A vida não estava sendo o mais agradável nos últimos dias, não que eu esteja propriamente reclamando, longe disso. Eu tenho saúde, um trabalho, uma matrícula na faculdade e um lar. Não é justo que eu me queixe de algo.
Mas Gabriel tinha que abalar toda a minha estabilidade emocional.
O fim do relacionamento de 2 anos não foi nada amigável. Cheguei de surpresa na sua casa, estava indo levar donuts para ele, já que o mesmo enviou mensagem avisando que não poderíamos ir a festa de aniversário da minha colega, porque ele estava com uma horrível e insuportável dor de cabeça. Fui mimá-lo, até porque relacionamos necessitam desse tipo de atenção.
Adentrei pelo seu prédio sem ser anunciada, já que Silas, o porteiro, me conhece e sabe que passo mais os finais de semana por aqui do que na minha própria casa. Cheguei na porta de seu apartamento e usei a chave que ficava comigo, sim, tínhamos esse tipo de intimidade.
Apenas a luz fraca de seu quarto era vista pelo ambiente, acho que ele está dormindo e esqueceu o abajur ligado, dores de cabeça às vezes nos derrubam a esse ponto. Entretanto, assim que me sentei no sofá, ouvi um barulho estranho vindo de seu quarto, algo como um suspiro forte e intenso. Meus pés foram mais rápidos que meu cérebro e quando eu adentrei o local ele estava lá, com uma garota em seu colo.
Eu poderia dar mais detalhes dessa cena, como a falta de roupas de ambos e o som que reverberava por todo o espaço, mas acredito que eu estaria sendo desagradável. Um sorriso se colocou no meu rosto ao lembrar do que veio a seguir.
Comecei a bater palmas, como se aquilo que eu presenciava se tratasse de um espetáculo. Ganhei a atenção de ambos e notei que era Amanda, uma companheira de faculdade, que já disse admirar o meu relacionamento com Gabriel.
- Um belo show - eu disse sorrindo para eles.
- Mari, espera - pude ouvir sua voz atrás de mim.
- Eu não quero saber de nada Gabriel, o que eu vi já foi o suficiente - eu falei calma, não iria demonstrar a ele o caos que se formava dentro de mim, ele não merecia toda essa moral.
- Deixa eu explicar - ele pedia, ele sabia que era idiotice tentar fazer isso, mas ainda assim insistia.
- Não - eu respondi olhando em seus olhos - acabou... - eu tirei a minha aliança e coloquei em cima da mesa, peguei a caixa de donuts e sai pela porta.
Eu até ouvi um murmúrio ou outro, mas achei, pelo bem da minha dignidade, ignorar.
...
Nesse momento eu estava no bar da boate, encarando o whiskey que eu havia pedido e me lembrando do fatídico dia de ontem. É claro que eu estava abalada, eu considerava impossível alguém na minha situação não estar, mas eu não queria demonstrar. Eu não queria ser a corna fraca, já basta eu ter que ser a corna.
- O que houve? - uma voz masculina me chamou a atenção e eu olhei para o lado, encarando o homem que se aproximava de mim.
Não podia negar que ele era bem atraente, chamava atenção de quem estava a sua volta, uma beleza natural.
- Dia ruim - respondi sem mais detalhes.
- Está sozinha? - ele perguntou apontando para o banco ao meu lado e eu assenti - posso me sentar?
- Claro - eu respondi educadamente.
- Oh amigão, vê um whiskey - ele pediu para o barman e me encarou - se você não tomar vai ficar ruim - ele apontou para o meu copo.
- Não estou habituada com bebida forte - eu confessei.
- Então você teve um dia bem ruim mesmo - ele concluiu - mas se você já teve o dia ruim, ainda vai jogar dinheiro fora com a bebida cara?
- Se eu beber isso vou começar a falar meus problemas para o primeiro que aparecer aqui - me expliquei e o barman colocou a bebida na frente do desconhecido gato.
- Parece que o 'primeiro que aparecer aqui' já está presente, agora só falta você beber - ele sugeriu.
- Tudo bem, só não fique triste por mim - eu avisei descontraída e brindamos.
O líquido desceu pela minha garganta e eu conseguia sentir o alto teor alcoólico que possuía.
- E então? - ele me encarava, a espera de que eu iniciasse a narrativa.
- Traição... - eu respondi - depois de dois anos de relacionamento, a trouxa estava indo mimar o namoradinho doente e se deparou com um chifre bem grande na testa - falei.
- Poxa, aí é ruim mesmo - ele concordou - mas pelo menos agora você sabe quem ele realmente é.
- É - eu assenti e bebi um pouco mais - e você, está sozinho? - perguntei.
- Vim com uns amigos - ele disse sem mais detalhes.
- E você acha interessante passar o tempo ouvindo lamentações de estranhas? - peguei o último gole do meu whisky.
- Agora seu dinheiro não será desperdiçado - ele apontou para o copo - confesso que é a primeira vez que faço isso, é uma experiência interessante.
- Hm... - eu passava os dedos envolta do copo, evitando um excesso de contato visual com o cara ao meu lado - quem sabe um dia eu passe por isso para descobrir se é interessante.
- Não que minha vida esteja tão ruim quanto a sua, mas ando com uns problemas no trabalho - ele comentou, talvez eu perceber que não sou a única com problemas me ajudasse.
- Vamos começar a competição de desgraça... - anunciei descontraída - o que está dando errado no seu trabalho?
- Agradar os outros - ele comentou - tem sido uma tarefa bem complicada.
- Chefe chato? - perguntei.
- Não, mas exigente - ele explicou.
- Ah... você trabalha com o que? - perguntei o encarando.
- Acho que temos coisas mais interessantes para falar do que sobre o meu trabalho - ele sugeriu.
- Realmente, falar com uma desconhecida já é ruim, ainda falar do trabalho que te dá dores de cabeça... Foi mal - eu falei levantando as mãos como rendição e ele riu do meu ato.
- Relaxa, eu também te fiz falar de algo não muito agradável - ele pontuou - mas posso te perguntar uma
coisa?- Claro - eu falei e apontei para o barman me trazer uma água, já me sentia mais leve por causa do álcool.
- O que você fez depois de pegar os dois no ato? - ele estava curioso.
- Bati palmas - falei imediatamente - não que o show fosse digno delas, porque não era - deixei claro - mas eu não queria demonstrar qualquer fraqueza.
- E ele? - ele queria que eu continuasse.
- Veio atrás de mim e eu avisei que tudo estava acabado - expliquei - peguei os donuts que eu havia comprado e comi eles sozinha em casa.
- Eu faria o mesmo - ele respondeu sorrindo e eu bebi a água.
Ficamos cerca de um minuto nos encarando, eu não sei o que ele reparava em mim, mas eu analisava alguns detalhes de seu rosto, me pareceu familiar, porém o álcool e a falta de luz da boate não me ajudavam a o reconhecer.
- Você mexe a boca de um jeito engraçado - ele quebrou o nosso silêncio e eu levantei uma de minhas sobrancelhas - é como se você estivesse concentrada, você puxou o seu lábio... - ele tentava se explicar e eu o interrompi.
- Está preocupado com a minha boca? - perguntei direta.
- E se eu estivesse? - ele respondeu com outra pergunta e um sorriso travesso preencheu os meus lábios.
- Então eu acho que você deveria calar a boca - o meu recado foi dado e eu precisava de poucos segundos para perceber se ele havia entendido.
E a resposta foi positiva, a sua mão se posicionou próxima ao meu pescoço, nos aproximando. Nossos lábios se tocaram delicadamente e ele tomou a iniciativa do beijo. Seus movimentos era dóceis e delicados, instigando a minha curiosidade, que queria descobrir ainda mais sobre esse novo desconhecido.
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Postei e sai correndo, rs.
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positions - Diego Costa [short]
FanfictionO amor é imprevisível e, por isso, temos que estar atentos. Você pode o encontrar inesperadamente e demorar para se dar conta de que sim, ele está presente. Mariana está quebrada e sem muitas esperanças, a insegurança já se tornou seu sobrenome de...