Capítulo 12

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André


Sexta-feira eu e minha mãe ficamos até de madrugada no bistrô, terminando os últimos detalhes. Enquanto ela tratava da organização, eu analisei melhor o cardápio e testei, novamente, todas as receitas que meu avô havia deixado. Repassei as últimas observações para o pessoal da cozinha e saímos de lá após das três horas da madrugada.

Enquanto eu ia para casa, avistei o carro do meu irmão parado em uma praça. Apesar de estar há pouco tempo aqui, eu sabia que a cidade era pequena o suficiente para que outro morador tivesse aquele carro de luxo. E convenhamos, bem desnecessário. Assim que avancei, o vi sentado sobre o capô, tomando uma cerveja. Parei e abri o vidro, chamando seu nome. Imediatamente, ele desceu e veio até minha janela, colocando os braços apoiados na mesma.

— Ei, está fazendo o que? — perguntei, mais preocupado do que curioso.

— Ah, acabei de deixar minha namorada em casa e estou dando um tempo... — Ele prontamente respondeu — E você? Conhecendo a noite?

— Hã, não. Estava com a mãe no bistrô — informei.

— Tudo certo para sábado? — Bruno perguntou e eu assenti — É, agora com ela dedicando-se exclusivamente lá e sem o vô aqui, ficará puxado, hein? O pai terá que se dividir entre o supermercado e a fazenda. Eu tentarei dar conta da distribuidora sozinho.

— Pois é, agora é conosco, né? — Sorri fraco, vendo meu irmão concordar — Bom, eu já vou indo. Preciso dormir. Vai ficar aí sozinho?

— Não. Já estou indo... — Ele retribuiu o sorriso e afastou-se do carro, então eu acelerei em direção a nossa casa.

.

No sábado, acordei em torno das dez horas, e após escovar os dentes e tomar um banho, fui para a cozinha. Encontrei minha mãe à mesa, tomando um café e conversando com a Matilde, que lavava a louça, enquanto o Bruno estava ao seu lado, com uma feição de derrota. Seu humor parecia estar péssimo, pois ele sustentava a cabeça com a mão, apoiando o cotovelo sobre a mesa, analisando seu celular.

— Bom dia... — murmurei e então me sentei em frente à minha mãe.

— Bom dia, filho. Ansioso para hoje? — Ela me deu um sorriso, enquanto a Matilde me trazia uma xícara.

— Bastante. Nunca tive uma responsabilidade dessas, mas espero que dê tudo certo — respondi, não querendo preocupá-la com minha insegurança e então olhei para meu irmão — Você está bem?

— Se aquele moleque me deixasse dormir — resmungou, erguendo os olhos para mim — Está fazendo barulho na janela do meu quarto desde cedo — murmurou, mas logo se calou ao avistar o Felipe adentrando a cozinha.

— Bom dia família... — Ele falou cheio de animação, vestindo calça jeans, uma camiseta e botas, além de um boné na cabeça, e parecia estar trabalhando desde cedo — Bom dia mãezinha. — Ele deu-lhe um beijo no rosto e foi para a geladeira.

— Que merda que você está fazendo lá fora? — Bruno indagou em tom de desaprovação, e ouvimos o Felipe rir debochado.

— O que você não faz a semana toda. Trabalhando... — falou com desdém, mas era óbvio que estava zombando.

— Acha que ir para a fazenda contar gado e arrancar mato é trabalhar, moleque? — Meu irmão mais velho questionou com fúria, enquanto arrastava a cadeira para trás.

— Bruno! — Minha mãe gritou em repreensão.

— Pelo menos eu não fico sentado em um escritório, assinando papéis e achando que estou trabalhando... — Felipe falou com diversão, quase me fazendo rir na frente de todos.

Todas as razões (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora