-Cristina! Cristina Waters! - Diz Devin quase num sobressalto, que fez com que Chris se assustasse e desse um passo para trás.-C-c-Cristina? - Pergunta Miranda, seus olhos marejando ao lembrar daquela cena em sua cabeça: sua mãe sendo baleada no maior campeonato de dança de Seattle, talvez até do mundo!
-Sim! Cristina! - Diz Devin sem entender o porquê dos olhos de Miranda estarem marejados. - Porque a surpresa? - ele questiona.
-Cristina Waters era a mãe de Miranda! Os dois morreram no mesmo dia, na mesma hora e no mesmo local! - Diz Chris abraçando a amiga.
Surpreso, Devin olha para Miranda e dá um suspiro longo e triste; era nítida a tristeza em seus olhos ao lembrar da cena que não abalou só a sua vida, mas também a de Miranda. Ele caminha até ela e abre os braços numa tentativa de pedir um abraço.
-Posso? - Ele pergunta, olhando para ela. Ao sair do abraço de Chris, ela o olha meio relutante, mas se aproxima dele e o abraça, apertando sua cabeça no peito de Devin e deixando uma lágrima rolar rapidamente de seu rosto.
Era estranho, mas algo despertou em Devin, algo nunca visto antes, algo que ele nunca tinha sentido na vida: uma sensação boa e tranquila, uma sensação que ele não queria que acabasse de jeito nenhum. Infelizmente, foi interrompida quando o abraço de Miranda cessou.
-E então, podemos mudar de assunto? - Interrompe Chris, olhando para Miranda, que secava suas lágrimas enquanto fitava o chão. De repente, uma música preenche o vazio e o silêncio que reinava naquele lugar, dando início aos primeiros acordes de "Crystallize" de Lindsey Stirling. Miranda sentira o mesmo arrepio de sempre ao ouvir os primeiros acordes serenos e calmos daquela música, que ela tanto gosta justamente por ser uma das favoritas de sua mãe.
-Vamos! Está dentro! - Diz Miranda, ainda olhando para o chão. Cada lembrança ainda atormentava sua cabeça como se ela estivesse num loop onde todas as cenas daquela noite se repetissem inúmeras vezes: o momento exato em que uma bala de um calibre 38 perfurou o peito de sua mãe, que acabara de terminar seu número de dança com seu parceiro, à beira da vitória no maior concurso de Seattle. - Eu preciso de você como meu parceiro de dança. - Miranda, que antes fitava o chão de madeira de Carvalho americano, agora olhava nos olhos negros e profundos de Devin Phillips, como se de alguma forma estivesse tentando decifrar seus pensamentos, seu olhar, sua postura e tudo que de alguma forma pudesse indicar o que ele estava sentindo.
-Estou? - Ele pergunta.
-Está? - Rebate Chris, olhando-o surpreso.
-Sim! Eu gostei muito de cada detalhe da sua dança, a delicadeza, o amor, a simplicidade misturada com a rapidez, com uma leveza e muito mais! - Ela diz ao sair do mundo que ela mesma criou em sua cabeça.
-Legal, e quando começamos? - Ele questiona, olhando-a.
-Amanhã, hoje já está tarde, e eu ainda tenho alguns compromissos pessoais. - Ela responde, indo até sua mesa junto a Chris e pegando as folhas com nomes e dados de todos os candidatos. Ela olha as fotos de alguns dos desaprovados e suspira, jogando todos no lixo em seguida.
-Está bem, nos vemos amanhã então! - Ele se aproxima da mesma e estende a mão para cumprimentá-la, na esperança de que ela a pegue. Ao ver que sua ação foi retribuída, ele sorri quase que imediatamente e sai, deixando ela e seu amigo a sós.
-Até amanhã – Ela responde com a voz meio falha. – Te espero às onze! - Ela o olha pela última vez antes dele sumir pela cortina de seda pendurada na porta.
-Pode me dizer o que diabos acabou de acontecer aqui? - Pergunta Chris, olhando surpreso para a cena que acabara de presenciar.
-Ele não estava no dia da apresentação da minha mãe. Eu ainda não entendo o motivo dele ter se interessado tanto pela vaga e pela oportunidade de participar do concurso! - Ela o olha com uma feição misteriosa, da qual Chris nem de perto conseguiria decifrar. – Eu preciso descobrir o porquê dessa decisão tão surpreendente!
-Miranda, olha pra mim – ela o olha fixamente nos olhos. – Se ele quer participar de um concurso em que tem um prêmio de mais de um milhão de dólares em jogo, ele não precisa de motivos, você não acha? - Ele questiona, voltando sua atenção aos papéis de candidatos que faltavam.
-Tem sim! Eu sinto isso! - Rebate Miranda, seguindo o olhar de Chris e vendo os papéis. – Esquece esse pessoal que sobrou! Eu já achei o meu par para dançar! - Miranda só conseguia pensar no que de fato levaria Devin Phillips a querer vencer o maior concurso da história de Seattle, tendo em vista que a família do mesmo já é dona de uma das empresas mais bem-sucedidas da cidade.
Era estranho sentir aquilo e não poder desvendar esse mistério rapidamente à sua forma, pois a mesma mal conhecia Devin e não sabia quais seriam seus passos dali para frente. Ele poderia claramente ter algum propósito diferente do que fora proposto para o mesmo? Ele só queria mesmo dançar e mostrar ao público rico e soberbo de Seattle ao que veio? Ou ele teria alguma carta na manga preparada não só para o público, mas também para com Miranda? Essas e outras dúvidas só seriam respondidas com o tempo, e ela esperava que o mesmo ajudasse com todos os seus problemas. E ela não desistiria enquanto não descobrisse qual era o real propósito de Devin Phillips.
O dia passou rápido. Chris acabou indo para casa resolver alguns assuntos familiares, dos quais ele não pôde citar muitos detalhes à amiga, que estranhou a atitude do mesmo, mas logo entendeu que se tratava de um assunto particular e apenas desejou boa sorte para o amigo. Ele sorriu, deixando-a naquele imenso salão sozinha, apenas com a mesa cheia de papéis rasurados e amassados e uma caixa de som grande encostada num canto qualquer do salão. O que mais chamou a atenção de Miranda foi que, ao colocar no som a música "Beyond the Veil" de Lindsey Stirling, algo inesperado aconteceu. Enquanto ela dançava cada acorde da música com serenidade e leveza, sua mente pairava no ar, o arrepio era nítido em sua pele e o sangue corria rapidamente em suas veias, levando-a a um mundo totalmente diferente. Um mundo que emanava dança de cada rocha, cada grão de areia, cada gota d'água. Era um mundo que ela mesma criou, descobrindo como acessá-lo sozinha. Lá estava ela em Swingcity, seu mundo singelo e fora do plano terreno, feito especialmente para que todos os problemas do mundo desaparecessem. Era feito para que nenhuma lágrima que não fosse de felicidade habitasse tal lugar, um mundo repleto de novidades que ela estava mais do que feliz por ter descoberto. Era um lugar que ela adoraria explorar cada vez mais!
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No Compasso do Coração (Degustação)
RomansEla... Uma dançarina de mão cheia. Protege com unhas e dentes a ideia de que precisamos de pouco para ser feliz, adora curtir, fazer amizades e experimentar coisas novas, nunca teve sequer uma oportunidade de conhecer o amor verdadeiro, Miranda Wate...