14 - Tensão na vila

9 1 0
                                    

Após a prisão do pai de Larissa, o clima ficou tenso na vila. A polícia ganhou a confiança de todos e passou a prender muita gente. Muitos, que eram considerados baderneiros, por criticar a vinda de Mendonça, eram presos em nome do bem-estar geral. Inclusive, alguns policiais começaram a serem presos também. Quando um grupo protestou sobre as prisões, um a um foi encontrado morto nos becos.

Foi nesse clima de medo que Juca nos contou ter encontrado aquele policial, amigo do pai de Juca, quase morto em um beco. O homem lhe contou que tentou denunciar aquela situação aos chefes de polícia da sede, mas que havia sido descoberto pelos colegas. Juca descreveu como o homem ofegava, prestes a morrer e lhe entregara provas para que denunciasse ao juiz o suborno do prefeito aos policiais e uma falsificação do documento de posse da terra. Eu lembrei do bar da cidade, que um deles era chamado de juiz por Mendonça. Aqueles poderes eram maiores. Muito maiores que os nossos. Comecei a me sentir pequeno outra vez.

A tensão na vila crescia. Havia apreensão no ar. Os contrários a Mendonça agora eram poucos, mas faziam barulho. Ouvi um dos defensores retrucarem que mesmo que Mendonça não fosse herdeiro das terras, ele merecia, pois sua família era honrada e, além de tudo, tinha dinheiro pode comprar.

Eu me perguntava do porquê de ele ter voltado, se era tão rico onde estava. Estaria em decadência? Juca dizia que esse tipo de gente gosta de tomar o que é dos outros. Que ele viria para que nós próprios, as pessoas, fossem também dele. Seríamos todos dele. Poderíamos trabalhar nas terras, mas elas seriam dele.

Em um daqueles dias, estávamos reunidos na casa de Larissa, quando ouvimos um barulho de gente lá fora e fomos ver. Da calçada, ficamos a assistir, junto com toda a vila, a chegada de Mendonça. Ele vinha a cavalo com o chapéu na cabeça. Dona Cosminda se animou e foi em direção ao povo, mas disse para não irmos. O homem cavalgava com elegância e sorrisos, cumprimentando a todos com a sua mão entortada à mostra.

Então, ele havia chegado. Tudo já parecia dominado pela sua presença. Vimos o casarão em que ele entrou, era uma casa que sempre achávamos ser mal-assombrada. Muito grande, parecia agora com mais vida. Ficamos ali, parados, olhando, sem saber o que fazer contra aquilo que já pisava em nossa vila.


O DESPERTAR DO CURUPIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora