#13. "A Mulher de Branco"

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Jacob acordou no meio da noite com a sensação de que tinha alguém pisoteando sua garganta, mas logo percebeu que acabara de ter um pesadelo e estava deitado, todo coberto, ao lado de Kevin, que igualmente todo coberto, dormia profundamente. Sentia sua cabeça doer um pouco e suas pernas tremiam um tanto também.

Quem dera fosse se àquela noite agitada durasse mais tempo, logo ele caiu na realidade de que faltava dois dias até Eric voltar do acampamento e ele voltar pra sua rotina normal, pegou seu paletó no chão, vestiu o blazer já que estava sem camisa e saiu andando até seu quarto.

Antes mesmo de chegar até o quarto em frente, ele viu, de relance, que a porta na outra extremidade do corredor estava semeaberta e a luz acesa. Não ouvira nenhuma movimentação na casa, os empregados e outros funcionários ainda estavam na festa, então ele logo pensou que poderia ter alguém andando por aí sem ser convidado. Mesmo que achasse improvável isso, ele foi até seu quarto, vestiu uma blusa e saiu andando devagar pelo corredor quase escuro.
Ele sentiu um arrepio na nuca ao ver que a porta de um dos quartos alí, também estava aberta. Jacob hesitou um pouco e parou instantaneamente ao ouvir uma voz rouca e cansada vir de dentro do mesmo, esse, mais escuro que o outro:

– Quem...? Quem está aí? — perguntou a voz que Jacob deduziu ser de uma mulher.

– Eu que pergunto... Quem está aí? — responde Jacob.

– Kevin é você? — a voz disse. Jacob se sentiu um pouco mais intimidado.

– Não... Kevin... Kevin está dormindo. — ele respirou fundo. Não fazia idéia de quem era mas sabia que a pessoa estava esperando por Kevin. – Desculpa incomodar, mas aqui é Jacob Bae, guarda-costa do Kevin, eu juro-

– Jacob Bae?! — a voz pareceu surpreendida e assustada ao mesmo tempo. – Jacob... Jacob... Bae...

Por um momento Jacob se calou e prendeu a respiração. Não sabia muito bem o que fazer e o silêncio pareceu domar aquela situação.

Pouco tempo depois, ele ouviu algo que parecia com gemidos de choro. Ele se encostou na parede e foi andando de fininho até chegar na fresta da porta onde viu uma cena que jamais, em nenhuma circunstância da sua vida, ele achou que iria ver.

Espantado, Jacob abriu a porta e se deparou com um quarto escuro, sem janelas, sujo, com rastros de comida pelo chão e uma mulher usando um vestido branco manchado de molho. A mulher agarrava com todas as suas forças uma pasta preta, e ela chorava, chorava muito, parecia estar assustada também e pouco cuidada. Ele foi se aproximando, mas o quarto estava tão escuro que ele nem percebeu que havia alí um corpo jogado no chão e acabou tropeçando por cima, esperando firmemente que a pessoa alí não estivesse morta.

– Ele vai acordar em breve, não se preocupe. Levou uma pancada na cabeça com uma tigela de sopa. — disse a mulher, agora bem mais calma. – Você disse que é Jacob Bae?

Jacob observou, através do único resquício de luz que tinha alí, o rosto bonito, porém triste e mal cuidado da mulher, e ele também percebeu que ela sorria calorosa apesar da sua feição completamente desgastada.

– Sou... — ele levantou e devagar, foi se aproximando da mulher. – Desculpe minha ignorância, mas posso saber quem é você e o que faz aqui nesse quarto escuro?

– Você não precisa saber... Por hora. — ela fez um gesto para Jacob se aproximar mais, e mesmo hesitante, o garoto assim fez. Algo naquela mulher lhe passava uma enorme confiança de que ela não iria lhe fazer algum mal. – Como você cresceu...

– Como?

– Nada... Venha cá. — ela foi se aproximando da borda da cama e lhe estendeu a pasta preta. Jacob não estava entendo muita coisa, na verdade, não estava entendendo nada, mas pegou a pasta mesmo assim. – Eu queria ter mais tempo pra explicar tudo pra você, mas parece que o tempo sempre é o nosso inimigo e não podemos confiar nele. Mas aqui tem tudo o que você precisa saber, por agora.

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