Capítulo 6

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"Tadinho… Você não teve muita sorte, hein? Deve ter sido na hora de fazer xixi." murmurou pensativo, olhando diretamente para a entre coxa do alfa. Franzindo o cenho suavemente, logo tratou de agir. 

Agora, com o alfa deitado no chão ao lado do riacho de água limpa, Levi lutou contra seu pavor ao desfazer o cinto e o botão da calça suja de areia e sangue. Puxando-a, tentou não olhar para a cueca do moreno e sim no ferimento em sua perna. Rasgando a beirada de seu vestido, a usou para envolver a ferida, assim não deixando que o veneno se espalhasse ainda mais. Feito isso, utilizou o paninho que sempre trazia junto de si ao molhá-lo para pôr na testa do homem, numa tentativa de controlar a febre alta que o mesmo tinha. Terminando de fazer os primeiros socorros básicos, levou sua mão até o local da picada, se concentrando em curar assim que sentiu a pele quente contra a sua. Infelizmente Levi não era alguém muito bom em termo de cura, e graças a isso, o processo se tornou bem mais doloroso do que deveria ser.

Franzindo o cenho quando o alfa se contorceu, Levi esforçou-se para não se desconcentrar. Aquele homem era sortudo demais por ter aguentado até aquele momento - mesmo quando Levi "inconscientemente" enrolou para chegar até o riacho por temer que aquilo fosse uma armadilha -, então poderia aguentar só um pouquinho mais de dor. 

O processo de cura durou cerca de quarenta minutos, mais tempo do que o normal, e isso foi porque Levi quis ter certeza que o veneno de fato tivesse sido eliminado de vez do corpo do homem. Caindo sentado em seu calcanhar, suspirou aliviado ao enxugar o suor de sua testa, sorrindo de maneira amigável ao notar que até mesmo a respiração dele havia se regularizado. "Humm… Eu deveria te deixar aqui sozinho, sabia? Eu deveria, porém você não transmite perigo para mim." falou, mordendo os lábios emburrado por não ter recebido nenhuma resposta. Desviando seu olhar para a calça suja ao seu lado, voltou sua atenção novamente para o moreno. "Você é bem porquinho."

Inclinando-se na sua direção, Levi tirou a blusa dele - agora encharcada de suor após aquela febre terrível -, com cuidado para não fazer muitos movimentos bruscos e despertá-lo. Não havia maldade naquele ato um tanto quanto invasivo, Levi só queria ajudar e também ensiná-lo a ser limpo que nem ele. Agora com ambas as peças de roupa em suas mãos, deu as costas para o alfa e se pôs a lavar, não vendo mal algum em fazer aquilo já que o homem estava tão fragilizado.

Vendo que teria trabalho na limpeza por causa da lama - pela qual o arrastou algumas vezes - agora seca nas peças, Levi se pôs a cantarolar para si, com a intenção que o tempo se passasse mais rápido. Não era uma canção que possuía letra, era mais como uma ópera de notas baixas que se moldavam em determinadas circunstâncias para algumas mais altas no ritmo de uma música cuja letra foi esquecida há muito tempo, mas que possuía uma melodia insistente. Pra falar a verdade, pelo tempo em que passou sozinho, muitas vezes tendo seu único passatempo a música que lembrava e as que inventava no improviso, Levi era alguém muito bom com as notas vocais. Ele as dominava com maestria, mesmo que estivesse apenas brincando ao cantar.

Como planejado, após começar a cantar, o tempo se passou consideradamente rápido em seu ponto de vista. Levantando-se, sorriu com satisfação ao ver que as peças de roupas estavam tão limpas ao ponto de fazê-lo querer chorar de emoção. Pegando-as, as espremeu bem para tirar a quantidade desnecessária de água antes de ir na direção das rochas, local onde as estendeu de frente ao sol. Todo o seu percurso foi feito com uma baixa cantoria, e ao terminar seu trabalho, decidiu buscar alguma coisa para os dois comerem, vendo que não demoraria muito para que o alfa retornasse a realidade.

Movendo as mãos quase que de forma brincalhona, Levi criou uma cesta a partir de galhos que estavam no chão. Pegando-a, deu uma última olhada na direção do alfa antes de adentrar a floresta na busca de frutas. Nesse intervalo de tempo no qual usou para sair, aos poucos Eren foi acordando, ainda muito fraco e com a mente totalmente bagunçada com os últimos acontecimentos. A pouca coisa que lembrava era de estar seguindo a trilha na qual traçou no mapa antes que pisasse em algo e de repente a picada daquela maldita cobra. Claro, ele se livrou dela e então seguiu com o caminho, mesmo que soubesse que deveria parar para averiguar o ferimento, cujo qual o moreno acreditou não ter acontecido. Assim como qualquer alfa daquela época, além de bruto, Eren possuía uma cabeça dura em termo de se cuidar. A prova viva disso foi ter simplesmente escolhido fingir que não se machucou mesmo quando o veneno queimava em seu interior. Foi tolo, mas chegou perto o suficiente do seu objetivo, e para ele isso já havia valido o risco que correu. 

Na Ponta do FeitiçoOnde histórias criam vida. Descubra agora