- Mas como isso seria possível?
- Não sei, pode ser um aviso. Os sartanos não possuem nenhum poder, somente Caleb, mas ninguém conhece os dele.
- E se falarmos com Francesco? Podemos avisar sobre isso e...
- Não! - Kleen protesta - Não confio nele.
- Vai ser difícil lutar em uma guerra quando não se confia no próprio rei, né?
Kleen fica de cara fechada pelo restante do dia enquanto eu treinava meus poderes, tentando me aperfeiçoar cada vez mais.
Voltamos para casa já ao entardecer, e para nossa surpresa, Estela ainda não havia chegado.
Sentamos no sofá e a inquietação de Kleen me contagiava.- Celeste, eu tô preocupado com a Estela. Ela não é de sair por tanto tempo, disse que só faria algumas compras, mas já se passou quase um dia inteiro e ela ainda não chegou.
- Para de exagerar, Kleen. Ela deve estar bem.
- Exagero? Você não entende nada, não sabe de nada, não faz ideia do quão perigosos são esses tempos em que estamos vivendo aqui. Estela é minha família, se eu perdê-la, não sei do que sou capaz.
- Desculpa, eu não sei de nada, é verdade mesmo, mas você precisa parar de ser tão pessimista, cara. Nem sempre as coisas são ruins.
- Eu prefiro ser pessimista pra não quebrar a cara depois.
Kleen me deixa sozinha na sala, batendo a porta do quarto ao entrar no mesmo.
Naquela sala, havia apenas uma TV triangular com um raque ao lado, tendo também um porta-retrato sobre ele no qual nunca reparei. A foto que estava ali era de duas crianças no colo de seus pais, eu supunha.
Pela cor dos cabelos e olhos, acreditava ser Kleen e Estela.A família ali aparentava estar tão feliz, isso me fez lembrar da infância, antes do nascimento de Cristal.
Pego o objeto para observar melhor a foto, e ainda com aquela sensação de tristeza, uma lágrima escorre por meu rosto.Na mesma hora, a porta da sala se abre, revelando a chegada de Estela.
- Celeste, o que está fazendo?
Desesperada em colocá-lo no lugar, deixo-o cair sem querer, e os cacos de vidro se espalham pelo chão do cômodo.
- M-me desculpa, eu não queria... - digo me atropelando nas palavras enquanto recolhia os cacos. - Eu só estava olhando.
- Tudo bem, tudo bem, fica tranquila, - ela se aproxima para me ajudar a recolher os pedaços do que antes era o registro de uma lembrança - minha única preocupação é... Kleen! - ele aparece antes que ela termine a frase.
- Estela, onde você estava?? Você tem ideia de como fiquei preocupado??
- Perdão, - ela se levanta do chão, limpando sua roupa - fui até a casa de Anelye. Ninguém aguenta ficar 24h presa aqui, né?
- Poderia ter avisado, pelo menos. E Celeste, - seu olhar se direciona para mim, que ainda estava no chão - o que aconteceu aqui?
Antes de responder, Kleen vê os cacos e a foto no chão, olhando em seguida para o raque.
- Esse porta-retrato era da minha mãe, e essa era minha foto preferida... Não acredito que você fez isso!
Peço desculpas novamente, e ao tentar juntar rapidamente o restante dos cacos, acabo me cortando. Faço uma careta em resposta a dor e as lágrimas começam a escorrer de meus olhos. Não pelo corte, mas por saber que, mesmo sem querer, quebrei algo de valor sentimental, e eu sabia bem como era sentir falta de alguém.
Kleen sai da casa e posso jurar que vi seus olhos se encherem d'água.
- Kleen, volta aqui! - Estela suspira ao chamá-lo, sem sucesso - Celeste, pode deixar que eu cuido daqui. - ela olha para minha mão que estava com um pouco de sangue - Vá lavar isso e eu irei preparar um remédio para tratar seu corte.
Fiz o que Estela havia pedido, me sentindo extremamente envergonhada pelo ocorrido. Eu não deveria ter mexido naquilo, não era da minha conta.
Terminei de limpar minha mão e voltei à cozinha. Ela preparava algo em uma tigelinha.
- Isso aqui é um remédio cujo efeito é imediato, serve para cortes e ferimentos desse tipo. - Estela diz enquanto mexia a mistura na tigela - Ei, não fique assim, não foi sua culpa, ok?
Eu estava chorando, e apesar de ter tentado disfarçar, não consegui. Eu era péssima em esconder emoções, às vezes.
- Eu não deveria ter mexido naquilo, imagino como era algo importante pra vocês. Sei bem como é sentir a ausência dos pais, mesmo que os meus ainda estejam vivos...
- Os seus pais terráqueos não te deram muita atenção depois que sua irmã nasceu, né?
- Sim... Como sabe?
- Eu sei de toda a sua vida. Bom, suas vidas.
Aquilo era impossível, eu não me lembrava de ter contado nada tão pessoal assim pra ela. Será que, assim que fui abduzida, eles pegaram informações da minha mente? Será que estiveram me observando durante todos esses anos?
- Tenho certeza que meus pais pediram para que vocês me abduzissem.
- É verdade, mas seus pais platequianos. - ela solta uma risadinha.
- É sério. Como você sabe de detalhes tão pessoais da minha vida?
- Está pronto! Veja, - Estela se aproxima com a tigela contendo algo pastoso e amarelado dentro. - este remédio é feito naturalmente com plantas daqui de Plateno. O chamamos de The Cure, igual a banda terráquea. Me dá sua mão.
Com relutância, fiz o que ela pediu. Delicadamente, Estela colocou a pasta sobre meu corte.
- Esperamos uns cinco minutos e depois lavamos com água.
Apenas assenti e aguardei.
- Estela, você acha que Caleb pode invadir sonhos ou que eu posso ter premonições apenas sonhando?
- Olha, nunca ouvi nada sobre a segunda opção, nenhum rei ou rainha daqui já teve esse poder. - ela explicou - Quanto aos poderes do Caleb, nós platequianos não sabemos de nada do tipo, mas também não duvido. Por que a pergunta?
Conto a ela sobre meu sonho, sobre a teoria de Kleen, e Estela também acha estranho que logo após a visita de Francesco à Sart, eu sonhe com coisas que mais pareciam premonições.
- Precisamos acelerar os treinamentos e tomar muito cuidado. Talvez não tenha nada a ver, talvez eles nem saibam que você está aqui, mas sempre é bom termos cautela.
Apenas aceno com a cabeça em positivo e vou até a pia retirar a pasta, após os cinco minutos.
- Incrível, eu já não sinto mais nenhuma dor e o corte sumiu, como isso é possível? - questiono, indignada.
- Eu disse, - Estela sorri - esse remédio faz jus ao nome.
- Você acha que Kleen vai ficar bravo comigo por muito tempo?
- Creio que não, e quer saber? Acho que ele está começando a se acostumar com você. Sua companhia anda fazendo bem à ele, normalmente era bem mais rabugento. Eu mesma já te vejo como parte da família, gosto muito de você.
- Apesar de ainda não ter me acostumado por completo com tudo aqui, sinto que agora estou mais confortável do que antes, você me lembra muito Sofia, minha melhor amiga... Enfim, eu só ainda não me acostumei com o jeito dele. Acho que nunca vou.
- Ele tem muitos defeitos, mas fica tranquila em relação a isso. Quando se acalmar um pouco, ele volta. É sempre assim.
Com certeza Kleen estava com Samanta, falando para ela como sou atrapalhada, intrometida e super diferente da rainha responsável que tinham antes.
Talvez assim possam perceber de uma vez por todas que não sou quem eles pensam.Naquele momento, o que eu mais desejava era voltar à Terra para ter Sofia de volta.
Esses desejos pareciam tão distantes, mas sabia que meu lugar era lá e eu que deveria voltar.Ou talvez não.
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Amor Transcendental
Fantasy[História Completa] Celeste Spellight é uma adolescente completamente apaixonada por astronomia, que por obra das estrelas (ou não), foi abduzida por dois irmãos extraterrestres para Plateno, um planeta quase igual à Terra, possibilitando-a de desco...