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—Pode ser coincidência

—As chances são astronômicas, Shoto. Você mesmo viu. Ficamos mais de dez minutos vendo aquilo!

Estávamos de volta à casa dos meus pais.  Depois de nos secarmos, corri para o meu notebook e pesquisei sobre aquelas ilhotas. Bentenjima foi consagrada à deusa do matrimônio, Kannon-jima foi consagrada ao deus da economia e a maior delas Nakajima, com os parques e museus dedicados aos animais selvagens. De onde nós estávamos era possível ver Manju-jima. De lá vinha aquele sinal.

Não tinha nada de específico sobre aquela ilha. No período Meiji jindai o lago foi batizado com o nome Toya em homenagem aos ainu, que habitavam aquela região e não há mais nada sobre ela na internet.

—Eu vou lá — Disse resoluto, após esgotar minhas fontes de pesquisa.

—Como assim?

—Vou lá. Parece que tem um barco a vapor que leva turistas para visitar as ilhas todas as terças e quintas. Eu vou lá.

Shoto estava sentado na minha cama e eu estava confortável sentado no chão entre as pernas dele, com uma almofada no colo e o notebook. Seu rosto estava no meu ombro direito, ele lia tudo que eu pesquisava e anotava, mas estava ficando difícil me concentrar com o seu perfume de cedros e chocolate amargo tão perto.

—Mas esse barco apenas passa por elas, sua única parada é em Nakajima.

—Posso arrumar um barco ou talvez ir nadando. Não parece tão longe assim.

—Izuku, por acaso você sabe nadar? — Perguntou e beliscou minha bochecha.

—Consigo fazer um bom trabalho, sim.

—São quilômetros entre essas ilhas.

—E daí?

Ele mordeu minha bochecha com força e me fez grunhir um pouco irritado — Você não tem noção de limites.

—É parte do meu trabalho, aliás, você não está curioso?

—Nem um pouco.

—Está com medo? — Shoto não respondeu. Virei o rosto para trás e tive que rir dele — Não acredito que você está com medo de uma ilha deserta, Sho! 

—Eu estou com medo dessa linda cabeça cheia de ideias.

Ele cerrou os olhos para mim, se possível ficando ainda mais bonito  irritado. Fechei meu notebook e fiquei de joelhos na sua frente, os braços envolta do seu pescoço.

—Sua mãe sempre ia no parque por volta do entardecer, não é?

—Sim, depois de voltar do psicólogo.

—Ela chegou a comentar algo do tipo que vimos hoje?

—Não, ela mal falava comigo principalmente. Sou muito parecido com o Toya, então...

—E se ela viu o mesmo que nós? E se, no desespero diante da chance de ver seu filho perdido conseguiu um jeito de ir até lá?

—Isso não parece real, Izuku, e mesmo se fosse, deveríamos levar a polícia lá.

—Precisamos de provas, caso contrário eles não irão pedir um mandado de busca.

—Se nem a polícia iria, por que você quer ir?

—Jornalistas precisam ser mais corajosos que a polícia, algumas vezes.

—Eu vou com você — Ele disse depois de um tempo me olhando.

—Não precisa ir comigo, eu sei me cuidar.

—Eu vou, Izuku. Vamos na sexta de manhã.

—Sexta?

CicatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora