Apenas um garotinho

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Por Thiago

Ela não estava mais aqui.

Demorou um tempo para que meu coração percebesse que ela não voltaria...

Quando acordei senti que tinha algo de errado. Desci para tomar café da manhã encontrando apenas minha mãe sentada a mesa, imaginei que por ser final de semana a Ana teria arremessado o despertador contra a parede, como já fizera diversas vezes.

Subi as escadas indo em direção ao seu quarto, um sorriso surgiu em meu rosto ao imaginar uma Ana com cara de sono e brava por eu tê-la acordado. Eu só não esperava que minutos depois meu sorriso seria substituído por uma expressão preocupada, beirando o pânico. Suas coisas não estavam mais ali, as gavetas estavam vazias, as partituras que antes ficavam soltas em cima da mesinha agora faziam falta, como se o quarto não estivesse completo. Cada detalhe, cada coisa que me fazia lembrar a garota ruiva que muitas vezes fora o meu porto-seguro não estava mais ali. Era como se de repente a Ana fosse apenas uma lembrança.

Desci as escadas correndo, ao ver o meu estado minha mãe franziu a testa. Meu coração estava acelerado, preocupado, e meus olhos seguravam as lágrimas que ameaçavam vir. Eu não queria pensar no que aquilo significava.

Thiago: A Ana...

Laura: O que aconteceu? – ela levantou da cadeira e me perguntou preocupada.

Thiago: Não a viu hoje?

Laura: Não, achei que estivesse dormindo – ela se aproximou – O que aconteceu Thiago?

Thiago: As coisas dela não estão no quarto.

A expressão em seus olhos mudou, passou da preocupação para confusão, e então para uma leve tristeza que a fez soltar um suspiro. Eu não queria ter que entender o que aquilo significava, ela devia estar em algum lugar. Ela estava em algum lugar e logo voltaria.

Fui até a mesinha perto da porta e peguei as chaves do carro, não podia ficar parado. Alguma coisa aconteceu para ela fazer isso. Ela queria me contar alguma coisa ontem, talvez tenha haver com isso, mas o que ela queria me dizer?

Laura: Aonde vai? – ela perguntou ao me ver pegar as chaves.

Thiago: Procura-la – olhei em sua direção – Ela pode estar precisando da nossa ajuda – minha voz saiu embargada – Ela não estava bem ontem, mãe.

Laura: Querido – ela se aproximou calma e segurou minha mão – Eu sei que deve estar preocupado, eu também estou – disse olhando para mim – Não sabemos o que aconteceu, mas ir foi uma decisão dela.

Thiago: Mas e se ela estiver precisando de mim? – senti as primeiras lágrimas descerem pelo o meu rosto.

Laura: Eu conheço bem vocês dois. Sei que nesse momento ela deve estar precisando de você, mas por algum motivo decidiu enfrentar isso sozinha... E temos que respeitar isso.

Eu tentei entender, mas algo não fazia sentido. Nos dias que se passaram isso não saia da minha mente, o que teria acontecido de tão grave para fazê-la ir embora? Para fazê-la se afastar de todos? Lembrei da nossa promessa, do dia que a fizemos e ela me contou sobre o medo que tinha de ficar sozinha. Ao relembrar desse dia meu coração sempre apertava, ela estava com medo, em algum lugar desconhecido e eu não estava lá para ajuda-la.

Cheguei a procura-la algumas vezes, sempre que saia na rua eu prestava atenção nas pessoas por ali, torcendo para encontrar os seus olhos e entender finalmente o que se passava em sua mente. A casa ficou tão quieta de repente, era como se tivéssemos perdido alguém novamente, todos sentiam falta dela, até mesmo o Pink. O Jorge e a Mirella não sabiam de toda a sua história, mas ficaram tristes ao saber que ela foi embora. Não consegui dar muitas explicações, afinal nem eu compreendia, mas conte-lhes que ela precisou resolver algumas coisas de família e não sabia quando voltava. Se eles estranharam ou ficaram intrigados com a história deixaram isso de lado, eu não queria falar sobre isso.

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