No Friends

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Cadmium - No Friends

Autora ''pov''

Para o senhor Veríssimo, parecia que havia sido a melhor escolha colocar duas adolescentes trabalhando juntas. Tinha resolvido dois problemas. O primeiro era deixar Agatha sem supervisão, esperava que a novata fosse mais responsável que a adolescente rebelde. E o segundo problema era que não fazia ideia de onde colocar a menina trabalhando antes. Pensou em deixar ela com Kaiser mas duvidava que o homem se daria bem com ela, ambos eram quietos demais e o Cohen já tinha muita coisa a fazer por conta de estar programando e melhorando C.R.I.S.
Deixando ambas juntas poderia ao menos pedir para Arthur também ficar de olho já que o Cervero era o  único amigo de Agatha e gostava da presença dela.

Claro que tudo não foi mil maravilhas, Agatha discordou fervorosamente da decisão, já a mais nova aceitou de bom grado e com curiosidade ao saber que a morena trabalha mais com coisas Esoterrorista, e também trabalhar com alguém da sua idade era algo confortador. E isso nos leva a algumas horas depois naquele mesmo dia.

Agatha andava de um lado para o outro em sua sala pegando coisas de um canto e levando a outro, tentando organizar um pouco o local para que a menina tivesse um lugar para trabalhar. Já a novata estava encostada do lado da porta, observando a mais alta andar de um lado ao outro com objetos estranhos nas mãos, ela podia não ser muito sociável, mas via que a nova colega estava incomodada por agora ter uma companheira no trabalho e na mesma sala.

- Hey, pirralha! - Agatha gritou chamando a atenção da mais baixa. - Fica ali, e não encosta em nada! - A mais nova olhou na direção que ela apontava, vendo no canto do balcão ao lado da parede um pequeno espaço com uma cadeira agora livre de seus objetos amaldiçoados. Foi o único lugar que consegui limpar.

De sua bolsa, a nova integrante da Ordem tirou um laptop e uma pasta. Sua mente estava um pouco longe e apenas agora havia notado algo enquanto abria o computador e colocava sua senha. Ao fazer isso, virou o rosto novamente na direção da outra, vendo Agatha agora com um livro em mãos, encostada na mesma mesa longa. Parecendo estar concentrada demais para notar o olhar nada discreto da morena, que notava cada detalhe em si, seus sapatos vermelhos, sua calça despojada preta que parecia não ser nada nova, sua camiseta vermelha, não viu o colete de antes e agora aquela blusa tinha mangas, era diferente do que havia visto quando viu ela pela primeira vez e achou que era um homem. Ao notar que a olhava descaradamente voltou os olhos ao computador onde precisava da senha do wi-fi.

Aquele silêncio incomodava as duas por dentro, sentiam uma sensação estranha como se tivessem que começar a conversar imediatamente. Agatha podia dizer que se sentia incomodada? Sentia as mãos suando mais que o normal e a estranha necessidade de se aproximar da outra em uma conversa amigável, mas também tinha receio, não eram todos da ordem que gostavam dela e por pelo menos uma vez não queria que alguém lhe odiasse de primeira. Tinha uma garota da sua idade ali, deveriam ser amigas, certo? Não era essa a regra padrão adolescente ou algo assim?

- Charlotte… - Murmurou aleatoriamente a de cabelos castanhos, chamando a atenção de Agatha que não entendeu o nome ser solto do nada. Havia demorado tanto que a garota havia notado seu nervosismo e começado a conversa? Talvez, e isso a deixava confusa. Ao ver que Agatha não se pronunciou então apenas continuou, tentando quebrar aquele clima bizarro.- Meu nome. Eu não tinha falado antes. - Continuou dando de ombros, e tentando mais uma vez colocar uma senha aleatória.

Dando uma leve espiada no livro uma última vez, Agatha ponderou se deveria mesmo fazer o que estava pensando, valia mesmo a pena? Por que estava se importando tanto com uma menina qualquer que nem conhecia? Com certeza ela não  sabia dizer, mas não iria machucar se tentasse.

- Parece nome de cachorro. - Dando de ombros se aproximou vendo que Charlotte tinha problemas com o wii-fi.

Após algumas tentativas, Charlotte viu o computador ser tirado de sua frente e levemente sendo arrastado para o lado por uma mão completamente tatuada. A viu se inclinar sobre a mesa e rapidamente teclando colocou a senha do wi-fi. Com um sorriso no rosto Agatha devolveu o computador onde estava antes.

- Já fiz uma coisa pra você, se o velho perguntar, diz que eu 'tô ajudando! - Sua voz podia estar um pouco descontraída mas no fundo queria mesmo que alguém uma vez na vida não falasse mal dela para o Verissimo.

- Obrigado de novo, Agatha. - Sussurrou de volta enquanto entrava no navegador do computador procurando algo enquanto sorria.

[...]

Pelo resto do dia, ambas as adolescentes começaram lentamente a desenvolver uma conversa. Charlotte havia notado que qualquer coisa que perguntava sobre aqueles objetos amaldiçoados da sala faziam Agatha se animar, não deixava de rir com o sotaque engraçado do Sul que ela tinha e aos poucos ela mesma deixava a timidez de lado e conversava como se já fossem íntimas.

Agatha não se acanhou ao contar sobre a história de cada objeto que tinha. Cada maldição que explicava via a mais nova anotar tudo em seu computador. Por incrível que parecesse, gostou de  alguém além de Arthur escutar o que ela tinha pra falar por tanto tempo.

- Ou, você quer transcender? - Perguntou após explicar sobre o último cristal que ela tinha na sala. Esperava realmente uma resposta positiva, mas viu Charlotte torcer o nariz enquanto fazia uma leve careta acenando negativamente com a cabeça. - Ah... então quer ir comer? Sempre tem pipoca na sala do Kaiser.

- E ele sempre divide a pipoca com você? - Perguntou enquanto fechava o computador e se virava para Agatha, começando a segui-la para fora da sala.

- Não, eu só pego mesmo. - Respondeu e ouviu um riso tímido atrás de si.

Enquanto saíam da sala conversando, a mais baixa não podia deixar de passar os olhos novamente por aquele livro que Agatha lia antes, a capa era laranja de forma chamativa e as letras douradas eram grandes dando para se ler bem o título. "A arte de fazer amigos". Se lembrava que no início o leu, e o quão complicado foi para si e aquele livro apenas piorou tudo, as dicas eram vagas e não ajudaram em nada.

Talvez futuramente se alguém perguntasse o porquê começou a falar com Agatha poderia dizer que foi pelo livro, mas no fundo ela saberia que não era verdade, e talvez até assumisse que desde o início a garota alta, cheia de tatuagens e com poses de bad boy, tinha sido a primeira garota a chamar sua atenção.

Continua....

All the Things She SaidOnde histórias criam vida. Descubra agora