Capítulo 24

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Um mês e meio depois...

Os pais de Paullo ofereceram sua casa para nós fazermos a apresentação do Duarte à Famiglia. Então lá estava eu, com meu pequeno menino na cadeirinha no banco de trás e um Paullo muito sério dirigindo. Os cenários do que poderia acontecer hoje me tiravam a calma que já não existia. Meu filho seria nada mais do que um objeto a ser exibido. Todos olhariam para ele em busca de algo para falar. Um defeito na pele, no corpo, no cabelo, no rosto ou uma peça de roupa amassada. Cada pequeno detalhe seria analisado. E, por fim, eles passariam o resto da festa bajulando meu marido por ter feito um filho perfeito. 

Não tinha ideia do que Paullo estava pensando, mas sua mandíbula trincada e os nós dos dedos já brancos de tanto apertarem o volante me diziam que ele estava tão entusiasmo para a festa quanto eu.Perfeito.

 — Você não precisa responder todas as perguntas que fizerem. Seja educada,mas não estúpida. — Eu bufei.

 — Fácil dizer, já que não é para você que todos os dedos serão apontados. Elas vão perguntar por que eu sumi, por que não saí de casa, por que recusei seus convites. Vão fazer parecer perguntas sinceras, mas o julgamento vai estar em cada palavra. 

Ele estacionou na entrada da casa dos meus sogros e me olhou. 

— Quem é você?

 — O quê? — Eu franzi a testa.

 — Seu nome, qual o seu nome?

 — Você sabe o meu nome. 

— Assim como todos lá dentro. Você não é só a filha de um Capo, você não é casada com um capitão da Famiglia. Você é minha esposa, eu mando em toda essa merda. Levante sua cabeça para cada um lá dentro e bata de frente. Se isso não for o suficiente, mande que venham perguntar a mim, tenho certeza de que vão calar a boca.- Ele não me deu a chance de responder, apenas saiu e deu a volta, abrindo aminha porta. 

— Obrigada — sussurrei enquanto passava por ele para pegar Duarte. Aconcheguei-o e caminhei para dentro com Paullo. Um soldado abriu a porta, e fomos logo recebidos com palmas de todos. 

— Aí está o meu pequeno homenzinho — disse papa, enquanto se aproximava. 

Rapidamente ele me abraçou, pegando-o logo depois. 

— Ele engordou desde que o vi da última vez!Eu ri enquanto olhava para seu rostinho sereno.

 — Ele mama tanto! É um guloso. 

— Veja só! Ele tem algo do tio. — Lorenzo sorriu.

Reparei que meu marido já não se encontrava mais perto de mim.

 — Com licença — eu disse, enquanto me afastava.Avistei Paullo num canto, conversando com mais alguns homens. Eu estava pronta para voltar para onde minha família se encontrava, quando vi algumas mulheres vindo em minha direção – as esposas dos Capos.Aida, Belinda, Gema e Leana tinham seus sorrisos perfeitos no rosto enquanto me abraçavam.

 — Estou tão feliz que está aqui com seu bebê! — disse Leana. 

— Sim! E devo dizer que estou tão feliz por ser um menino! —Belinda era a única que tinha um sorriso sincero no rosto.

 — Você vê, Belinda, siga o exemplo — Aida se pronunciou, destilando seu veneno.O marido dela, Simone, era o homem mais insuportável e asqueroso que eu já conheci. Ela não era muito diferente. A maioria das mulheres da máfia eram difíceis de engolir, mas Aida era uma das piores.Belinda abaixou a cabeça, e Gema apontou para Aida.

 — Ela não teve culpa de ter uma menina. Melissa é uma garotinha adorável.Aida bufou. 

— É a terceira menina. 

— Acho que filhos são bênçãos, independente do sexo. Tenho certeza de que Ciro é feliz com suas três meninas — eu disse, sorrindo para Belinda. O que afez parecer aliviada. Naquele mundo, depois de ter me casado com Paullo, minha palavra era mais importante do que a delas. Então, se eu apoiava Belinda, as outras mulheres não tocariam mais no assunto, pelo menos não em público.

 — Podemos ver o bebê? — Gema perguntou.Minha vontade era dizer "não" e correr de lá com meu filho. Mas seria desrespeitoso. Naquela noite eu deveria apresentá-lo às pessoas.

 — É claro. — Forcei um sorriso.

 — Senhoras, conheçam Duarte Bellici Monterre. — Ele tinha os olhinhos aberto  se sustentava um bico. Leana chegou perto dele e segurou sua mão. 

— Dio... os olhos dele são iguais aos do Capo.Gema assentiu. 

— Verdade, o cabelo também. Acho que será tão bonito quanto — Aida falou, olhando para o bebê e franzindo o nariz logo depois. 

— Eu acho que o nome dele deveria ser Paullo. 

-Paullo ficou satisfeito com o nome dele. — ele não tinha nem mesmo falado sobre o bebê comigo, mas ela não precisava saber. Aida deu de ombros.

 — Só estou dizendo. É o primeiro filho dele, e você foi abençoada com um menino, deveria ter honrado seu marido colocando o nome dele no herdeiro.

— Com licença, senhoras, meu filho deve estar com fome. 

Belinda arregalou os olhos.

 — Por favor, não o alimente aqui. Seria vergonhoso. 

Eu parei, encarando-a. Eu a tinha defendido, e ela abria a boca para falar merda? 

 — Quem nunca viu um par de peitos? 

 — Eu volto logo! — Interrompi-a antes que pudesse continuar. 

Pelo resto da noite, o bebé passou de braço em braço, de colo em colo, sendo apresentado a todos. Eu começava finalmente a relaxar, vendo que ninguém estava me importunando.Os homens me parabeneziram por ter tido um menino, e eu já não aguentava mais aquilo. Tive que ouvir, inclusive, sobre meu corpo, como estava tão perfeito apenas um mês depois de ter ganhado o bebê. 

A Herdeira de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora