Capítulo 11

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Kendrick narrando:

Após Star sair correndo em direção a floresta, nós três fizemos o mesmo. Não faço a mínima ideia do que está passando na cabeça dela, mas eu também não curti muito a forma como Pedro falou com ela.

-Star! -Gritou Judith. -E se não a encontrarmos? -Se virou para nós.

-Isso tudo é culpa minha. -Pedro passou a mão na cabeça. -Não devia ter falado aquilo.

-Que bom que enxergou isso. -Falei sem encara-lo.

-Como?

-Que bom que enxergou que tudo isso é culpa sua. -Levantei o olhar. -Mandou bem.

-Eu não fiz de propósito! Mas precisava falar pra ela. Ela está se iludindo diariamente dizendo para si mesma que todos estão vivos. Convenhamos que isso é quase impossível.

Larguei minha mochila no chão e parei de caminhar. Isso fez com que os dois parassem também.

-E você achou mesmo que aquele era o melhor jeito de dizer a ela? Você sequer tem consciência do que ela está passando. Tem noção do quanto está sofrendo com a possibilidade de nunca mais ver a mãe sem sequer ter se despedido? -Sorri sarcástico. -Você já está acostumado com toda essa mudança no mundo. Nós não. É a primeira vez que estamos sozinhos aqui do lado de fora. Só mais uma coisa, quero que saiba que hoje você foi um completo filho da puta, Pedro. Um puta de um escroto.

Peguei a mochila novamente e saí andando.

-Escuta aqui, acha que pode me dizer tudo aquilo e sair andando sem me escutar? -Pedro segurou meu braço com força. Tentei me soltar mas ele segurou mais forte. -Sim, eu cresci em meio a tudo isso, mas também perdi meus pais. Também perdi minha família. Tudo isso com seis anos de idade, acha que foi fácil pra mim? Acha que foi fácil passar semanas trancafiado dentro de um armário morrendo de medo de sair porque seu irmão está pendurado do lado de fora transformado em um zumbi?

Fechei minha cara.

-Só que não vale a pena ficar chorando. Não vale a pena ficar se enganando com uma coisa que não vai acontecer. Sofia foi a pessoa que me salvou. Foi ela quem me deu uma segunda chance. Eu cresci ao lado dela, vivi mais tempo ao lado dela do que a Star. Não está sendo fácil pra mim também, mas a Star precisa aprender a lidar com as emoções.

-E gritar com ela foi a solução perfeita, não é?

Puxei meu braço.

-Já chega vocês dois. Em vez de estarem aí discutindo sobre algo que já aconteceu, poderiam estar procurando por ela. -Judith passou por nós. -Vamos logo.

Me virei e fui atrás dela.

Eu sei que não sou amigo da Star, sei que a gente praticamente se odeia, mas o que ele fez foi realmente uma babaquice.

Digo isso porque minha mãe também não estava no meio dos corpos. O que me deu um pingo de esperança de encontra-la junto com os outros.

É claro que não sou tão sentimental com relação a isso quanto a Star, mas também tenho que levar em consideração tudo o que ela teve que passar desde o seu nascimento. Eu nunca perdi um parente, então não sou capaz de imaginar o sentimento.

Escutei Pedro gritar atrás de mim e me virei, dando de cara com vários caras com o corpo pintado. Eles estavam armados com faca. O tempo que eu levaria para pegar a arma na mochila seria o tempo para ele nos matar.

Pensei em correr, mas se fizesse isso teria que largar os dois para trás. Comecei a lutar com a mão livre mesmo. Mas isso fez com que um dos deles me acertasse duas vezes. Um no braço e um na barriga. Não pude evitar de soltar um gemido de dor e me abaixar.

-Corre Kendrick! Corre!

Ainda com a dor, corri na direção oposta deles. Olhei para trás e vi que estava sendo seguido. Tentei apressar o passo e teria funcionado se não estivesse morrendo de vontade de morrer logo pra a dor passar de uma vez.

Segurei onde o corte havia sido feito em minha barriga e senti o sangue passar a camiseta.

Quando voltei a olhar para frente, me deparei com um riacho.

Que ótimo.

Me escondi atrás de uma das pedras e torci para que nenhum deles me encontrasse. Não aguento mais correr, a dor está insuportável.

-Perdemos ele. Droga!

-O que fazemos agora? A garota também não estava junto.

-Vamos continuar, nem que isso leve o dia todo.

Escutei seus passos se afastando. Agora que já estão longe, respirei fundo algumas vezes e levantei a camiseta. O corte está profundo. Preciso encontrar um jeito de limpar isso antes que infeccione.

Onde será que ela se meteu?

Comecei a olhar ao redor e vi sua mochila jogada bem próximo de onde eu estava. Com dificuldade fui até lá e olhei novamente ao redor.

O que pode ter acontecido pra ela ter deixado a mochila para trás?

Assim que estava olhando para perto do rio, avistei um homem e uma mulher. Olhando mais perfeitamente para eles, vi algo sendo carregado pelo homem. É uma garota, parece estar desacordada. Aquela jaqueta... Star!

-EI! -Gritei. -Soltem ela.

Comecei a correr até lá.

-Soltem ela!

Os dois se viraram para mim e então peguei a arma na mochila.

-Se não soltarem ela eu vou atirar. -Mirei na direção deles.

-Ne strelyat'.

Não consegui entender o que a mulher disse. Continuei me aproximando.

-Já mandei vocês deixarem ela!

-Pozhaluysta, ne strelyay.

-Que merda você está dizendo?

Quando já estava em uma distância segura, parei e fiquei tentando imaginar o que pode ter acontecido. E se estiver morta?

-Por que ela está desacordada? -Destravei a arma. -Se não me responder eu vou atirar nos dois.

Olhando agora mais de perto, o homem está molhado. Já a mulher está com uma cesta de roupa nos braços. Eles não se parecem nem um pouco com as pessoas que nos atacaram. Talvez não sejam maus.

-Água. -Foi a única coisa que a mulher conseguiu dizer. Parece estar um pouco incomodada por não conseguirmos no comunicar. -Ela água.

Ao ver que eu não estava compreendendo, ela começou a andar até mim. Levantei a arma e isso fez com que o corte de ambos os lugares doesse. No impulso acabei me abaixando e colocando os braços ao redor da barriga. A mulher tocou em mim.

-Fica longe! -Tentei me endireitar. -Não toque em mim.

-Ajudar. Nós, ajudar.

Levantei a cabeça e olhei para o homem que ainda estava com Star no colo. Ele está sério.

-Podem me ajudar?

-да.

Vou considerar isso como um sim.

-Ok. -Respirei fundo. -Me ajudem.


Tradução

Ne strelyat': Não dispare.

Pozhaluysta, ne strelyay: Por favor, não atire.

да.: Sim.

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