Cap. 7- Soldado

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12.03.2034

𝑅𝑒𝒾𝓃𝑜 𝒹𝑒 𝒯𝑒𝓃𝑒𝒷𝓇𝒶

 Era a nona ou décima mensagem que enviava sem êxito algum em receber uma resposta do pai. Estava a ponto de ir até a sala de Elizabeth para, imprudentemente, pedir que um mensageiro fosse pessoalmente até seu reino para que conseguissem qualquer esclarecimento. Faziam dez dias completos que sequer ouvia a voz do monarca. Já era anormal o suficiente um rei ''desaparecer'' sem sinal ou prévia nenhuma deixando seu reino nas mãos do destino, quem dirá uma relação entre pai e filho - não que tivessem a mais exemplar das relações, afinal, porém ainda sim era seu pai e o último membro de sua família. 

 Suspirou cansado enquanto observava o horizonte da janela extensa do corredor principal. O por do sol era extraordinário dali e ao menos a visão o fazia ter qualquer tipo torpe de esperança, se perdendo nos tons alaranjados e rosados que se estendiam por toda sua visão, como uma pintura detalhada. Divagando pensou que as nuvens pareciam sorvete e algodão doce e riu sozinho pela própria imaginação. 

 Sua rotina também o fazia se distrair por algumas horas. Além das reuniões constantes com o conselho real, as aulas de música e história o deixavam migrar seus pensamentos - pesados demais para suportar por um dia inteiro - para um esconderijo no fundo de sua cabeça. E claro, existia a presença regular de Kaiser, seu soldado guarda-costas não mais tão irritante. 

- Já está enlouquecendo sozinho, alteza? Rindo para o nada? - A voz meio rouca invadiu seus devaneios. A muralha humana estava encostada logo ao lado, onde a janela terminava, olhando para alguns quadros na parede oposta.

- Apenas pensado bobagens, soldado. - Deu de ombros com um leve sorriso. 

 A relação - se é que podiam chamar assim - que tinham criado com o passar lento dos dias, se tornou agradável naturalmente. As provocações constantes e tons ácidos eram parte fundamental de como tudo 'aquilo' funcionava; O dia costumava ficar minimamente mais leve com as brincadeiras e até mesmo quando decidiam chamar Arthur para jogar alguns jogos de tabuleiro para esquecer da tensão da realidade - ação que já ocorreu duas vezes na última semana -. Era divertido e com certeza muito melhor que passar cada segundo na presença um do outro tramando como seria a melhor forma de se socar. 

- Você ainda parece tenso. - Murmurou olhando de soslaio. 

- É tão visível assim? - Joui ainda não desviava o olhar do horizonte que, aos poucos, escurecia e ia perdendo aquele tom mágico de esperança, quase uma metáfora triste do que estava sendo a vida do nipônico.

- Um pouco? Na verdade você parece sempre tenso, alteza. - Desviou a atenção de uma grande foto de Elizabeth ainda pequena acompanhada de uma mulher de longos cabelos escuros e olhos grandes; Era muito bonita e apenas pode deduzir que aquela era a mãe da rainha. Agora caminhava calmamente até o menor, observando com atenção seu perfil esculpido em meio a luz alaranjada. 

 Kaiser se perguntava constantemente nos últimos dias se era possível reparar tanto em alguém como estava reparando no príncipe, se aquilo era ao menos aceitável. Se via agora num looping de dúvidas que não deveriam lhe perturbar tanto, porém era uma sensação estranha demais para apenas colocar sua cabeça no travesseiro e não se perder na diversas indagações. 

- Acharia difícil eu não estar... - Respirou fundo virando-se para captar os olhos negros e profundos do guarda. - Meu pai não dá sinal de vida e por mais que os ataques já tenham sido apaziguados por agora, é agonizante não ter mais nenhuma informação - puxou levemente os cabelos. Era tão óbvio sua exaustão que mal ligaria se sentissem pena de si. - Pode parecer besteira eu falando, eu nunca governei um reino e não imagino como deve estar sendo horrível para a Liz, mas ainda sim... Ai esquece, não sei mais o que tô' falando. 

O Príncipe e o Guerreiro - Joesar Au Onde histórias criam vida. Descubra agora