Capítulo 19

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Encostei-me na varanda e senti o vento bater nos meus cabelos soltos, os sapatos estavam descansando ao lado da cama e o vestido em cima da cama. Assustei-me quando o celular começou a tocar dentro da minha bolsa e o atendi sem ver o número.

- Preciso de ajuda. – Avisou uma voz masculina fazendo com que eu arregalasse os meus olhos. - Fui encurralado, não posso ligar para o meu irmão, preciso da tua ajuda.

 -Onde você está? – Perguntei preocupada, ninguém merecia morrer encurralado em alguma viela da cidade, tendo o seu corpo jogado em uma vala onde ninguém iria encontrá-lo. - Vamos lá, não temos tempo, se está ferido eles iram encontrá-lo e quando eu chegar não terá mais nada que sobra de ti.

Ele me passou as coordenadas com dificuldades e desligou falando que alguém se aproximava, peguei a minha bolsa e os sapatos e saí correndo pelas escadas, ele não merecia a minha ajuda, mas, eu não conseguia dizer não depois daquele pedido agonizante, por mais que ele fosse um diabo perverso. Peguei as chaves da BMW e saí cantando pneus fazendo com que quase levasse o portão na minha frente.  Tentei ligar para Lorenzo no telefone que ele tinha me deixado, porém, dava apenas na caixa portal, eu não tinha o número dos pais dele e ele morava nos Hamptons, muito longe, eu passava dos 200 km/h  em segundos. Esperava que o meu marido estivesse vivo quando chegasse.

***

Aquele local poderia ser considerado sinistro, os prédios pareciam todos abandonados, o vento gelado fez com que os pelos do meu corpo se arrepiassem, aquele era um ótimo local para se fazer uma emboscada, Paullo disse que ele estava em um beco entre dois prédios, mas, todos pareciam iguais e eu estava exposta, apertei a pequena adaga nas minhas mãos e continuei o meu caminho até um dos becos, vendo que ele estava vazio, eu iria passar a noite inteira procurando becos e iria encontrar apenas o corpo de meu marido, eu deveria ter trago pelo menos alguns soldados comigo, seria mais fácil de achar alguém.

Continuei a percorrer os becos até que dei de caras com 2 homens no chão, aquilo parecia uma zona de guerra, passei por eles com rapidez, não iria verificar se eles estavam mortos, andei mais alguns metros para dentro do beco querendo matar aquele moleque por ter me passado as coordenadas erradas, quando ouvi um gemido baixo vindo do lado de uma lixeira. Meus saltos batiam no chão me deixando ainda mais nervosa, aquilo era uma péssima ideia, agarrei com mais força a adaga nas minhas mãos e segui em frente. Paullo estava com o corpo escorado na lixeira, sua respiração era fraca e ele tinha sido alvejado pelo menos dois lugares pelo que eu conseguia ver, suas mãos estavam pressionando um dos ferimentos, mas, o paletó estava mais caído. Me abaixei pressionando para que ele parasse de perder sangue e um gemido saiu dos seus lábios.

-Pensei que não viesse. – Sussurrou abrindo os olhos e fazendo com que eu desse os ombros, não podia chamar uma ambulância, isso chamaria a atenção da polícia e eu não teria como explicar aquilo, então mandei um sms para o Alvin e o Lorenzo.

-Cala a boca. – Mandei fazendo com ele desse uma risada baixa e tossisse sangue, eu não podia ser médica, mas, sabia que o seu estado não era bom. _ Economize as suas forças, se morrer nas minhas mãos, irei até o inferno apenas para matá-lo. O seu chefe da segurança deve estar chegando, eu não consegui falar com o teu irmão.

Apertei com mais força o ferimento fazendo com que ele gemesse e eu sorrisse nervosa, se o maldito Alvin não aparecesse eu iria o matar por me deixar naquele beco com o seu patrão e morrendo nas minhas mãos.-Conte-me qualquer coisa. – Pediu ele fazendo com que eu revirasse os meus olhos. _ Esse silencio está me matando a horas, eu sou um homem noturno, odeio silêncio. Sabe eu estava tentando livrar-me de provas incriminadoras e acabei sendo encurralado por malditos imbecis, irá virar a viúva mais rica e importante da Sicília. -Eu não sou um padre para ouvir os seus pecados. – Avisei encarando-o. _ Então cale a maldita boca, pois, depois de morto quem pode perder a cabeça por saber dos seus pecados sou eu e não irei morrer por sua culpa.

O som de pneus  fez com que meu sangue gelasse e Paullo pegasse a arma que estava ao seu lado e colocasse na minha mão.

-Sua adaga não vai ajudar se eles vierem com uma automática. – Sussurrou ele fazendo com que eu engolisse a cedo. _ Espero que tenha uma boa pontaria ou morreremos os dois aqui, neste beco imundo no subúrbio da cidade e ainda seremos jogados em uma vala qualquer. Um final péssimo para nós.

Concordei e destravei a arma tentando me manter firme, eu odiava armas, papá sempre disse que eu era melhor com lâminas do que com armas.

_ Alvin! – Exclamei quando vi o seu rosto conhecido, eu quase chorei de alívio, aquela arma tinha apenas duas balas nós estaríamos mortos de qualquer modo se fosse outra pessoa. _ Temos que o retirar daqui, está perdendo sangue demais, não sei por quanto tempo ele está aqui. Precisamos o levar para um local seguro.

_ A clínica da máfia irá o tratar. – Disse ele pegando o patrão. _ Não se preocupe, ele já sobreviveu a coisa piores.

Encarei-o e o segui para fora do beco, Alvin infringiu todos os limites de velocidade da cidade até chegar à clínica que ficava no centro da cidade, com certeza a máfia italiana pagava por aquele prédio bem equipado e de última geração. Não me deixaram passar da receção, falando que eu precisava assinar os documentos de entrada, minhas mãos ainda estavam sujas de sangue quando Lorenzo chegou, ele me encarou de cima a baixo, eu deveria parecer ter saído de um filme de terror, minha roupa estava toda suja, meus cabelos arruinados, minha fisionomia não parecia a melhor.

_ A máfia está atrás de quem fez isso. – Avisou ele colocando as mãos no meu ombro e fazendo com que eu assentisse. _ Vá pra casa, tome um banho e tire essas roupas sujas, não irei sair daqui até ter notícias dele, e nem sequer devias estar aqui, alguém ainda descobre o vosso segredo e aí sim é o fim dele.

_ Não farei isso. – Disse fazendo com que ele arqueasse uma sobrancelha como se eu tivesse o desafiando. _ É o meu marido que está naquela sala de cirurgia, então eu irei ficar aqui até terminar, não me importo com as suas ordens, foi nas minhas malditas mãos que ele sangrou por quase uma hora, então, eu não irei embora.

_ Eu sabia que você era a esposa certa para ele assim que coloquei os meus olhos sobre você, mas preciso que saias imediatamente, se os meus pais te veem e não tens barriga de grávida pescoços vão rolar.- Falou fazendo com que eu engolisse em seco.

-O que faço?- murmurei assustada e olhando em volta.

-Vamos!- mete a sua mão nas minhas costas e o meu casaco moletom a volta do meu corpo e conduziu-me pela rua- Vai para casa com o meu motorista e ele vai te entregar uma barriga falsa para poderes voltares, mas só amanhã! Caso haja alguém que te viu com as trocas de turnos da manhã já não estará!- disse e fechou a porta na minha cara e o carro arrancou.

A Herdeira de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora