Quase férias

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Por Ana

Seu olhar não carregava mais aquela dor que tanto o machucava, seu sorriso iluminava tudo e aquecia meu coração. Vê-lo tão leve e tranquilo me trazia uma paz que eu jamais pensei que sentiria. Desde o dia no cemitério o Thiago pareceu finalmente entender toda a confusão que a dor do luto trazia, e ao visitar o túmulo do pai ele finalmente enfrentou os problemas que ainda restavam, e lembrar não o machucava mais como antes.

As coisas estavam calmas, talvez não por muito tempo. A cada manhã que eu acordava a sensação ruim de não lembrar do passado ia diminuindo, ainda era sufocante, mas não como antes. Agora, depois de tantos meses, quando eu pensava em passado sempre me vinham memórias de momentos com a Laura, o Thiago e até com alguns dos seus amigos. Minha origem ainda era um mistério, mas eu aprendi a viver com as coisas boas que o universo trouxe até mim e com o tempo eu me vi sendo simplesmente Ana.

Eu ainda buscava informações sobre quem um dia fui, mas isso não me impedia de ser alguém hoje. Conseguir o trabalho como pianista no restaurante me fez sentir como se tivesse dado mais um passo em direção a uma vida normal. Quando falei com o Matheus ele ficou feliz ao saber que tinha pensado na proposta, e dois dias depois eu comecei a trabalhar no restaurante dos pais dele. Era um ambiente calmo, onde algumas famílias de alta classe se reunião para um jantar especial, ou executivos se encontravam para firmar contratos importantes, e para trazer uma boa trilha sonora de fundo os donos do lugar sempre optaram por uma boa música clássica, e esse era o meu trabalho. Eu não me importava em passar horas enfrente ao piano tocando, na maioria das vezes nem percebia o tempo passar.

Trabalhando lá eu acabei me aproximando mais do Matheus, ele sempre costuma passar pelo restaurante para ver se estava tudo bem. Ele parece ser uma pessoa legal, mas ficar em sua companhia não era algo totalmente relaxante, e não tinha como evitar não me sentir um pouco retraída com sua presença. Talvez isso se deve ao fato dele tentar força uma aproximação entre nós dois, sei que ele pode apenas estar tentando ser receptivo e que talvez seja algo dele, mas ainda assim, às vezes me deixa sem graça.

Eu estava na cozinha ajudando a Laura com a louça enquanto ela me contava como andavam as coisas em relação a Alana. Tudo parecia estar tranquilo, mas uma disputa judicial ainda acontecia, e muitas vezes deixava a Laura preocupada. Mas a sua preocupação não vinha apenas pelo receio de perder partes dos bens dos Kunst, mas ela tinha medo como tudo isso afetaria o Thiago e como a Alana era baixa ao ponto de fazer o possível para prejudica-los.

Laura: Ele está tão feliz – ela sorriu enxaguando mais um copo.

Ana: Eu percebi – ela me olhou enquanto me passava o copo para secar – Ele está mais leve, desde o dia que visitou o túmulo do Airton.

Laura: Não só isso – ela deu um leve sorriso – Ao visitar o túmulo do Airton ele final encarou o luto, mas não é de agora que ele está mais feliz – seu olhar intuito me olhava querendo dizer algo.

Ana: Você quer dizer que...

Laura: Que desde que você chegou ele está diferente, e a cada dia mais feliz. Eu já disse isso a ele e devo repetir para você, Ana – ela falou fechando a torneira – A conexão que vocês possuem é algo lindo. É belo ver como vocês dois são unidos e como estão sempre apoiando um ao outro.

Senti minhas bochechas ficarem vermelhas, mas eu sabia que isso era verdade. Nem mesmo eu conseguia entender a ligação que nós dois temos.

Laura: Sempre que ele está perto de você parece esquecer de tudo, e mesmo que as coisas estejam ruins é só você chegar que tudo parece melhorar para ele – senti um sorriso singelo se formar em meu rosto enquanto a Laura ainda me olhava.

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