Capítulo Sete

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- Olha, quando eu disse que vocês deveriam fazer alguma coisa com essa tensão sexual, eu não estava querendo dizer que você deveria convertê-la em energia para trabalhar para ele. – Ava franziu o cenho, suas palavras tão lentas e espaçadas que tive a certeza de que ela pensava estar falando com uma criança de cinco anos. 

Revirei os olhos. 

- Isso não tem nada a ver com essa sua ideia maluca de que existe tesão entre Knight e eu. 

- Minha ideia maluca? – riu, jogando o cabelo para trás com a mão direita. - Reid, por favor, não insulte sua própria inteligência tentando desqualificar minha genialidade. Vocês dois geram tanta frustração sexual quando estão juntos que fica difícil respirar. E como é que não existe tesão? Querida, ele nem é meu tipo, mas o tesão que ele me causa seria o suficiente para dar vergonha em alguns dos mais vorazes apreciadores do sexo. 

Franzi o cenho, não gostando nem um pouco daquele comentário. A fim de ponderar melhor sobre o que iria responder, decidi tomar mais um gole da minha bebida. Não queria impulsivamente reprimi-la por ficar desejando Knight. Sabia que aquele puxão de orelha não seria uma boa ideia, afinal, o último impulso que tive havia me levado a bater na porta da Appleby's antes de ir para o consultório. Queria tomar um café e conversar com minha amiga sobre os eventos de ontem e isso resultou em mais um papo muito estranho. E, antes disso, meus impulsos haviam me levado à porta de Knight e às ações que haviam se tornado o foco do assunto que capturava a atenção de Ava agora. Ou seja, concluímos – e isso sem muito esforço – que meus impulsos estavam me levando a lugares que definitivamente deveria evitar e à pessoas que aparentemente se divertiam muito às minhas custas. 

Abaixei minha caneca, aproveitando que Appebly estava de costas para mim, ainda terminando de ajeitar os cupcakes nas vitrines para os clientes que chegariam assim que a confeitaria fosse aberta dentro de meia-hora. Aquilo gerou tempo suficiente para que eu acalmasse minha língua e a sensação ruim que suas palavras sobre como Knight era gostoso haviam me causado. Nada pessoal, é claro. Eu só não gostava quando alguém se referia a outras pessoas como se ela fosse um pedaço de carne exposto para apreciação. Minha mente cansada, de sono e de preocupações, quase não registrou a hipocrisia presente em meu último pensamento, afinal, eu não tinha vergonha nenhum de apreciar a escultura incrível que o corpo do meu vizinho era. Com todos aqueles músculos e aquele cabelo que parecia se-

- Hey, Rave! – um estalar de dedos bem na frente dos meus olhos fez com que eu voltasse ao mundo real. 

- Isso foi muito rude – empurrei sua mão para longe de mim. 

- Rude é deixar os outros falando sozinho – colocou a mão na cintura. – Isso tudo é porque eu disse que seu macho é gostoso? 

Arregalei os olhos. 

- Primeiro, ele não é meu macho. E, segundo, o que há de errado com você hoje? Está acrescentando sexo a tudo. Acho que é você que está com problemas para transar ultimamente. 

Esperava alguma negação indignada e fervorosa, mas Ava se limitou a dar de ombros. Inclinei-me para frente, muito mais interessada no assunto agora. 

- Espera um pouco. Isso aí foi uma admissão de que você está sexualmente frustrada? 

- Não exatamente – começou a ajeitar os copos de bebida para viagem agora que havia terminado o mostruário. – Afinal, não sou completamente inútil, não é mesmo? Mas, às vezes, eu... – ficou em silêncio por um segundo a mais do que o necessário – às vezes sinto falta de uma companhia masculina. 

Analisei minha amiga do topo de seus cabelos muito pretos até seus pés cobertos por práticas sapatilhas beges. Ela parecia uma boneca de porcelana. Não conseguia entender como conseguir companhia poderia ser difícil para ela, e foi isso que vocalizei. Avalon parou o que estava fazendo, virou o rosto para mim e, por um segundo, minha melhor amiga sempre sorridente e com uma piadinha pronta na língua desapareceu por completo. Em seu lugar, havia uma jovem moça com os olhos tristes de quem já havia visto muito da vida e que não apreciara nenhuma daquelas visões. 

BlackbirdOnde histórias criam vida. Descubra agora