Capítulo Doze

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- Ajuda! Me ajuda! Avalon, pelo amor de Deus, me salve! – engasguei nas palavras depois de me jogar contra a porta de entrada de vidro da Appleby's e quase não conseguir abri-la. 

A confeitaria estava vazia por ainda faltar meia-hora para o horário de abrir, então felizmente fui a única a que viu minha melhor amiga de cerca de um metro e meio, surgir da cozinha empunhando de maneira ameaçadora uma faca enorme, suas feições de boneca contorcidas em concentração e medo. 

- Onde, onde aquele desgraçado está? Eu o mato! Dessa vez eu o mato! 

Estaquei no lugar, completamente atônita pela intensidade da raiva em sua voz. Todos os pensamentos sobre minha fuga desapareceram completamente frente a Appleby interpretando Jason em toda sua versão assassina.

- Ava... o que...? 

Ela levou dez segundos inteiros para parar seus passos decididos, olhar para os lados mais uma vez e piscar com força. Só então, e finalmente então, consegui reconhecer a pessoa que me olhava de volta. Seus olhos voltaram ao brilho gentil de sempre. 

- Rave? Está tudo bem? Eu pensei que... – seu olhar varreu todo o cômodo, as palavras diminuindo de volume - por um segundo pensei que... 

- Pensou o quê? – falei, a mão no peito para recuperar meu fôlego.

- Ora, sei lá – colocou a faca sobre o balcão e pude ver que suas mãos estavam trêmulas quando ajeitou o cabelo. – Que você estava sendo morta. 

- Sério? – cruzei os braços, minhas palavras ainda saindo fracas graças a falta de fôlego. – E seu primeiro instinto é pegar uma faca? O que você faria com isso aí? Esfaquear meu possível assassino para limpar a honra da família Reid? 

- Você é mal agradecida pra caramba, sabia? – franziu o cenho, indignada. – Aparece aqui correndo e gritando como uma histérica e quer que eu reaja como exatamente? 

- Chamar a emergência, é óbvio! – abri os braços em um gesto de descrença. 

Ava revirou os olhos, soltou um muxoxo zombeteiro e abaixou sua atenção para começar a empilhar as embalagens dos produtos para viagem. 

- Sinto ter que lhe dizer isso, Rave, mas a polícia não é uma entidade onisciente que salva todo mundo. Aliás, eles são bem falhos. 

Ok. Levei aquilo como uma ofensa pessoal. 

- O que você quer dizer com isso, hein? – dei alguns passos em direção ao balcão. – Spencer é do FBI e ele me disse que n-

- Spencer é um cara, um! – bateu no balcão a caixa retangular que segurava, fazendo com que eu pulasse de susto no lugar. - Ele não é a força de segurança inteira. 

- Ava – murmurei, baixinho, dando mais um passo em sua direção. – O que voc-AI, droga! – pelo canto do olho vi a razão pela qual havia buscado abrigo pela primeira vez do outro lado das portas de vidro. 

Vasculhei o lugar rápido e não pensei duas vezes antes de passar pela portinhola de entrada e me esconder embaixo do balcão na única parte vazia que havia ali. Estava basicamente encostada nas pernas de minha melhor amiga. Levantei a cabeça e a encontrei olhando para baixo, para mim, completamente chocada. Sua boca estava até meio aberta e seus olhos, arregalados. 

- Rave, eu já passei por muita coisa nessa amizade, mas essa é definitivamente a mais esquisita que já vi você fazer. Por que diabos você está encolhida embaixo do meu balcão? 

- Shiiu! – falei, urgente, abanando as mãos para baixo e aproveitando o tempo para tentar normalizar minha respiração. – Ele vai te ouvir, ele está vindo. 

BlackbirdOnde histórias criam vida. Descubra agora