Capítulo 4 - Corra

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Eu dava rápidas passadas com os patins, se um radar medisse a minha velocidade era certo deu ser multado. Toda aquela pressa me permitiu agora vislumbrar de longe o borrão que o Renato se tornara.

Durante o percurso à minha casa, pude pensar melhor no que tinha acontecido. Agora eu gostava de homens? Eu sempre gostei de homens? Mas ontem eu não era gay. Deus! Eram tantas perguntas, eu estava surtando.

Eu chegara a portaria do meu prédio e sem nem mesmo tirar os patins adentrei ao elevador e porteiro me praguejou de longe.

Eu chegara até o apartamento e só tinha dado conta do quão tarde era por conta da ausência de luz solar. Sentei no sofá para tirar os patins e depois caminhei só de meias para o meu quarto. Eu tinha aberto a porta e me deparei com a sua silhueta.

Ela estava de costas e eu aproveitaria para poder sair de novo. Com muita calma eu tentara fechar a porta, mas a infeliz fez o favor de ranger e chamar a atenção da minha mãe.

- Indo a algum lugar? - ela indagou.

- Eu... eu... estava indo buscar os meus patins que deixei na sala. - pensei rápido.

- Então me acompanhe que iremos conversar na sala. - dito isso, passou por mim e eu a acompanhei até a sala, onde sentei no sofá de frente a ela.

- A que devo a honra da visita? - disse brincando.

- Você não faz idéia né? Então deixa eu refrescar a sua memória. - disse em um tom ameaçador. - Você foi expulso de outra escola e bem no início do semestre. Você tem idéia da dor de cabeça que é ter que te transferir de escola toda hora? - eu a observava calado, enquanto ela ia de um lado ao outro e dando continuidade ao seu sermão. - Você não deu outra alternativa.

- Quer dizer que eu vou estudar em casa? - ela gargalhou debochando.

- Isso seria fácil de mais. Você vai para um internato.

- O quê?! - ela só podia estar brincando, então gargalhei em resposta.

- Vai rindo. Depois você vai chorar. - e se retirou batendo com força a porta do apartamento.

Aquela mulher não tinha nem um pouco de compaixão. Como ela poderia me jogar em um internato? Já estava imaginando o tipinho de almofadinhas que eu ia ter que lidar todo santo dia.

A noite chegara e eu estava estático, já havia esquecido esse papo todo de internato minha atenção estava paro o louco que me beijara na praça. Seus olhos, sua boca, sua mão, ele não saia da minha cabeça. Por que eu tive que sai daquele jeito? E ainda dei meu nome falso, vai ficar bem difícil dele me encontrar desse jeito.

Eram 7h e meu relógio despertava, eu não sei se estava imaginando coisas, mas podia jurar que meu quarto havia sido revirado. Minhas gavetas se encontravam entreabertas e tinha uma boa quantidade de roupas espalhadas pelo cômodo. Será que eu fui assaltado? Bem, o ladrão ia se ferrar, para um mauricinho eu me vestia feito um mendigo. Sempre optei por roupas confortáveis e fáceis de se tirar, nunca liguei para marcas ou grifes, só queria me sentir bem. Um falatório vindo da sala me despertou do devaneio.

Eu levantara, e bem devagar ia abrindo a porta e mais uma vez, a infeliz havia me denunciado. Meus pais pais me fitavam em silêncio e aos poucos me aproximava para a mesa do café que já se encontrava posta.

- Bom dia! - eu desejei e sem esperar uma resposta disparei. - acho que roubaram as minhas roupas. - meus pais trocaram um olhar e depois se juntaram à mesa.

- Filho, você não foi assaltado, suas roupas estão mala. - disse meu pai com calma.

- Vocês vão mesmo levar pra frente esse plano de me mandarem para um internato?

- Seu vôo decola hoje. - respondeu a minha mãe ríspida.

- Não vêem a hora de estarem livres de mim né? - perguntei sendo dramático.

Era oficial: eu estava de mudanças.

O aeroporto aqui do Rio de Janeiro era como um hospital público, nunca estava vazio e a correria nunca cessava. Meus pais nem fizeram questão de me esperar embarcar, me largaram aqui, no meio da multidão.

Pessoas normais costumam odiar o aeroporto por simplesmente ser um lugar cheio e repleto de movimentos, mas eu amava, ficava parado admirando cada indivíduo e detalhes da arquitetura do local.

Eu estava viajando e a voz de uma moça soando no alto falante me despertou, era hora de embarcar.

Ouvir música fez com que a viagem para o Sul se tornasse mais rápida, não durou muito e eu já estava em outro aeroporto a espera de minha bagagem. Não demorou tanto e logo pude visualizar uma mala de verde cintilante.

Foi um sacrifício retirá-la da esteira, conferi a hora no meu relógio e constatei que se não corresse perderia o ônibus para a "prisão". Não pensei duas vezes, segurei firme na mala e com pressa a arrastei ao longo do aeroporto.

Não importava o local, aeroportos eram sempre iguais: abarrotados de pessoas correndo, e dessa vez eu era uma delas. Não era nada fácil desviar de cada uma delas, a minha pressa era tanta que não pude notar a mala enorme bem na minha frente, fechei os olhos pois o tombo seria feio.

O tombo foi o suficiente para chamar a atenção de todos no local, o idiota que havia largado a mala no caminho se virou e estendeu a mão para me levantar. Eu não pude acreditar no que estava vendo, meus olhos só podiam estar mentindo para mim.

- Você de novo? Devia arrumar óculos. - disse Renato no instante em que me ergueu do chão.
- A culpa é totalmente sua! - cuspi a resposta.
- Nunca te disseram que não se deve correr em aeroportos? - ele me provocou.
- Certamente eu esqueci o manual das regras no meu assento. - respondi sarcástico.
- Bem, parece que o destino está tentando nos juntar. - ele sorriu.
- Você deve estar achando tudo isso muito engraçado, ta me seguindo por acaso?
- Não mesmo Carlos, se esqueceu que eu moro aqui no Sul? - me questionou.
- As férias acabaram?
- Uma hora eu teria que voltar. - disse triste. - Bem, já que nos vimos... - ele se aproximou.

Eu sabia o que iria acontecer em seguida e deve ser por isso que não o impedi. Nossos lábios de atraíram feito ímã, sua língua explorava cada canto de minha boca e suas mãos desciam por minhas costas de encontro a minha bunda.

Aquilo parecia surreal, meu coração transbordava adrenalina e mais uma vez a moça no alto falante me despertou. Eu o empurrei com pressa, olhei o relógio (vou perder o ônibus), e da mesma forma que cheguei (aos tropeços), eu saí.

Desculpe-me a demora em postar, as coisas estão um pouco corridas em minha vida. Espero que estejam gostando da história e não esqueçam de favoritar e comentar.
Trilha do capítulo: Fifth Harmony - Sledgehammer

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