Melodia

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Por Thiago

Como em muitas outras noites essa não foi diferente, o sono demorou a chegar, as paredes pareciam me sufocar trazendo as lembranças e com elas a dor da saudade. Peguei meus fones de ouvido e abri uma playlist qualquer no celular. Eu não estava prestando atenção na letra, talvez tenha sido por isso que ouvi o barulho destoando da melodia conhecida.

Puxei os fones mantendo meus ouvidos atentos para novos sons, a principio não houve nada, mas então um som abafado me fez ficar alerta. Abri a porta do quarto e o corredor encontrava-se escuro me fazendo imaginar que todos dormiam. Decidi ir até o andar de baixo para ter certeza de que estava tudo bem, mas ao passar em frente a sua porta escutei novamente o mesmo som.

Diferente da outra noite dessa vez eu não hesitei, não duvidei ou recuei, sabia que ela precisava de mim. Bati levemente na porta antes de abrir uma brecha, mas ao vê-la acabei entrando de vez no quarto buscando acalma-la. Ela respirava com dificuldade, e mantinha os olhos presos em um ponto cego na parede. Seu corpo inteiro tremia e as lágrimas desciam pelos seus olhos, mais uma vez ela tentou puxar o ar com força. Me aproximei com calma tentando chamar a sua atenção, mas ela pareceu não me escutar.

Ao lado da cama a jarra de vidro que estava com água encontrava-se no chão, espatifada em vários pedaços de vidro, provavelmente ela derrubou da mesinha de cabeceira e esse foi o barulho que eu escutei. Meus olhos voltaram para ela mais uma vez, e eu busquei desesperadamente alguma forma de acalma-la, a cada vez que ela tenta respirar eu sentia como se fosse o meu pulmão sendo pressionado. Eu tentei chama-la, mas ela não me ouvia. Não sabia se o certo seria me aproximar, mas quando ela levou a mão ao peito como se tentasse controlar a sua dor eu não me importei com a distância.

Thiago: Ei... – me aproximei tocando o seu braço.

Ela virou bruscamente em minha direção e aos poucos seus olhos pareceram focar em mim.

Thiago: Está tudo bem.

Tentei manter minha voz calma, não queria assusta-la mais ainda. Suas mãos ainda tremiam e eu não me contive em segura-las em uma tentativa de acalma-la.

Thiago: Só respira.

Dei um passo a frente me aproximando mais dela e então vi os seus olhos com clareza, estava tudo evidente, a confusão, o medo, a dor. Ela estava bem ali sem filtro nenhum, deixando todos os seus sentimentos serem expostos, mas era muita coisa para uma pessoa só. Eu só queria tirar todo esse peso dela, ela não merecia estar passando por isso, é só uma garota que precisa de ajuda. Quebrei a nossa distância a envolvendo nos meus braços. Eu não queria vê-la assim, não parecia certo que alguém passasse por tantas coisas.

Ela chorava livremente com a cabeça apoiada em meu peito, eu não sabia ao certo o que deveria fazer, mas continuei ali afagando suas costas tentando livra-la de tudo isso. Senti sua mão agarrar minha camisa com força, como se tivesse medo que a qualquer momento eu desaparecesse, como que tentasse se apegar a algo real, sólido. O estranho foi eu sentir meu coração apertar a cada soluço que o seu choro provocava, eu não a conhecia bem, mas sabia que as lágrimas não combinavam com ela, preferia ver seus sorrisos que pareciam lembranças distantes nesse momento. Mas se ela precisasse de ajuda para trilhar o caminho de volta eu a ajudaria.

xXx: Eu não quero ficar sozinha! – ela disse apertando minha camisa com mais força.

Sua voz estava tão carregada de angústia e medo, suas palavras me atingiram em cheio. Senti meus olhos ficarem úmidos ao perceber a verdade por trás do que foi dito. Ela estava se sentindo sozinha, e não é pra menos, acordou em um lugar estranho cercado por pessoas estranhas e sem lembrar de nada, apenas com um grande vazio na mente.

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