Capítulo 5

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Sakura On

Esfreguei meus braços tentando me aquecer, sentindo o vento gelado da noite penetrando na pequena fissura da caverna, tinha consigo apanhar alguns gravetos e tentar fazer uma fogueira, mas não consegui nem uma faísca se quer, minhas mãos ainda estavam molhadas e escorregadias, apenas consegui calos nos dedos e algumas farpas incômodas.

Quando falhei nessa pequena missão do fogo, tentei achar algumas das minhas coisas a beira da água, aproveitando o pouco de iluminação do fim do dia, mas apenas encontrei minha mochila estraçalhada em algumas pedras e o pergaminho vermelho que Tsunade tinha me dado, já era algo de útil a ser recolhido, mas comida e todo o resto estava perdido, a noite não demorou pra cair e fiquei ali, encolhida perto da parede da caverna, com apenas as roupas de baixo, já que tinha tirado minha blusa e meu short ensopado, na esperança que estivessem um pouco mais secas na manhã seguinte. Meus cabelos rosados estavam úmidos e quando respirava uma curta nuvem saia dos meus lábios, possivelmente roxos, sinalizando a temperatura daquele lugar, me encolho mais, apoiando minha cabeça na parede áspera, com os olhos pesados.

Estava tão cansada e dolorida, que não demoraria a cair no sono, que Kami Sama me permitisse passar por aquela noite fria, sem sofrer de hipotermia, tendo minhas últimas horas numa caverna escura e tenebrosa. "Somos forte, testudinha, vamos conseguir, resistência", sorri com a voz passada da Inner ecoando pela minha cabeça, junto com a dor que sentia a cada vez que me mexia.

— É, vaso ruim, não quebra — sussurro, abraçando meu corpo, fechando os olhos devagar, sendo levada pelo cansaço daquele dia desastroso, sentindo a pedra roçando minha bochecha, algo que não liguei.

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Barulho, coisas caindo na água, vozes ao longe, isso tudo me tirou do sono fúnebre de dentro da caverna, abrindo os olhos devagar, imaginando que estaria despertando na minha cama, em Konoha, com a casa quieta, com o único barulho vindo da rua, ocasionado pelas crianças que saiam pra escola. "Mas você não está em Konoha, sua loca!! Inimigo, acorda", pisco algumas vezes, processando tudo que a Inner gritava no fundo da minha cabeça. Meu kami! Gente, acorda Sakura.

Tentei me mexer, mas parecia algo difícil no momento, meu corpo ainda estava mole e dolorido, mal consegui levantar, dirá quando tentei ficar agachada, pegando minhas roupas, ainda molhadas, me vestindo o mais rápido que pude, peguei minhas poucas coisas e guardei tudo na bolsinha, rastejando pra entrada da caverna, utilizando a penumbra do lugar ao meu favor. A frente uma pedra deixava a entrada um pouco escondida, mas não era tanto, mas aproveitei pra ficar atrás dela, observando o que acontecia na Lagoa.

— Vamos Kiu, assim não vamos conseguir levar os baldes pra casa até a hora do almoço! — uma menina, um pouco mais baixa que eu, estava à beira da lagoa, com um balde de ferro em suas mãos, enquanto gritava com um menino, que nadava tranquilamente.

— Ah, Mina-nee, vem nadar um pouco, a água tá ótima! — estreitei os olhos, conseguindo distinguir a figura do jovem das ondas que o mesmo fazia quando se movia, seus cabelos eram negros e sua pele morena, não chutava nem 9 anos pra ele.

— Deixe de besteira e venha! Okaa-san vai brigar com a gente — Mina batia o pé, colocando o balde cheio de água do lado de seu corpo, enquanto colocava as mãos na cintura. Sua silhueta era de uma menina de 10 ou 11 anos, usava um kimono marrom, com uma faixa preta segurando o tecido, que tinha as mangas recolhidas por uma espécie de fio, tinha madeixas roxas bem intensas e pele alva, parecia uma aldeã comum, não me admiraria já que pela área tinha várias aldeias ou vilas pequenas, cabia perfeitamente que ambos fossem de alguém delas.

"Talvez não precise me preocupar, estaria segura se continuasse ali até eles irem embora e eu seguir meu caminho, mas não conseguiria ir tão longe assim, sem nada, com as roupas molhadas e com o estômago vazio, se não fosse morrer de fome, morreria de desidratação", penso, soltando um suspiro baixinho, me sentando atrás da pedra, esperando minha deixa de ir embora. Me sentia quente, poderia estar com febre por causa da noite fria, acho que foi isso que ajudou a não perceber alguém se aproximando de meu esconderijo, quando virei meu rosto dei de cara com uma mulher desconhecida, que usava um kimono largo e um short colado as pernas longas, suas madeixas eram roxas e com olhos vermelhos, que penetravam minha alma enquanto me olhava, com uma sobrancelha arqueada.

— Quem é você? — sua voz saiu arrastada, me encarando. Segurei a pedra, usando como apoio para levantar dali.

— E-eu... — dizer meu nome? Impossível, as aldeias datadas no mapa recebiam muitos ninjas e em grande parte eram de Konoha, falar meu nome seria muito arriscado. Inventa um Sakura! Agora — Naomi, Naomi Toga.

A mulher me encarou, se agachando, ficando a minha altura, colocando a mão na minha testa, sem pedir permissão, se eu fosse uma inimiga, estaria com a guarda baixa demais, então talvez ela não fosse ninja, só talvez...

— Esta com febre, Naomi, posso lhe chamar assim? — pisco algumas vezes, tentando entender a figura que parecia ter no máximo uns 16 anos.

— Eu...acabei pegando chuva, quando me perdi da minha caravana — inventei uma desculpa convincente, recebendo apenas um silêncio desconfortável.

— Kimi-chan! Nem vi você aí, já íamos levar a água para okaa-san — a garota se aproximou, conseguindo ouvir seus passos na areia da lagoa, assim como barulho de água sendo carregada. Quando me dei conta, a mesma me encarava — uma viajante! Nem tinha visto você aí.

Engulo o acúmulo de saliva da boca, me colocando em pé aos poucos — desculpe se não me apresentei quando os vi.

— Tudo bem! Mas você tá toda molhada, assim pode acabar pegando um resfriado, que nem o Kiu-kun, ele sempre cai na água com as roupas boas. Okaa-san sempre me briga por não cuidar dele direito, mas você, tenho certeza que vai ajudar e lhe dar roupas novas, né Kimi-chan?! — os olhos vermelhos da mais velha analisaram a mais nova, que sorria em sua direção, parecia que tinha sido vencida pelo brilho da garota.

— Sim.... — Kimi deu de ombros, pegando o balde que a menina tinha trazido, chamando o mais novo, que já saia da lagoa, balançando os cabelos para tirar o acúmulo de água.

— Vem! Vamos pra Vila — Mina pegou minha mão, me puxando pro mesmo caminho que Kimi ia, junto com o menino que ergueu uma sobrancelha assim que me viu. Parecia tão confuso quanto, nunca imaginaria que encontraria gente tão cedo, ainda mais nas montanhas.

Percorremos um caminho íngreme, a floresta se acabava aos poucos, dando lugar a pedra áspera, a mesma que tinha na caverna que tinha passado a noite. Um paredão se formava a medida que avançamos, como um túnel, que era fechado com folhagem de arbustos abundantes, advindo da floresta a cima, quase como uma cascata, pedindo passagem pelas rochas, que escondiam uma entrada na montanha, Kimi puxou os galhos, deixando Kiu, carregando um balde, que deveria estar mais vazio que cheio de água, logo depois foi a vez de Mina, que me puxava com força, e por fim eu, passando por Kimi, que me encarava ainda desconfiada.

Caminhamos por um túnel pedregoso, com o chão liso, da mesma pedra de lá atrás, no fundo do túnel um clarão me fez cerrar os olhos por uns segundos, enquanto as crianças passavam à minha frente. Quando voltei a ter uma boa visão, consegui distinguir onde estava, só era o lugar mais bonito que tinha visto na vida.

As casas ficavam em cima de níveis na pedra, que se formavam como num círculo, com escadas esculpidas da mesma fazendo o la,ho de locomoção; grama tomavam conta da maioria dos níveis, que tinham casas medianas e bem feitas, de madeira escura, quase se mesclando com algumas árvores, que seguravam a pedra com suas raízes grossas e imponentes, acima um buraco em forma desigual dava a luz do sol em dias quentes e a noite, em dias frios e brilhantes. No meio dos círculos, - contei 4 - um templo considerável emergia, de um jardim imensurável, que continha inúmeras flores, deixando o ambiente colorido e perfumado, ao redor do templo um pequeno riacho corria, mas suas águas turvas e a pedra íngremes me faziam crer que seu benefício não era sustentável pelos moradores daquela vila.

— Bonito né? — virei meu rosto, encarando Mina, que parecia empolgada — Bem vinda a Vila das flores!

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