Recomeçando

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Por Thiago

Existe um momento onde você quer que tudo pare. Que as horas passem mais devagar, para que você consiga lidar com a dor no seu peito. Você se pergunta por que o dia está ensolarado, ou como as pessoas continuam vivendo suas vidas rindo, se divertindo, quando no seu peito um sentimento de perda te consome.

Eu não queria, mas precisei voltar até o hospital. Respirei fundo e tive que encarar tudo o que estava por vir. Sabe aqueles momentos em que seu cérebro entra no automático? E você passa a responder perguntas de maneira rápida e tomar decisões sem pensar muito? Tudo isso vem como uma forma de te impedir de sentir, e eu não sei o quanto isso é bom ou ruim.

Eu me sentia exausto, e ali em meio a pessoas que vinham até mim lamentando a perda, eu me sentia mais uma vez como um garotinho perdido. Alguns amigos de longa data da família compareceram ao funeral, assim como alguns dos meus amigos, e eu sentia o olhar deles em mim, buscando uma forma de se aproximar enquanto eu me mantinha afastado em um canto.

Mas eu queria ficar sozinho, ou ao menos ter tempo para entender tudo em minha mente. As pessoas a minha volta não sabiam como chegar até mim, e a maioria apenas desejavam pêsames. Por um momento minhas memórias vagaram até alguém que saberia bem o que fazer nesse momento, saberia o que falar para me acalmar, me envolveria em seus braços em um abraço acolhedor. Fechei os olhos exausto, respirando fundo enquanto as memórias e a saudade de uma garota ruiva também se misturavam a enxurrada de sentimentos que eu fugia no momento.

Sabia que os outros estavam ali desejando condolências, falando o quanto a minha mãe era uma pessoa querida e que partiu cedo demais, eu sabia de tudo isso, e ainda não entendia porque todos tinham que repetir aquilo.

Eu sabia o quanto ela era especial, o quanto gostava de ajudar aqueles a sua volta, eu sabia que ela sempre ficava preocupada quando eu entrava dentro de casa com uma bola de basquete. Sabia que assim como eu, ela adorava as noites na fogueira em nossos últimos dias na fazenda, e fazia daquele local o seu lugar de paz.

Sinto um nó se formar na minha garganta a medida que lembro do seu sorriso acolhedor, dos seus conselhos, até mesmo das broncas que me dava quando fazia algo de errado, lembro dos seus incentivos para que eu fosse mais aberto com os meus sentimentos. Lembro-me de um garotinho alheio a todos os problemas do mundo que gostava de correr pelos caminhos da fazenda enquanto os seus pais sorriam felizes observando o garoto, e aproveitando o momento calmo em família.

Aos poucos as pessoas começaram a se despedir, falavam mais algumas palavras vagas de apoio antes de balançarem a cabeça mais uma vez sem saber o que dizer em seguida, e então elas viravam as costas indo embora. Olhei para a lápide mais uma vez antes de fechar os olhos tentando segurar as lágrimas. Por que tudo tinha quer ser tão doloroso?

Senti uma mão em meu ombro e então me virei vendo um amigo que há bastante tempo eu não encontrava. Seu rosto estava sério, o que não é algo típico da sua personalidade, mas os seus olhos me analisavam e traziam até mesmo um pouco de compreensão.

Thiago: Só não me pergunta se eu estou bem – minha voz saiu rouca.

Luan: Eu não me atreveria a perguntar.

Ele parou ao meu lado e passou a olhar a lápide assim como eu. Ficamos em silêncio, não tinha o que ser dito, ou ninguém sabia o que precisava ser dito. Percebi o Jorge se aproximar, assim como a Mirella que trazia em seus braços o Pink Floyd. Olhei para o poodle rosa que desta vez parecia sentir a atmosfera pesada e me olhava com a cabeça inclinada tentando entender o que se passava.

Luan: Sei que andei um pouco sumido por esses tempos, mas achamos que não deveria ficar sozinho.

Desviei meu olhar para ele. Eu conhecia o Luan desde pequeno, costumávamos brincar juntos pelo quarteirão, mas com o tempo, os problemas e as constantes viagens do Luan acabamos não nos encontrando tanto nos últimos anos. Mas isso não me impedia de considerar ele um grande amigo.

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