Prólogo

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Hilda encarava sua filha Ella com muita admiração. A criança era metade fada e metade humana, fato que ainda não conseguia aceitar de tão surpreendente. Esse nascimento dava-lhe esperança por diversos motivos. E, para protegê-la até realizar seus planos, precisava contar a ela sobre o terrível destino que acarretaria sua origem.

Pegou a criança com 5 anos em seu colo e começou a contar o triste passado do povo delas:

 	Pegou a criança com 5 anos em seu colo e começou a contar o triste passado do povo delas:

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Durante séculos, os humanos escravizaram as fadas. Essas eram obrigadas a fazer trabalhos forçados sob pena de chibatadas. Eram consideradas inferiores, objetificadas, posses de seus senhores. Não podendo decidir sobre o que fazer durante suas vidas, eram obrigadas a aceitar caladas insultos e exigências humilhantes. Além disso, eram vítimas de maus tratos e muitas acabavam morrendo de exaustão antes mesmo dos 50 anos.

Aquelas que fugiam tinham um destino terrível se capturadas, muitas preferiam matar-se a retornar. Afinal, apenas a morte era uma libertação para essas pobres criaturas. Porém, não era sempre que eram pegas. Aquelas que conseguiam fugir eram obrigadas a cortarem suas asas para não revelarem seu segredo. Não era possível haver fadas livres.

Presas na pobreza, fadas fugidas começaram uma comunidade de apoio tentando sobreviver. Hospitais clandestinos especializados em cortar asas e em reabilitar as mutiladas começaram a surgir e fazer parcerias com hotéis secretos. Quando a comunidade estava suficientemente forte, começaram a resistência.

Fadas mutiladas começaram a escrever manifestos sob pseudônimos tentando divulgar a causa da libertação e direito à cidadania aos semelhantes e também aos humanos. Vários deles aderiram e a comunidade de protesto começou a tomar força. Algumas fadas fugidas nem se davam mais o trabalho de cortar suas asas começando a ter orgulho de quem eram.

Manifestações tomaram as ruas com a proteção de humanos pró-fadas e os senhores de escravos não hesitaram em atacar aquelas que só queriam liberdade e cidadania. Sem condições de obterem armamento, não poderiam lutar na guerra que estava começando e tiveram que fugir.

O membro a mais que as fazia inferiores foi o que as ajudaram na fuga. Voaram para tão alto, onde os humanos jamais alcançariam, e foram forçadas a criar uma sociedade isolada, se quisessem viver com dignidade. Durante gerações, seus pulmões foram se adaptando à falta de oxigênio das alturas e a população foi subindo cada vez mais, almejando viver nas nuvens.

Para conseguirem tornar sólido um chão feito de vapor, precisaram de algo que a tecnologia que tinham não podia oferecer: magia. É claro que quando viviam entre humanos não possuíam direito à educação e muitos habitantes da primeira geração da nova cidade das fadas ainda eram analfabetos, porém os poucos que liam escondidos conheciam as lendas da magia.

Antigamente, ela era fácil de ser encontrada e coletada na natureza. Era como um líquido brilhante encontrado em alguns tipos de materiais que podia ser extraído facilmente.

Existiam duas maneiras de canalizá-la para uso pessoal, bebendo e tornando-se um feiticeiro ou molhando nela um objeto. Caso alguém bebesse, esse teria a habilidade de fazer magia por si só. Caso encantassem um objeto, qualquer um em sua posse poderia utilizar a magia, porém apenas se estivesse com o objeto.

Quem tivesse magia era capaz de fazer coisas incríveis e surreais. Com certeza as fadas poderiam fazer um encanto para andar nas nuvens se encontrassem um pouco. Porém, a sede por poder dos humanos levou à sua devastação e naqueles tempos já não era mais encontrada.

Mário Firmino, o líder eleito pelas fadas, resolveu enviar uma equipe de busca atrás dela. Assim, poderiam não só andar no vapor como se proteger mais eficientemente de eventuais ataques humanos. Porém, o grupo selecionado jamais encontrou magia. Muito pelo contrário, os humanos que o acharam.

Antes de serem mortos apenas por serem fadas, os membros conseguiram espalhar como boato a história de já viverem nas nuvens. Dessa maneira, os humanos ficaram desacreditados em invadir aquela nova cidade que se tornara inacessível sem habilidades de voo.

Apesar disso, as fadas não se sentiam tão seguras assim. Com o não retorno da equipe de busca, tiveram que se contentar com o que a tecnologia podia oferecer e viverem no alto das montanhas. Lugar difícil para humanos, que não possuíam uma máquina de voo, acessarem sem equipamento de alpinismo apropriado. Entretanto, não era impossível.

Terminando de escutar um pequeno pedaço do que seria a história de seu povo, Ella exibiu uma cara de medo e disse quase chorando:

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Terminando de escutar um pequeno pedaço do que seria a história de seu povo, Ella exibiu uma cara de medo e disse quase chorando:

- Eu não quero ser escrava, mamãe!

Um pouco arrependida de ter assustado a criança, Hilda deu-lhe um forte abraço e disse com calma:

- Eu e a Aline não deixaremos. Por isso que estamos aqui na floresta, arriscando nossas vidas e buscando magia novamente.

A grande fuga de CinderellaOnde histórias criam vida. Descubra agora