, soldado - A voz do Jouki soou baixa, ainda estava virado para a estrada quase que fazendo pouco caso. - Não é como se eu estivesse adorando a ideia.

- Não é você que me contratou, foi o Rei, então enquanto eu estiver recebendo por isso pode acreditar, vou ser obrigado a te suportar... alteza.

- Ei, ei... Gente? - Cervero agitou os braços, não era possível começarem um bate boca ali, mal haviam se conhecido.

- Obrigado você certamente não é a nada, soldado! - Frisou a última palavra. Ele estava querendo colocar Kaiser em seu devido lugar? Como se o mostrasse que era superior? Ora mas que grande filho da...

- JÁ DEU!

Kaiser respirou pesado, retraiu os ombros e também se virou para o lado oposto, ignorando a presença aversiva do oriental enquanto mentalmente o xingava de todos os piores nomes que podia imaginar. Não entendia a raiva descontrolada que sentia por um desconhecido insignificante... bom, não tão insignificante, ele era o príncipe, mas ainda sim! Não deveria deixar suas emoções ultrapassarem os limites de sua razão.

- Obrigado, vocês ainda conseguem ser gentis. - O heterocromático sorriu mais relaxado e voltou a sua contemplação.

O moreno via o verde dos campos passando com certa velocidade, destorcidos, quase o trazendo uma sensação de náusea, mas segurou. A mente borbulhava em pensamentos bagunçados, ora sobre o príncipe que queria socar sentado ao seu lado, ora sobre como estava preocupado com os amigos que deixara no reino. Os ataques rebeldes cada vez mais fortes e o movimento de oposição ganhando cada vez mais força no Sul da cidade, estavam totalmente despreparados para um novo ataque e isso era o que mais temia; Samuel e Ivete - sua única família juntamente a Arthur - haviam ficado pra trás e se algo acontecesse enquanto estivesse fora seria impossível voltar de tão longe a tempo de salvá-los. O sentimento de desespero subiu até sua garganta sem que pudesse evitar, não podia mais perder ninguém... já bastava seu pai. Bufou irritadiço, se sentindo impotente por saber que não havia o que fazer além de confiar nos seus colegas do exército e torcer para terem tempo o suficiente para erguer barreiras contra os inimigos, até pensou em rezar... mas bom, sua fé já teve dias melhores.

O Príncipe e o Guerreiro - Joesar Au Onde histórias criam vida. Descubra agora