Para Sempre

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Por Thiago

A vida pode ser uma verdadeira montanha-russa, cheia de altos e baixos, mas essa nunca me pareceu a definição perfeita para esse termo tão complexo. Acho que o mais perto de um bom significado para a vida veio a muito tempo atrás, de um autor que a minha mãe tanto gostava. Com o passar dos anos a definição usada por ele fez cada vez mais sentindo para mim.

"A vida é um piano. As teclas brancas representam a felicidade e as pretas a angústia. Com o passar do tempo você percebe que as teclas pretas também fazem música."

A vida não é marcada só por felicidade, existem coisas que podem te magoar, te ferir e deprimir, pois essa é a vida. Mas cometemos o erro de lidar com as coisas ruins de um jeito que só nos reprime mais ainda de ver a alegria em pequenos detalhes, e naquilo que nos faz querer viver. Quem somos hoje é um reflexo de tudo o que enfrentamos, as risadas ou as lágrimas, e tudo bem, porque todas essas coisas te levaram ao hoje e te permitem tocar a mais bela melodia.

A vida é um piano... E é inevitável não pensar em alguém quando isso vem em minha mente. A garota ruiva de franjinha ao piano, completamente perdida no mundo, mas mostrando ali, através das notas, todos os seus sentimentos.

Eu ainda não conseguia acreditar que ela estava de volta. As coisas pareciam tão certas com ela por perto, e o seu sorriso tímido com as perguntas dos outros moradores ainda fazia meu coração acelerar. Não tivemos muito tempo para conversar, mas ela pareceu se sentir mais a vontade. Durante o jantar a Ana desviava das perguntas do Pietro, então me olhava tentando mudar de assunto e eu a acompanhava em uma conversa louca sobre cores de poodles que ninguém entendia, mas seu sorriso nostálgico era o suficiente para mim.

Olhei para os papéis a minha frente, cocei os olhos já cansados, mas eu ainda tinha algumas coisas da república para resolver. A cozinha estava silenciosa, todos estavam dormindo, ou pelo menos eu achava isso, até perceber alguém na porta da cozinha me observando.

Thiago: Não está conseguindo dormir? – desviei meu olhar para a Ana.

Um sorriso automaticamente se moldou no meu rosto ao notar a sua presença, mas bastou ver os seus olhos aflitos que tudo mudou.

Thiago: Ana está tudo bem? – minha voz soou preocupada.

Ela olhou para mim, os braços cruzados envolta do corpo, o olhar aflito e cheio de receio. Ela abriu a boca algumas vezes buscando responder minha pergunta, mas sua voz não saiu, até que ela desistiu fechando os olhos e em seguida balançando a cabeça em negação.

Thiago: Ei... – levantei da cadeira indo até ela – O que aconteceu? É algo com a república? Não se sente confortável aqui? Se quiser eu posso...

Mas minhas palavras foram interrompidas quando a Ana avançou até mim, seus braços envolveram meu tronco e ela escondeu o rosto em meu peito. A envolvi em meus braços, eu podia não estar sabendo de tudo o que se passava em sua cabeça, mas podia sentir o seu medo.

Thiago: Ana – ela olhou para mim após se afastar do abraço – Quer conversar?

Ana: Acho que precisamos disso Thiago.

E ela estava certa, precisávamos entender tudo o que aconteceu. Muitas coisas podem acontecer em cinco anos, acontecimentos que deixam feridas, cicatrizes e que podem mexer com a sua essência. Mas lá no fundo ainda éramos o Thiago e a Ana, precisávamos entender um ao outro, e para isso era necessário falar sobre assuntos que machucavam. E de repente estávamos de volta em nosso abrigo em meio a tempestade.

A Ana sentou em uma das banquetas da cozinha enquanto eu buscava na geladeira a jarra de suco e a bandeja de bolo de cenoura. Ela olhou para os papéis sobre o balcão e pareceu tentar entender aquela mistura louca de números, mas seu rosto denunciou a confusão. Meus lábios puxaram um sorriso discreto, eu sabia bem como era isso, acontecia todas às vezes que eu olhava para as suas partituras.

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