Sempre aqui

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Por Ana

As últimas notas soaram pela sala trazendo em seguida o silêncio reconfortante, assim como a melodia antes tocada. Eu não entendia de onde conhecia essa música, mas minhas mãos sabiam o caminho exato das teclas que tocadas davam vida a uma melodia incrível, que me fazia sentir saudade.

Fechei os olhos ao soltar um suspiro e tentei mandar embora aquela sensação ruim que vinha com a saudade, confusão e remorso sempre estavam a porta prestes a dominar minha mente. Do que eu sentia tanta falta? Por que essa música é capaz de mexer tanto com meus sentimentos?

Voltei a abrir os olhos e olhei para a bela vista da janela, o campo aberto que se estendia por toda a parte da frente da casa. O pasto verde que cada vez em que o vento sopra em direção a casa traz o aroma forte e gostoso, e ao canto a pequena horta que a Laura faz questão de cultivar. Eu tinha tanta sorte de tê-los encontrado, ou melhor, do Thiago ter me encontrado.

Eles me acolheram de verdade, todo esse tempo em que estou aqui a Laura fez questão de me tratar como uma filha, me oferecendo toda a ajuda que ela foi capaz de dar. E o Thiago, bom... Desde o primeiro momento percebi algo diferente nele, uma genuinidade e bondade verdadeira. Ele buscou se aproximar aos poucos, mas bastou eu olhar nos seus olhos para entender que podia confiar nele.

Com o decorrer dos dias começamos a passar mais tempo juntos e então percebi que assim como eu me sentia confortável em falar abertamente com o Thiago, ele também sentia o mesmo ao falar comigo. Às vezes eu escutava ele falar sobre as suas memórias felizes, mas em outros momentos eu percebia em seu rosto como hoje elas o machucam com a saudade. E então aos poucos me dei conta o quanto as lembranças são poderosas e podem mexer com a gente, sendo com o excesso delas, ou a falta.

O barulho de passos na escada chamou minha atenção e eu sorri ao ver o Thiago entrar na sala, mas foi seu passo apressado e seu rosto preocupado que fizeram meu sorriso sumir aos poucos e minha testa franzir.

Thiago: Que cheiro é esse? – ele me olhou preocupado.

Arregalei os olhos me dando conta do cheiro de queimado que vinha da cozinha. O Thiago percebeu meu olhar para o outro cômodo e começou a andar em direção a ele antes que eu levantasse do banco e corresse atrás dele.

Chegando na cozinha uma nuvem de fumaça saia de uma das panelas no fogão e eu só conseguia pensar na besteira que tinha acabado de fazer. O Thiago desligou o fogo rápido, pegou um pano na mesa o usando para segurar a panela antes de joga-la na pia e ligar a torneira fazendo o vapor d'agua subir.

Era só macarrão. Eu só estava tentando fazer um macarrão. Não era tão difícil! Eu ainda estava parada na porta da cozinha olhando de longe para a panela queimada dentro da pia, e o Thiago fazia o mesmo antes de olhar em minha direção. Achei que ele poderia estar irritado, afinal por pouco não toquei fogo na casa, mesmo que me custe admitir isso. Mas em vez de irritado ele tentava ao máximo segurar uma risada e parecer sério, o que não me ajudou muito fazendo minhas bochechas corarem.

Thiago: O que tinha na panela? – ele falou tentando controlar o humor na sua voz.

Cruzei os braços e desviei do seu olhar prendendo meus olhos em qualquer outro ponto da cozinha. Levou alguns segundos antes que eu finalmente respondesse pronta para o que estava por vir.

Ana: Água.

E então ele parou de disfarçar e começou a rir sem parar. Sua gargalhada tomou conta da cozinha e eu me aproximei da pia para ver o estrago.

Ana: Não tem graça Thiago.

Tinha graça sim, mas eu não admitiria meu fracasso na cozinha tão fácil assim. O Thiago limpou as lágrimas que vieram junto com a gargalhada e olhou mais uma vez para a panela e em seguida para a minha cara de derrota.

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