Capítulo XX

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Saímos pelas ruas de Plateno de mãos dadas e não podia negar que aquilo me fazia muito bem.

- Você gosta de ler, né?

- Gosto sim. - eu realmente amava ler, mas não lembrava de ter comentado isso com ele. De qualquer forma, imagino que ele saiba mais sobre mim do que eu mesma.

Como? Não sabia.

- Vou te levar à biblioteca daqui. Há muitos livros sobre Plateno e a história de nossos antepassados. Não sei se será possível ler muitos, já que teremos uma semana bastante corrida... - ele faz uma pausa breve e continua - Mas dependendo do seu ritmo de leitura, conseguirá conhecer bastante sobre nós.

- Eu topo!


O exterior da biblioteca era tão pequenino que não imaginei que pudesse realmente ter muitos livros. Mas ao entrarmos, arrisco dizer que era a maior que já visitei.
Com livros do chão ao teto, havia prateleiras recheadas por todos os cantos, e o lugar tinha um forte cheio de lavanda.

- Fique a vontade para pegar o que quiser. - ele diz, virando-se em direção contrária para observar os livros.

Animada, busquei nas prateleiras algo que me chamasse mais a atenção, pois todos pareciam ser interessantes.

Encontrei jornais antigos e livros empoeirados que falavam sobre a espécie humana. Tinha tantos sobre a Terra que eu já estava começando a entender como sabiam tanto sobre nós.

Mexendo mais um pouco, encontrei uma folha de jornal contendo a manchete "Francesco Lowers assume trono após assassinato de rei Joles e rainha Lena."

- Kleen?

- Algum problema, Celly? - ele estava do outro lado da biblioteca, mexendo em alguns livros.

- Quais eram os nomes dos meus pais daqui?

- Joles e Lena, por quê?

- Eu achei uma matéria em um jornal sobre eles e Francesco, vem aqui dar uma olhada.

A notícia falava sobre o misterioso assassinato do casal, e as especulações eram que estavam tão mal com a morte da filha que preferiram partir a viver sem ela. Eles morreram dois anos após o falecimento da garota.

- Não investigaram a morte deles? Tipo, apenas deduziram isso e encerraram as investigações? Ou nunca nem começaram elas?

- Não foram atrás, Francesco convenceu a todos que seus pais contrataram um assassino para matá-los, já que não tinham coragem de cometer o ato eles mesmos. Meus pais nunca acreditaram nessa história, e pra falar a verdade, eu também não.

- Será que Caleb os matou?

- Eu não duvido. Nem dele, nem de Francesco.

- Mas eram os tios dele... Como faria uma coisa dessas?

- Eu não sei. Para ficar com o trono, talvez.

- E o que ele está fazendo em relação a guerra?

- Ah, ele entra em contato com os outros planetas que vão nos ajudar, cuida do exército, organiza as coisas, mas sinceramente, a população faz mais por Plateno do que ele.

Peguei alguns livros da antiga monarquia de Plateno, de sua história, e aquele jornal com a matéria sobre Francesco. Kleen os colocou dentro de uma sacola e fomos embora.

O mais legal é que escolher um livro numa biblioteca de Plateno não era nada burocrático. Você só pegava o que queria e ia embora.

- Há um último lugar que quero te levar hoje. - ele diz quando deixamos a biblioteca.

As ruas, ainda vazias, só não deixavam o clima assustador porque a beleza de Plateno era reconfortante.
Não havia um lugar que eu achasse feio ali, apesar de que as pessoas eram bastante parecidas, e até o momento, eu não havia visto nenhum animal.

- Escuta, aqui vocês não têm animais?

- Temos sim, mas todos estão em um local seguro atualmente, por conta da guerra. As crianças também ficarão em um.

- Aqui as pessoas são bem parecidas, né?

- Sim, e é exatamente por isso que queremos vencer essa batalha, para conseguirmos expandir Plateno com pessoas diferentes, nacionalidades diferentes. Aqui é tudo meio igual, eu pelo menos já estou acostumado, mas acho ruim. - ele suspira - Caleb e todos aqueles que o seguem querem apenas que a raça sartana domine não só Plateno como o universo inteiro.

Nunca imaginei que a maldade também transcendesce galáxias. Achei que era algo do ser humano, mas pelo visto há mais raças com defeitos iguais aos nossos.

- Espera! - Kleen exclama e me assusto ao retornar da submersão de meus pensamentos - Olhe à sua direita.

Sinto um friozinho na barriga de ansiedade pelo que viria, olhando de imediato para onde ele pediu.
Estávamos ao lado de uma praia com águas coloridas e brilhantes. No céu, havia um arco-íris enorme, mas diferente do nosso. Nele havia explosões de estrelas, talvez, não sabia muito bem.

- O que é isso no céu? É lindo!

- É um fenômeno que indica o último dia do ano platequiano. Ainda bem que consegui te mostrar, pois nunca sabemos exatamente que horas ele acontece. - Kleen pega em minha mão e vamos em direção ao mar.

A caminho, soltamos nossos sapatos na areia arroxeada, mil vezes mais macia do que qualquer outra areia da Terra.

Nossos corpos encontraram-se com a água tão rápido que percebi depois de muito tempo que iríamos nadar de roupa novamente, como no dia do lago. A água era morna, como uma piscina aquecida

- Olha pra cima! - ele diz.

Levanto meus olhos e vejo brilhos sobre nós, como se de lá de cima estivessem jogando glitters em todo o mar, colorindo a água com cores magníficas

- ISSO É PERFEITO! - gritava enquanto sentia todos os hormônios da felicidade invadindo minha mente.

- É tão fascinante que deveria ter o seu nome. Quer dizer, já que você é rainha daqui e... E em sua homenagem, né? - ele gaguejava a cada palavra - Sabe, em sua homenagem, é um fenômeno que ainda não tem um nome e...

Num impulso que nem eu mesma sei admitir de onde veio, levei meus lábios até os dele. Eu podia sentir cada batida de seu coração acelerado, que aos poucos ia se acalmando.
Podia sentir a adrenalina que habitava em mim, e por algum motivo, eu só queria que o tempo parasse exatamente naquele momento, não queria que aquilo acabasse nunca mais.

Mas poucos minutos depois, Kleen se soltou de mim, e olhando para seus olhos, percebi que estavam marejados.

Ele estava feliz? Triste? Confuso? Eu não sabia.

- Você não merece isso. - ele balança a cabeça repetidas vezes em negativo, e com algumas lágrimas escorrendo, correu para fora do mar, deixando-me sozinha nas profundas águas daquela praia.

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