Capítulo 2

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Capítulo Reescrito: 24/11/2024

Eren caminhava com passos firmes, mas pesados, como se o cansaço acumulado do dia o seguisse até mesmo em seus movimentos. O sol já começava a se esconder no horizonte, e a brisa da tarde trazia um alívio momentâneo após horas exaustivas nas plantações, somadas ao trabalho árduo sob o sol escaldante, que sugava-lhe a energia dia após dia. Ainda assim, ele era grato. Grato pelo trabalho que mantinha ele e sua mãe vivos desde a tragédia de oito anos atrás, quando seu pai, Grisha Jaeger, o médico querido do vilarejo, perdeu a vida em um acidente, onde sua carroça despencou pelo penhasco em uma noite.

Enquanto caminhava pela trilha de terra batida, a brisa suave da tarde o abraçava, refrescando sua pele suada e aliviando um pouco do cansaço. Ele já podia ver as casas simples do vilarejo, com suas paredes rústicas e jardins que transbordavam de flores e ervas. Tudo ali parecia tão familiar e acolhedor.

— Boa tarde, Eren! — chamou Dona Bela, uma das senhoras mais simpáticas da vila, enquanto regava as flores de seu pequeno jardim com delicadeza.

Eren parou brevemente, oferecendo-lhe um sorriso cansado, mas sincero. — Boa tarde, Dona Bela.

A mulher retribuiu o sorriso e voltou ao seu trabalho, enquanto Eren retomava sua caminhada, permitindo-se absorver o silêncio tranquilo que o cercava. Era um daqueles momentos raros em que ele podia apenas respirar, mesmo que por um instante.

O vilarejo onde nascera e crescera era tão pequeno que parecia ter parado no tempo. Tudo ali era simples, mas não menos belo. As casas, feitas de madeira rústica, eram envoltas por jardins exuberantes e plantações que pareciam competir em cores e aromas. O ar tinha sempre um cheiro doce de terra molhada e flores recém-abertas. Havia uma paz particular naquele lugar, mas nem tudo era tão sereno quanto parecia à primeira vista.

O maior defeito do vilarejo não era a simplicidade, mas as línguas afiadas de algumas de suas moradoras. Senhoras gentis, como Dona Bela, não hesitavam em se transformar em entusiastas de fofocas. Nos últimos meses, os cochichos voltados para Eren o incomodavam mais do que ele gostaria de admitir. A cada esquina, ouvia insinuações sobre como deveria encontrar um companheiro e construir sua própria família. Ele revirava os olhos sempre que ouvia essas palavras. Não precisava de um companheiro agora. Não quando tinha apenas dezessete anos e sua mãe, a quem dedicava todo o seu amor e cuidado.

Enquanto caminhava, passou pela pequena biblioteca dos Arlert, uma construção simples, mas repleta de lembranças. O pensamento de visitar Armin, seu velho amigo, cruzou sua mente. Porém, ele logo descartou a ideia. As chances de Armin estar com seu alfa eram altas, e Eren não estava no humor para presenciar o casal trocando olhares apaixonados.

Com um suspiro frustrado, ele decidiu que o melhor seria continuar seu caminho para casa. A paz e o conforto de seu lar seriam o melhor remédio para a inquietação que sentia naquele dia. Enquanto caminhava, o som de seus passos se misturava com o canto dos pássaros e o farfalhar das árvores ao vento, uma sinfonia tranquila que apenas o vilarejo era capaz de oferecer.

Chutando uma pedrinha preguiçosamente pelo caminho, Eren ergueu o olhar para o horizonte e se deparou com um espetáculo que nunca falhava em arrancar um sorriso de seu rosto: o pôr do sol. O céu era uma mistura vívida de laranja, dourado e rosa, com nuvens que pareciam pintadas por mãos divinas. Ele parou por um momento, permitindo-se absorver aquela beleza tão característica de seu vilarejo.

É uma das coisas que fazem valer a pena, pensou consigo mesmo, enquanto o sol se escondia lentamente atrás das colinas distantes. Por mais simples que fosse sua vida, havia algo inegavelmente especial naquele lugar. Aquela vista sempre o fazia sonhar, imaginando como seria se pudesse voar como os pássaros que cortavam o céu. 

Na Ponta do FeitiçoOnde histórias criam vida. Descubra agora