11 - 24/12/1934

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— Dr. Esmeraldo... — Antes que o mordomo Juarez terminasse de concluir a frase, o oficial da Polícia Militar entra casa a dentro com mais dez capangas armados.

     As sete moças que estão sentadas em volta da mesa se assustam com violência da intrusão. Lupina rosna na direção do sargento.

— Sargento, a que devo a honra de poder recebê-lo em plena Ceia de Natal? Por favor, tome lugar na mesa e jante conosco. — Mesmo achando arbitrária a atitude que fora feita, Dr. Esmeraldo mantém a polidez por causa das suas filhas.

     O Sargento faz o que é pedido pelo dono da casa, mas, seus homens continuam a postos fazendo um semicírculo por trás do seu comandante.

— Esmeraldo, você sabe da minha consideração e admiração por você.
— Dr. Esmeraldo olha para suas filhas sentadas a sua volta. Sabe que o homem mente.

— Obrigado, Sargento Cruz. — Agradece  o dono da casa também mentindo sobre o nome do sargento, e isso faz o militar abrir um largo sorriso.

— Sábio... Como sempre muito sábio e discreto.

— Podemos jantar e depois conversaremos sobre o que o trás a sua ilustre vista até minha casa?

— Estou com pressa. Não vou demorar. — O sargento para de falar, tamborilando os dedos sobre a mesa vestida com uma toalha branca de linho com bordados de renascença. — Você sabe que os crimes na região pipocaram. Os cangaçeiros parecem que se procriam feitos uns preás. — Dr. Esmeraldo coloca suas mãos embaixo da mesa. Lupina observa o movimento da mão do pai de Alma, que vagarosamente tira de baixo do assento uma doze cano cerrado.

      O animal, sem acreditar no que está vendo, percebe que o homem na cadeira de rodas está realmente tomando essa decisão.

— E se eles tivessem feito um pacto com o "Coisa Ruim"... Como andam falando por aí.

— Não estou entendo aonde o senhor deseja chegar com essa conversa, em plena Ceia de Natal.

— Vamos Esmeraldo. Não se faça de tolo! Você mesmo foi um desses que fez o pacto com o demônio. — O sargento pisca um dos olhos para o dono da casa.

— Eu nunca faria uma coisa dessas!

— Então... Como você matou todas aquelas pessoas e nunca foi pego?

— Dr. Esmeraldo sente um calafrio escorrendo pela sua espinha. Fora os olhares das suas filhas, que fazem sentir sua pele pegar fogo.

— Não sei do que você está falando! Que conversa mais maluca é essa?

— Meninas... Acho que as senhoritas não sabem do passado medonho do pai de vocês e como conseguiu tanto dinheiro.

— E você não ousaria...

— Pelo seu segredo não. Acredite Cemitério, estou em paz. Eu vim em paz.

— Por que ele está chamando o senhor de Cemitério? — Alma, pergunta ao seu pai primeiro que as suas irmãs.

— Uma loba azul... — Comenta o sargento, puxando a conversa para outra direção. — Soldado Cumeeira!

— Sim senhor! — Responde o soldado com a voz arrastada e com um palito de fósforo no canto da boca.

— Você até que me respondeu mais rápido dessa vez! — Zomba o sargento.— Quantos lobos você viu por essas bandas de cá, do nordeste?

— Até hoje... Em meus trinta anos de vida, uns dois Guarás. Mas, estavam perdidos. Filhotes. Devem ter caído de algum carro que trafica bicho.

ALMA LUPINA - "Venha, entre e sirva-se" - Lançado em 24/03/2021Onde histórias criam vida. Descubra agora