Noite de filme

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Por Ana

Quando deixamos a fazenda pela manhã senti meu coração apertar domado pelo medo, mas respirei fundo repetindo para a minha mente que eu precisava enfrentar, me reerguer e continuar. De nada adiantaria passar o resto da minha vida na fazenda se até agora eu não tinha conseguido encontrar informações, de nada adiantaria ceder para a solidão e deixar a escuridão me corroer por dentro.

Eu precisava seguir enfrente para então ter forças para buscar o passado, assim como o Thiago me falou uma vez. Não valia a pena ficar presa em algo que não estava surtindo resultado, o vazio ainda estava lá, mas era o constante desgaste e decepção de não encontrar nada que tornava tudo pior. Talvez o melhor a se fazer no momento fosse preencher o vazio com novas lembranças.

Graças a Laura eu consegui embarcar para São Paulo com eles. Por não possuir nenhum documento foi necessário alegar para a companhia aérea perda de documentação, e a Laura entrou como a minha responsável durante a viagem. Tudo parecia estar sob controle, e eu me perguntei se poderia relaxar por um momento e não pensar em nada.

Lá de cima, no avião, ver as nuvens me trouxe uma onde de calmaria que infelizmente me abandonava em momentos de turbulência.

Thiago: Está tudo bem?

Ele tinha um sorriso de lado enquanto eu me mantinha quase como uma estátua na poltrona segurando firmemente no descanso de braços, não que isso fosse ajudar caso algo acontecesse com o avião. Tínhamos acabado de passar por mais uma turbulência e o Thiago continuava com o seu olhar calmo como se nada tivesse acontecido.

Ana: Não gosto de turbulência – olhei para ele.

Thiago: Com o tempo você se acostuma – ele falou calmo.

Ao perceber que meu estado de espírito ainda continuava alterado ele se remexeu na poltrona tirando um fone de ouvido do bolso. Conectou em seu mp3 e me entregou um dos fones.

Thiago: Música vai te fazer relaxar – ele sorriu gentilmente.

E ele estava certo, a música me acalmaria naquela situação. Quando passamos por mais uma turbulência e eu estava prestes a agarrar o descanso de braço mais uma vez ele me impediu, e em vez disso envolveu minha mão com a sua, me trazendo aquele conforto do seu toque que aos poucos vem se tornando familiar. Foi então que percebi que a música podia não ser o suficiente para me acalmar, mas ele sim.

Quando chegamos a São Paulo notei como tudo é diferente de como as coisas funcionam na fazenda. A tranquilidade tinha dado lugar a buzinas, carros, transito e várias pessoas correndo apressadas para sair de um lugar para chegar a outro.

A casa dos Kunst era realmente bela e grande. Apesar de mais luxuoso e grandioso, o lugar tinha o mesmo clima da fazenda, calmo e acolhedor, talvez isso seja algo próprio da família. A Laura me mostrou o quarto onde eu ficaria, ele era claro e quase todo branco, não pude deixar de compara-lo com minha mente e a grande tê-la branca que é ela.

Da janela do cômodo eu podia ver o grande jardim na parte de trás da casa, e durante várias noites eu me vi sentada em frente a janela admirando o céu sem estrelas. As luzes da cidade impedia que elas fossem vistas, mas eu sentia falta dos pontos brilhantes no céu, imaginei o quanto no quarto ao lado do meu elas também faziam falta para o Thiago.

As semanas foram passando e eu vi como as coisas funcionavam de uma maneira diferente ali. O Thiago logo voltou para a faculdade, onde ele cursa o primeiro ano de administração, a Laura frequentava algumas reuniões para resolver algumas coisas dos negócios da família e eu tentava me encaixar no meio de tudo isso. Tentava encontrar um novo rumo, e nas noites em que eu me perdia sempre encontrava uma mão estendida em minha direção disposta a me ajudar a voltar.

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