Prológo

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GIOVANA

Cruzei os braços, soltando o ar, enquanto desviava meu olhar para a parede ao meu lado. Bruno estalou a língua e se levantou da cama, colocando as mãos sobre a cabeça. Era nítido sua chateação, mas eu não poderia fazer nada, pois, minha decisão havia sido tomada.

— Porra, Gio! — Ele resmungou — Vai mesmo jogar nosso namoro no lixo? É o que você quer?

— Não é o que eu quero, Bruno, mas é o certo a fazer — retruquei.

— Certo para quem? — indagou, abrindo os braços e procurando pelo meu olhar — Achei que a gente se amasse e que estava tudo bem.

— Sim, apesar de tudo... — Enfatizei a última palavra, pois o Bruno já havia me traído e eu acabei o perdoando — Só que eu ficarei, no mínimo, um ano e meio fora.

— E aí você precisa terminar comigo? — Bruno questionou indignado.

— Amor, pensa, por favor. — Pedi angustiada — Ficarei morando a três horas de distância daqui. Não terei condições de vir, se não for nas férias do curso. Namoro a distância é furada...

— Furada? — Ele riu — A verdade é que você não confia em mim, né? — perguntou com ironia e eu engoli seco, mesmo que aquilo fosse verdade.

— Não quero te prender — expliquei — Quando eu voltar...

— Não quer me prender, mas não faz questão nenhuma de me perder. — Ele comentou, agitando a cabeça para os lados.

— Olha, sinceramente, o problema é que eu não sei o que você quer da tua vida. — Protestei, vendo-o se jogar em sua cama — Namoramos há dois anos e meio, Bruno. Já estamos perto dos trinta anos e até agora... — Diminuí meu tom, ouvindo-o rir.

— É esse o problema? Você quer me pressionar? — Seu tom irônico me fez queimar de raiva, mas não tive tempo de resmungar, pois ele prosseguiu — Você está dificultando as coisas, Giovana.

— É uma boa oportunidade para mim. — Dei de ombros — Eu quero muito ganhar aquela promoção, mas preciso desse certificado para isso. A empresa se dispôs a custear, já que também é do interesse dela... É meu futuro, Bruno. O que eu posso fazer?

— Não estou questionando sua ida, droga! — Ele bufou — Só quero saber qual o problema de continuarmos a namorar?

— E eu quero saber, por que não podemos dar uma pausa no namoro e analisar nossa situação quando eu voltar? — retruquei.

— Você não me ama. Essa é a verdade. — Bruno murmurou com deboche.

— Quer a verdade? — Ergui minhas sobrancelhas, vendo-o então, me dar atenção — Eu não irei passar um ano e meio fora, presa a você, enquanto você paga de solteiro aqui. Você não tem maturidade, Bruno. Apesar dos vinte e oito anos na cara, sei que você não deixará de sair com teus amigos e que a primeira mulher que aparecer, você vai tentar me convencer que pegou apenas por estar carente.

— Não precisa se justificar. Você já tomou a decisão sozinha. — Ele deu de ombros, ignorando minhas palavras, e me deixando boquiaberta.

— É, porque um de nós precisa ser racional! — Afirmei com firmeza e dei-lhe as costas, saindo de seu quarto.

Enquanto andava pelo corredor, em direção as escadas, vi o Felipe, seu irmão mais novo, aparecer no último degrau. Seus cabelos estavam penteados para trás, com bastante gel, de forma que nenhum fio estivesse fora do lugar, e sua pele branca, bem diferente da cor morena de Bruno, estava avermelhada, provavelmente pelo sol. Sua testa franziu ao me ver, mas pelo sorriso em seu rosto, já sabia que eu e o Bruno havíamos discutido.

Engraçado, que desde que eu e o Bruno ficamos juntos, o Felipe se tornou um grande amigo. E apesar de ter apenas vinte anos, era mais pé no chão que o irmão. Além dos dois, Sr. Rizzo ainda tinha um filho do meio, mas eu o vi poucas vezes, anos atrás, já que ele mora em outra cidade.

— Oi cu... — Felipe cumprimentou-me, como sempre fazia, me chamando pelo diminutivo de cunhada — Já quebrando a cabeça com o mimadinho?

— Ah Fê, teu irmão é... — Fechei meus olhos, soltando um suspiro e quando abri, ele sustentava o mesmo sorriso, denunciando entendimento.

— Um babaca. — Completou, se divertindo.

— Terminamos — falei, dando de ombros, mas de forma lamentosa.

— De novo? — Debochou — Vocês voltam daqui a pouco.

— Dessa vez é de verdade. — Afirmei, vendo-o seu olhar ainda descrente — Quer dizer, talvez seja temporário, mas... — Suspirei e amoleci os ombros — Estou me mudando para Mauí — expliquei, referindo-me à cidade onde iria estudar, então, enfim, ele surpreendeu-se — Ficarei um ano e meio lá, fazendo uma pós-graduação e sou sã o suficiente para saber que não devo confiar em um namoro à distância.

— Uou! — Suas sobrancelhas arquearam — Sério? Você vai quando?

— Esse final de semana — respondi.

— E o mimadinho acha o que disso tudo? — Ele indagou, cruzando os braços e eu dei de ombros — Ei, quer ir comer alguma coisa? Aproveitamos para conversar...

— Claro. — Concordei, vendo-o virar-se de costas e descer as escadas, enquanto eu o seguia.

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Todas as razões (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora