Capítulo 8

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André


Após quase um mês na casa dos meus pais, tive que ir para Mauí resolver minhas coisas e preparar minha mudança, pois eu precisaria retornar. Com o falecimento do meu avô, fiquei incumbido de ajudar minha mãe no negócio que eles estavam prestes a inaugurar. Não que eu não quisesse dar prosseguimento ao sonho do meu avô, mas ainda não estava preparado para voltar e estar sob as ordens dos meus pais.

Saí de casa aos dezoito anos e durante os seis anos em que estive fora, criei minha independência, tanto financeira, quanto pessoal. Eu odiava ter que dar satisfação do que eu fazia e para onde ia, ou que horas voltava, e minha mãe achava que eu e meus irmãos, ainda tínhamos quinze anos.

Assim que cheguei em meu apartamento, a primeira coisa que fiz foi pegar meu celular para ligar para a Giovana. Apesar de ter estado com a cabeça fora do ar nos primeiros quinze dias, eu continuei a pensar nela enquanto estive na casa dos meus pais. Queria muito lhe ligar e explicar o que havia acontecido, mas falar sobre meu avô ainda era bastante doloroso.

Eu me prometia que mandaria mensagem no dia seguinte, mas a cada nova manhã, eu prorrogava meu prazo. O velório, o enterro, a missa, e logo depois, a missa de sétimo dia. Era muita coisa para lidar juntamente ao meu pai, já que minha mãe estava muito mal. Quando me dei conta, eu estava ali há três semanas, e provavelmente, a Giovana já havia ido embora, mas eu tinha necessidade de lhe dar uma explicação, mesmo que isso não fosse de tanta importância para ela. Afinal, se ela, simplesmente, aceitou meu sumiço, significava que seus sentimentos não eram tão recíprocos como ela me falou.

Disquei seu número, receoso pela sua receptividade, mas após três toques, ela me atendeu. Havia confusão em sua voz, como se ela nem acreditasse que eu era na linha.

— Hã, alô? — Giovana atendeu intrigada.

— Oi Gi. Tudo bom? — falei acanhado — É o André.

— Ei, oi. Hã, tudo... — Ela falou quase incrédula.

— Parece surpresa. É uma boa hora? — Brinquei, permitindo-me sorrir, mesmo que sem humor.

— Ah, claro. Estou trabalhando, mas posso falar. — Ela disse desdenhosa — E aí, o que aconteceu? Você sumiu, e eu, de verdade, não esperava que fosse ligar um dia.

— É, tive um problema de família e precisei voltar para casa com a máxima urgência... — expliquei, sem entrar em detalhes — Você já saiu de Mauí?

— Há quase uma semana. — Giovana respondeu e depois houve um silêncio, mas eu podia ouvi-la falar com outras pessoas — Mas então, como você está? Resolveu as pendências familiares?

— Sim, quer dizer, não... — Bufei uma risada — Uma pessoa da minha família faleceu e eu terei que me mudar para ajudar meus pais...

— Sinto muito, André. — Ela respondeu séria, parecendo sincera — Espero que tudo fique bem para você e sua família.

— Obrigado. — Tentei sorri, mas não consegui, apenas engoli seco — Você já voltou para o teu ex? Estão bem?

— Hã, ainda nem o encontrei... — Giovana deu um sorriso, que eu jurei ser debochado — Não sei como ficarão as coisas.

— Ah sim... — Suspirei, sentindo-me mais aliviado, então novamente a ouvi falando com alguém — Bom, deixarei você trabalhar. Não quero mais incomodar.

— Você não me incomoda... — Dessa vez ela sorriu, me contagiando — Mas voltei ao trabalho há quatro dias e tenho muitas coisas para fazer. Posso te ligar mais tarde?

— Seria muito bom. — Deixei meu sorriso se alargar.

— Então tchau, André...

— Gi... — Chamei-lhe, mas ela permaneceu em silêncio — Estou com saudades.

— Nossa... — Ela exalou o ar, demostrando sorrir com euforia, enquanto eu não entendia nada — Eu também estou... Não imaginei que sentiria tanto a tua falta.

— Queria ter estado contigo nos últimos dias... — Continuei, mas novamente ouvi lhe chamarem.

— Conversamos mais tarde? — Ela pediu.

— Claro. Beijo.

— Beijo.

.

Após uns minutos, jogado no sofá, deixando a saudade pela Giovana me martirizar, resolvi terminar de organizar meu objetos pessoais para colocá-los no carro. O restante dos pertences iriam em um caminhão de mudança que contratei, já que agora eu não teria previsão de retorno para Mauí.

Fui até meu trabalho e conversei com meu chefe, que foi bem compreensivo quanto minha saída repentina, já que eu trabalhava com ele desde o início do meu estágio da faculdade. Expliquei a situação, e por mais que todos vissem como a oportunidade da minha vida, eu ainda estava receoso. Talvez não quisesse que as coisas tivessem acontecido dessa forma. 

Todas as razões (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora