Capítulo Três

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Duke Knight

A loira maluca deve ter entendido minha pergunta como um convite porque logo depois tive que assistir embasbacado ela passar por mim e entrar na minha casa como se fossemos velhos conhecidos. O xingamento que estava na ponta da língua desapareceu assim que minha atenção caiu sobre o jeito que ela balançava o quadril ao andar. 

Hipnotizante, assim como da última vez. 

Foi por isso que, ao invés de expulsá-la, vi-me seguindo-a, ou melhor, seguindo o rastro do seu perfume até a cozinha. Como se eu fosse algum tipo de filhotinho seguindo sua dona. Como a merda de um filhote! Imagino o que Hunter diria se me visse naquele momento. 

Tentando não pensar em o quanto a minha masculinidade estava sendo afetada, entrei na cozinha. Minha vizinha estava mexendo nas gavetas. Ela estava tão à vontade que por um segundo cheguei a pensar que eu era o intruso na casa. Não gostava disso. 

- O que exatamente você pensa que está fazendo? – perguntei, cruzando os braços. 

Ela deu um pulo e depois um pequeno gritinho por ter acertado a mão no puxador da gaveta. 

- Você me assustou! – franziu o cenho, apontando-me acusadoramente a faca que segurava em uma das mãos. 

Arqueei a sobrancelha. Loirinha petulante. Arrogante demais para quem não chegava nem no meu ombro. 

- Dizem que só aqueles que estão fazendo coisas erradas se assustam. 

- Só estava procurando uma faca – corou, abaixando o objeto. – Para cortar a torta. 

- Por quê? 

- Porque eu quero comer a torta. 

Essa estava sendo possivelmente a conversa mais esquisita que já tive em muito tempo. 

- Se você queria comer a torta, por que não ficou na sua casa? – falei, o mais gelado possível e apontei o dedo para a porta. 

- Mas a torta é para você – abriu um sorriso enorme, ignorando minha indireta. 

Revirei os olhos. Uma abordagem mais direta então. 

- Ótimo. Pode deixá-la aí. Depois eu corto. 

Reid levantou a cabeça e olhou para mim por um segundo antes de começar a rir. 

- Você é engraçado – voltou a se concentrar em fazer cortes metódicos na sobremesa. 

Reprimi o ímpeto de jogar as mãos para o alto em frustração. Ou ela simplesmente não entendia que eu não queria companhia ou eu estava perdendo minha voz de comando. Tive vontade de soletrar esse desejo de solidão, mas o cavalheiro que minha mãe me criara para ser evitou que as palavras saíssem. Vencido, puxei uma das cadeiras e me sentei. Talvez se a deixasse fazer o que diabos veio fazer, ela fosse embora mais rápido. 

- Meu nome é Ravenna Reid – falou, colocando um prato com um generoso pedaço de torta na minha frente e se sentando na cadeira ao lado. 

- Você já disse – nem mesmo tentei disfarçar o tédio. 

Peguei a colher que acompanhava o prato e tirei um pedaço da torta. Não era porque a mulher era irritante que iria renegar sua comida - ainda mais quando parecia ser uma cópia perfeita daquele que era um dos meus pratos favoritos antes de eu ir para o Afeganistão. Antes, contudo, que pudesse levar a colher à boca, sua mão pousou em meu antebraço. Meus olhos fixaram-se nos dela e pude ver seu sorriso sumir e uma expressão de dor surgir no lugar dela. Só então percebi que em um reflexo, minha mão livre tinha se fechado ao redor do pulso dela. Horrorizado, soltei-a como se me queimasse. 

BlackbirdOnde histórias criam vida. Descubra agora