13

372 60 78
                                    

Uma manhã de céu limpo, azul tão puro quanto o olho azul de Shoto, nuvens brancas, tingidas de amarelo e laranja refletiam como um espelho na superfície serena e intacta do lago. Eu não sabia quanto tempo levaria para chegarmos lá, mas as ilhas pareciam pequenas do meu ponto de vista. Eu nunca estive num barco e estaria mentindo se dissesse que não estava um pouco ansioso.

—Tem certeza que você sabe pilotar essa coisa, né?

A coisa em questão era uma lancha branca com desenhos adesivos vermelhos e laranjas que lembravam labaredas. Deveria ter entre 40 ou 50 metros. Era novo, possivelmente caro e assustador.

—Você nunca velejou?

—Nunca, sou um grande fã do solo.

—Já viajou de avião?

—Não também.

Shoto virou o rosto, mas eu consegui ver o seu sorrisinho mesmo assim. Chutei sua perna por rir de mim, e isso só aumentou o seu sorriso.

—Vou te jogar dessa joça, Shoto! Você tem certeza que sabe pilotar esse treco?

—Sim, desde os 16 anos. E não é joça, gatinho. Essa lancha foi reformada este ano, a partir do primeiro barco do meu avô, ou bisavô, não tenho certeza.

—Quantos anos esse treco tem?

—Hm  — Ele pareceu fazer uma conta complicada - Não tenho certeza, mas acho que mais de cem.

—Acho que estou mudando de ideia.

—Não precisa Izuku, o casco foi todo reformado, o revestimento é novo e o motor é um dos melhores do mercado.

Me afastei dois passos antes dele me puxar para perto outra vez. Ele me segurou bem junto ao seu corpo e beijou minha testa.

—Você ficará seguro comigo. Izuku, prometo te proteger.

—Acho bom mesmo  — Falei com a voz irritada para mascarar minha preocupação.

—Estou feliz, vou ter uma primeira vez sua só para mim.

—Idiota.

Eu corei e escondi o rosto para que ele não me visse. Eu não diria que era feliz, continuava sentindo alguns sintomas do TEPT ao longo daqueles doze anos, a ansiedade e as emoções sempre me seguiram. Mergulhei de cabeça no meu trabalho. Cheguei longe e não me arrependo das noites sem dormir ou das dores de cabeça constantes. Meus artigos e minhas realizações se tornaram o centro do meu universo.

A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais*. Foi nisso que eu baseei toda a minha vida adulta, até agora. Apertei mais seu corpo contra o meu, esfregando o rosto na sua blusa macia. Como eu conseguiria ir embora quando o domingo chegasse?

—Você está pronto para irmos?

—Hã?! Sim, vamos lá.

Os raios de sol passaram a tingir o céu em tons amarelos, conforme ele subia mais no céu azul e o dia avançava. Shoto subiu na lancha primeiro e me ajudou a entrar na embarcação. A superfície do lago permaneceu parada até o momento que ele ligou o motor. A lancha tremeu e deu um tranco. Eu me agarrei nas barras de metal.



A lancha passava pela superfície da água com sutileza, quase não havia resistência. A sensação era até boa. Estávamos indo em um ritmo moderado e agradeci por aquilo, não sabia o que nos esperava naquela ilha inabitada, e não sabia como tocar no assunto sobre Toya. De repente o lenço no meu bolso parecia pesado.

CicatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora