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(passado: Sterling e April com 5 anos)

"um, dois, três indiozinhos,

quatro, cinco, seis indiozinhos,

sete, oito, nove indiozinhos,

dez num pequeno bote"

Assim, em meio a gritos e crianças levantando de suas mesas e correndo pela sala de aula, toca o sinal para o recreio, tirando Sterling de seu mundo de fantasia enquanto ela desenhava um lindo castelo e arrastando-a para a realidade do lugar onde estava.

Sterling era uma garotinha de enormes olhos verdes, emoldurados por duas tranças loiras, caídas sobre seus ombros.

Dois meses atrás, quando começou a ir para a escola, ela estava extremamente animada com toda a promessa de diversão que (principalmente sua mãe) haviam lhe dito tantas e tantas vezes. Mas as coisas não estavam acontecendo exatamente como ela imaginou. Ela não havia feito amigos tão rapidamente como sua mãe havia falado e ela ficou completamente desapontada por não terem servido sorvete e bolo de aniversário, como seu pai prometeu que iria acontecer se ela parasse de chorar e entrasse na sala, no primeiro dia. Naquele dia, Sterling, quando realmente percebeu que teria que ficar com todas aquelas crianças barulhentas e desconhecidas e ainda longe de Blair, se agarrou ás pernas de seu pai e chorou sem parar, pedindo para que ele a levasse de volta para casa. E somente após muitas tentativas, após as promessas de sobremesa feitas por seu pai e também da professora a pegar no colo para levá-la até a sala, foi que ela aceitou.

Sterling no geral se dava bem com outras crianças mas isso acontecia principalmente por conta de Blair. Sterling era animada, alegre mas se distraía tão facilmente quanto seu sorriso iluminava e enchia de vida e de cores tudo ao seu redor. Nas caças ao tesouro com sua irmã, enquanto Blair se ocupava com o mapa e a difícil luta contra os piratas que queriam roubar o seu ouro, Sterling podia ver e criar a cor da folha das árvores ao seu redor, as pegadas no chão do gigante que Blair acabara de mencionar e as pequenas fadas de asas cintilantes em meio as flores e ela podia se perder nesses detalhes infinitamente até que Blair chamasse sua atenção novamente para a aventura que estava acontecendo ali. Blair sempre teve mais facilidade em se comunicar com as pessoas e sempre foi a mais realista e decidida entre elas, a que tomava as iniciativas. Ela sempre foi como um guia para Sterling, como o fio de uma pipa, que a direciona e lhe dá segurança para voar livremente.

Agora, Sterling percebe, parece que sem Blair para fazer o meio campo é muito difícil brincar e fazer amizade com essas outras crianças, que parecem sempre estar rindo de algo e que muitas vezes Sterling não entende. Algumas vezes parecem rir dela, mas ela também não sabe porque fazem isso.

Sterling levanta e sai correndo para fora da sala, assim como as outras crianças. Lá fora alguém grita:

- Vamos brincar de esconde-esconde!

Seguido por outras várias vozes agitadas concordando com animação, enquanto Sterling se juntava a eles. Sterling se anima vendo eles rirem e dá um pulinho enquanto pergunta se também pode brincar.

- Pode, mas você chegou por último, então você conta. - diz a menina que havia proposto a brincadeira.

- Não vale olhar! - grita um menino de óculos com o cabelo espetado, que faz Sterling pensar que ele poderia ser o porco-espinho em alguma das histórias de aventura de Blair. Ela sorri com o pensamento, enquanto encosta o braço na parede, para apoiar sua testa, e começa a contar.

- Um... dois... - ela começa, em voz alta.

Uma das primeiras coisas que Sterling aprendeu na escola durante esse tempo, foi contar até o número 20 e escrever metade do alfabeto. Essa parte sobre a escola, ela podia dizer que realmente adorava. Ela achava incrível que na sala de aula tinha cartazes com os números até 10 e embaixo de cada numero tinha uma quantidade de desenhos diferentes.

Maybe SomedayOnde histórias criam vida. Descubra agora