Eu não entendia por que voltei a sonhar com aquele dia. Depois que tive alta no hospital, meus pais me levaram a um psicólogo. Meu pai queria me consertar e minha mãe queria que eu encontrasse uma forma de lidar com os pesadelos constantes que eu tinha desde minha alta.
TEPT. Foi fácil chegar a este diagnóstico, flashbacks, taquicardia, tonturas e dores constantes, o pior de tudo eram os pesadelos. Neles a minha pele parecia queimar mais intensamente que o normal.
A terapia cognitiva comportamental não me ajudou em nada, o psicólogo tentou me convencer que aquilo havia acontecido por que eu me coloquei naquela situação. Sua abordagem era tentar me convencer que a única forma de conseguir superar a sensação de queimação seria aceitar que a culpa era minha e que precisava deixar meus pecados queimar junto com a minha pele e renascer. Quase poético se não fosse totalmente homofóbico.
Não dei importância. Aproveitei cada consulta para anotar os nomes dos livros nas prateleiras e os estudava no meu quarto à noite. Comecei a anotar sobre meus sonhos, anotava sobre as sensações e os meus pensamentos, tudo que eu podia. Escrever se tornou minha terapia.
Eu nunca soube quem foi o rapaz que me salvou, nunca me contaram ,mas eu sabia que devia minha vida à ele. Talvez ter voltado naquela cidade tenha me levado naqueles velhos hábitos.
Fiquei no abraço gelado e acalentador até conseguir voltar a dormir, Shoto permaneceu com os olhos fechados assim como prometeu. Meus novos sonhos foram tranquilos. Pela manhã, o som do seu celular acordou nós dois. Shoto sentou na cama meio atordoado com o celular na mão. Aproveite para colocar uma camiseta.
—Shoto! Onde você está? — Uma voz feminina soou alarmada no celular dele.
—Oi, nee-san, eu já saí de casa, resolvi treinar mais cedo hoje.
—Por que você não me avisou?
—Não qui— te incomodar.
-Você vem para o almoço?
—Hmm, acho que não. Vou ficar fora o dia todo.
Depois de uma breve conversa, ele desligou e voltou a me abraçar, me deu um beijo na testa. Eu me espreguicei e deitei por cima dele, era confortável ficar apenas olhando seus olhos distintos, o azul e o cinza numa disputa silenciosa pela atenção, beleza e prioridade.
—Era sua irmã?
—Sim, Fuyumi. Ela se preocupa demais e piorou desde que a mamãe desapareceu.
—Que horas precisa ir para a faculdade?
—Pode parecer uma ideia prepotente mas...
—Mas? — Incentivei, já feliz com o que viria.
—Eu estava pensando — Shoto enrolou um pouco para falar, brincando com o cabelo na minha testa — Você estará ocupado hoje?
—Não muito, quero adiantar umas coisas do artigo, nada urgente.
—Hoje eu só tenho três aulas, matérias fáceis .
Shoto pareceu com dificuldades de dizer o que queria, sua atitude me fez sorrir antes de roubar um selinho dele.
—Você quer matar aula para ficar comigo?
—Se não te atrapalhar... Eu gosto de você, Izuku.
—Combinamos que seria casual — Disse um pouco alarmado.
—Não estou te pedindo em namoro nem nada, só que eu quero passar o máximo de tempo possível com você. Eu nunca contei a ninguém que sou gay porque ninguém aceita. Minha mãe não sabe sobre mim e a cada dia eu acho que ela nunca vai saber... Tem tanta coisa na minha cabeça, eu não posso nem lamentar porque essa cidade maldita não aceita.
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Cicatriz
Fanfiction"-Suas cicatrizes queimam, a minha formiga, dói. Mas quando você toca nela -A pele se acalma? -Sim -É o mesmo comigo - Disse antes de puxar seu rosto e voltar a sentir seus lábios frios e a língua febril aplacar meus incômodos" Midoriya Izuku é um j...