Isso foi há dois meses e cinco dias, para ser exata. Dois meses que eu me condenei ao meu inferno particular, chamado Forks, a cidade alienígena e insignificante na Península Olympic, a noroeste de Washington onde mais da metade do tempo o sol não aparece.
- BELLA! - escuto o grito de Sue, vindo do andar de baixo.
Não é a minha primeira vez morando aqui. Passei um ano com os meus avós no início do nono ano. Digamos que não foi a minha melhor estada em um lugar.
A porta do meu quarto é aberta após uma batida e a cabeça de Seth aparece. Seth tem cabelos negros, uma pele bronzeada e olhos puxados. Presidente Miau entra no quarto, enroscando-se em minhas pernas enquanto eu fecho o livro à minha frente com certa força.
- É melhor você descer. - ele diz, jogando-se na minha cama. Dou-lhe um tapa em sua barriga de fora. Ele resmunga de dor.
- Você tem muito fogo no rabo garoto. - resmungo.
- Eu sou tão quente que o meu corpo precisa mostrar isso.
- Com o seu suor nojento? - retruco - E é melhor você sair da minha cama. - digo. - Vai infestar minha cama com suas doenças. - ele me lança um sorriso sem mostrar os dentes
- Eu não tenho doenças mentais como você que já está estudando a essa hora. - diz, saindo o mais rápido possível do quarto.
Abro a porta branca do quarto para o closet. Tiro de lá uma calça jeans, regata preta, uma camisa rosa, jaqueta preta e meus all-star vermelhos. Visto-me rapidamente para, em seguida, pegar a mochila de um ombro só. Pego o livro de história que usei para estudar alguns minutos antes, guardo-o assim como meus óculos de leitura, que para a falar a verdade, eu mal usava.
Desço as escadas com o carpete velho para ir à pequena cozinha. Na mesa de quatro lugares, há Seth, vestido, devorando uma tigela de cereal enquanto mexe no celular. Eu abro a geladeira para pegar um iogurte. Nesse meio tempo, pego meu celular para checar as mensagens.
Hayley me dando bom dia, Charlie com fotos e várias no grupo da classe de 2020. Nada particularmente interessante. Sento-me na mesa, como o cereal junto do iogurte. Largo tudo na pia para encher um copo térmico com café. Eu não sobrevivo um dia sem essa bebida dos deuses. Cafeína tem que estar sempre em meu sangue.
- Bella. - Sue chama-me da rua. Pela janela da cozinha vejo-a conversando com Billy Black, ao seu lado está seu filho, Jacob Black. Resmungo baixo.
Largo o café na bancada da pia e caminho para fora da casa quente. O vento joga meus cabelos para trás e sinto uma leve garoa. Novidade! Sue põe as mãos nos meus olhos. Eu arqueio a sobrancelha.
- O que? - murmuro, quando ela pede para eu andar.
Caminhamos lentamente, porque 1: eu não enxergo nada e 2: eu podia escorregar facilmente na grama molhada. Paramos bruscamente. A voz de Sue está animada demais para o meu gosto.
Nesses dois meses pude perceber o quão previsível ela é. Está sempre animada, feliz, com um motivo para sorrir. É destrambelhada e esquecida, por isso tem mil e um bilhetes espalhados pela casa toda. Seth disse que aprendeu a viver com esse jeito alegre demais e que agora não o incomoda mais. Ele me chama de ranzinza por odiar isso.
Talvez eu esteja me tornando ranzinza. Esse lugar me deixa assim, infeliz.
- Pronta? - Sue guincha no meu ouvido.
- Eu nem sei para o que que deveria estar pronta.
- Ah, vamos! Está pronta?
- Claro. - respondo sarcasticamente. Suas mãos saem dos meus olhos e eu franzo a testa.

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Cartas para Bella
RomantizmUma simples carta romântica sem remetente dentro do armário de Isabella Swan muda sua vida da noite para o dia. Ela está disposta a achar seu correspondente secreto de qualquer jeito e perguntar-lhe o por quê. Por quê gostar logo dela? E por quê um...