Capítulo Quinze

27.6K 1.6K 260
                                    

Mantive minha atenção no mural vermelho ao longe, minha mente a quilômetros dali. Sabia que não deveria ficar dissecando aqueles momentos, mas era forte demais. Cada ação da noite anterior ficava repassando repetidas vezes em frente aos meus olhos como um filme quente, muito quente.
Até mesmo aquela simples palavra me causava arrepios. Talvez nunca mais fosse ser capaz de usá-la sem lembrar de como Duke havia sussurrado em meu ouvido. 

"Quente e duro". 

E fora exatamente como prometera.

Quente o suficiente para me deixar meio louca.

Quente o suficiente para queimar minhas mãos até mesmo agora. Quente como se realmente estivesse me queimando. Quente como...

- Aí! - pulei para trás, sacudindo as mãos. - Que porra...?

Olhei para o balcão e para a caneca sobre ele antes de levantar o olhar e encontrar Avalon me olhando como se um fosse uma alienígena. 

- O que você está fazendo, Rave? - falou cada palavra tão devagar que tive a certeza de que ela estava a um passo de me internar em algum lugar para tirarem um raio X da minha cabeça.

- O quê? - obviamente minha resposta genial não estava ajudando meu caso. 

Isso sem contar que eu ainda sacudia as mãos e soprava as palmas em busca de algum alívio. 

- Acho que você perdeu os poucos parafusos que ainda funcionavam aí - bateu o dedo indicador na própria testa, olhando-me significativamente.

- Mas é o quê? - franzi o cenho, ainda tentando entender o porquê de minhas mãos estarem tão vermelhas.

Agora minha melhor amiga me olhava com uma mistura de incredulidade e preocupação.

- Não tive notícias suas desde antes de ontem. Nada de histórias sobre como Esparta tombou - sacudiu o dedo indicador, gesticulando sem parar. - Então, hoje você chegou aqui como um robô, sentou-se aí com esse olhar meio vidrado e só se mexeu para colocar as mãos ao redor do copo de cappuccino, que, obviamente estava fervendo. E agora, só para deixar as coisas um pouquinho menos esquisitas - arqueou a sobrancelha ironicamente - fica me olhando como se tivesse que te explicar o porquê de suas mãos estarem queimando. Aliás, que droga é essa? Você poderia ter tido uma queimadura de, no mínimo, segundo grau. Tem noção de como essas coisas doem?

- Não, não sei como doem - finalmente parei de sacudir as mãos, decidindo que seria mais efetivo apoiá-las sobre o balcão gelado. - Mas estão doendo agora, mesmo não tendo sido queimaduras de segundo grau - imitei seu tom condescendente. - E por que você não me avisou que estava me entregando essa coisa pelando? 

Ava revirou os olhos. 

- Eu avisei. Três vezes. Mas você 'tava ocupada demais encarando o nada com um sorriso idiota para ouvir o aviso ou qualquer das cinco vezes que te chamei. 

- Não seja idiota. Você não me chamou cinco vezes. 

Chamou? 

- Tanto faz, Rave - colocou alguns potes sobre o balcão e abriu a máquina de bebidas quentes. - O mínimo que você poderia fazer depois de quase ter me queimado ao pular desse jeito e quase virar o copo em mim, era me contar o porquê desse seu sorriso bobão. 

Em um segundo todas as memórias da noite anterior voltaram com tanta força que tive que me agarrar ao autocontrole para não suspirar alto. Precisava aprender a me conter ou teria que começar a andar com uma calcinha extra na bolsa. 

Pigarreei, olhando para os lados, quase como se temesse que Ava pudesse ver em meu rosto como cada detalhe sórdido que passava por meus olhos, como um filme, fazia com que eu me sentisse cada vez mais excitada. 

BlackbirdOnde histórias criam vida. Descubra agora