Na Ponta do Feitiço

Capítulo 16

Enxugando o rosto do filho com cuidado, Carla mal podia acreditar no que seus olhos viam. Eren não só conseguiu retornar para casa, mas estava saudável e até trouxe um omega junto a ele. Seu coração de mãe estava em um misto de emoções, e naquele momento não saberia dizer qual era a mais forte: alívio ou preocupação. 

— Meu pequeno e corajoso filhote… Você cresceu tanto, meu amor — ela murmurou, seu olhar doce e cheio de admiração estava fixo no jovem alfa sentado no sofá, ainda desacordado. 

A casa estava estranhamente silenciosa. Ninguém sabia o que estava acontecendo, e o retorno do Eren com aqueles três estranhos foi o ápice da estranheza naquela noite. O clima era tenso, confusão e medo se mesclavam. Como seus parentes mortos voltaram à vida? Quem eram aquelas pessoas? Por mais que confiassem que Eren nunca colocaria em risco a vida de nenhum ali, toda a situação era confusa para todos.

Para não causar mais alvoroço, Grisha se reaproximou de sua esposa e filho com cuidado, querendo ter uma visão melhor do que estava acontecendo ali. Estendendo sua mão até a testa do jovem homem inconsciente, notou uma febre suave, mas nada que fosse realmente perigoso. Provavelmente causada pelo estresse ou até mesmo por causa do banho de chuva naquela hora da noite.

— Ele vai ficar bem, Carla — Disse Grisha, acreditando que seria isso que sua amada gostaria de ouvir — Ele só está cansado.

— A viagem foi longa — A voz da mulher sobressaiu a dele, atraindo a atenção de todos que ali estavam para ela — A propósito, meu nome é Kuchel. Esse é meu marido, John. E esse omega lindo e esperto, é o meu filho, meu menino, Levi.

A apresentação repentina foi o suficiente para “apaziguar” de certa forma uma das diversas perguntas que passavam na mente de cada um. E, para não perder a oportunidade de ouro, Maia aproveitou o momento e falou com um leve gaguejar: — Perdoe nossa falta de bons modos. É só que tanta coisa aconteceu de uma só vez que… Não sei como explicar.

Kuchel apenas sorriu gentilmente, compreendendo bem a situação. Seu olhar saiu deles por um momento, parando em seu próprio filho que estava inconsciente em uma poltrona. Levi parecia em paz, sem sombras de pesadelos ou coisas do tipo. Ele estava em paz, como se estivesse em um profundo e bom sonho. Por alguma razão, essa comparação lhe tirou um sorriso meigo. Depois dos últimos acontecimentos, estava feliz que ele finalmente pudesse descansar um pouco.

— Não se preocupe, querida. Na verdade, nenhum de vocês precisa se preocupar. Tudo no seu devido tempo irá se encaixar. Para o bem ou para o mal, o tempo é a resposta.

Eles ouviram o que ela falou, mas era tarde e muitos já estavam no limite do cansaço após um longo dia de trabalho. E, por essa razão, Jean falou pela primeira vez depois de ter se mantido quieto durante tudo o que aconteceu após a chegada do Eren e seus acompanhantes.

— Bom, eu acredito que agora nada pode ser conversado. Talvez devêssemos ir dormir por agora. Amanhã é um novo dia, e teremos mais tempo de ter uma conversa civilizada com muitas explicações — Apesar da educação óbvia, seu nervosismo era notável — Isso. Eu acho que é isso que todos estamos querendo: explicações. Explicações são ótimas. 

Paul apenas encarou o filho, a dor em seu olhar por vê-lo daquela forma, com medo e crescido. Em sua mente, ainda era o dia em que voltaria para casa depois de ajudar em um parto bem sucedido, e então encontraria sua amada esposa e filho. Mas agora… Agora não era isso. Sua amada esposa havia sofrido pelo tempo dos anos em que passou longe. Seu filho já tinha um companheiro e uma filha, pelo o que conseguiu entender. Nada estava certo. E nada do que pudesse falar agora mudaria isso.

Desviando seu olhar para o chão, murmurou um baixo e triste: — De fato. Amanhã, então.

A chuva do lado de fora havia se intensificado, impedindo qualquer possibilidade de saída. O clima estava frio, com muitos raios e ventania. Para dar o máximo de conforto possível que poderiam oferecer naquela noite, Maia e Armin trouxeram cobertores para todos, deixando-os em sua sala de estar, próximos da lareira quente. Com um último boa noite após garantirem não estar faltando nada, eles se foram para seus respectivos quartos.