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Blair entra no banheiro feminino da escola puxando Sterling pelo braço atrás de si e verificando as cabines, para ver se não tem ninguém ali além delas.

— Aconteceu uma coisa. — retoma Blair, se voltando para Sterling.

— Tá bom, fala logo. — responde Sterling, apreensiva.

—  Aquela menina da recepção, eu fui entregar os papéis quando você saiu correndo... Na verdade você saiu engatinhando. — Blair faz uma careta — Por que fez isso? — Sterling abre a boca para responder uma desculpa qualquer mas antes que algum som saia de sua garganta, Blair a interrompe continuando o que estava dizendo — Enfim, não importa. Eu e ela estávamos conversando e ela falou coisas muito inteligentes e legais, sabe? — Blair pensa por um instante, olhando para o chão — Aí a April apareceu, sendo chata e mimada como sempre... Mas o ponto que eu quero chegar é que ela me passou o número dela. — Blair dá um sorriso e um pulinho, balançando as mãos ao lado do corpo e esperando uma resposta de Sterling.

— ... E o que tem? Eu não entendi...

— Nossa, Sterling, você é lenta... Ela me chamou pra sair... Foi praticamente um pedido de casamento. — Blair olha para cima — Bem, quase. 

— Tenho certeza que não foi um pedido de casamento. — Sterling ri.

— Tanto faz. — Blair vai até a pia e lava suas mãos enquanto olha para o espelho.

— Mas... — Sterling começa a dizer lentamente — Ela é uma menina... Não é?

— Sim.

— Então, você... Não gosta mais de meninos?

Sterling nunca imaginou que Blair pudesse gostar meninas e até por isso mesmo ela vinha se sentindo com medo de conversar com a irmã sobre o que ela própria vinha sentindo com relação a April.

Blair era uma das pessoas mais importantes do mundo para Sterling e era muito difícil e doloroso para ela pensar que a irmã pudesse não a compreender e pensar mal dela. Mas isso estava sufocando Sterling cada vez mais, guardar tudo para si era algo que ela nunca havia feito na vida, tudo ela compartilhava e conversava com sua irmã.

— Eu acho que uma coisa não exclui a outra... — refletiu Blair, olhando para Sterling — Eu acho que eu gosto dos dois. Mas sei lá, sabe... A única coisa que eu sei é que eu realmente amei o Miles e também tenho certeza que quero mesmo conhecer essa garota.

Sterling está atônica olhando para Blair, se sentindo um pouco constrangida por seu medo bobo de conversar com ela e por ter pensado que Blair pudesse fazer qualquer outra coisa além de ser uma irmã incrível.

— Tudo bem isso pra você, Sterl? —Blair pergunta pausadamente, receosa diante da falta de fala de sua irmã.

Sterling não encontra palavras, seus olhos lacrimejam e ela apenas abraça Blair. Blair retribui o abraço meio sem entender a reação de Sterling. Essa conversa com certeza foi muito mais significativa para Sterling do que para ela. Pela primeira vez em meses Sterling se sentiu confortável, segura e bem com relação a todas as suas inseguranças.

— Você está bem? — pergunta Blair.

— Agora sim. — Sterling sorri limpando os olhos — Estou ótima. Eu preciso fazer uma coisa. — ela diz para Blair e sai pela porta do banheiro para os corredores da escola.

***

April não estava tendo um dia legal. Depois de ouvir sua mãe tagarelar no trajeto todo até a escola sobre o quanto esse ano (e April) precisava ser perfeito e de queimar seus neurônios com toda a burocracia para as incrições em todos os grupos acadêmicos, além de pensar nas incrições para as faculdades no fim do ano, ela ainda teve que esperar na secretaria porque seus amigos a atrasaram, perguntando sem parar sobre os preparativos do baile e dando ideias completamente impossíveis de serem realizadas em um baile de escola. E ainda teve Sterling sendo... Bem, Sterling sendo Sterling. O que será que ela ia dizer?

Já é hora do almoço e April está distraída com esses pensamentos enquanto come uma gelatina de morango servida pela cantina, quando vê no fundo do corredor Sterling sair do banheiro limpando o rosto com as mãos, mas ela também ouve atrás si os estalos de um sapato de salto se aproximando.

— Srt. Stevens? — chama a pedagoga.

April se vira para ela. Ela é uma mulher de aproximadamente trinta e cinco anos, negra, com cabelos escuros presos em um coque baixo e mechas soltas, onduladas, que emolduram seu rosto. Usava uma saia azul marinho na altura dos joelhos com uma blusa cinza de lã, de gola alta e mangas compridas. Cíntia, era seu nome. April já a conhecia, ela começou a trabalhar na escola há dois anos e só tratava das questões sérias, isso a preocupou a garota.

— Pois não? — responde April.

— Preciso que me acompanhe até minha sala, tudo bem? — Cíntia mantinha uma postura impecável, com as mãos unidas na altura do abdômen, mas, apesar do tom firme em sua fala, a preocupação estampava seu rosto e quem a visse naquele momento até poderia dizer haver afeto em seus olhos (que na maioria das vezes eram frios e incisivos).

— ...Claro. — April diz, sua ansiedade aumentando em seu estômago.

Ela se levanta e ao virar para pegar sua bandeja, observa Sterling parada a duas mesas olhando para ela e parecendo impaciente. Isso a deixa mais nervosa, Sterling sabia de alguma coisa? Que diabos estava acontecendo?!

Deixando seus amigos na mesa, ela segue Cíntia até sua sala, onde a pedagoga abre a porta e espera que ela entre. Dentro da sala, April percebe que ela não estava vazia.

— Mãe? Por quê está aqui? O que houve?

O coração de April dispara ao ver sua mãe com um lencinho de papel enxugando algumas lágrimas dos olhos. April se aproxima e senta na cadeira ao lado dela, segurando a mão livre de sua mãe que descansava em seu colo.

— April... Óh, querida... — a voz de sua mãe sai embargada e seus olhos se enchem de lágrimas novamente.

— O que foi?

— Seu pai tinha aquela viagem de negócios hoje...

— Mãe... — April interrompe. Ao mesmo tempo em que ela queria muito saber o que estava acontecendo ela tinha muito medo do que sua mãe estava prestes a dizer.

Nesse momento sua visão já estava embaçada de lágrimas e ela não conseguia sentir nem o próprio corpo, era como se ele não existisse ou fosse vazio, leve como um balão de aniversário. Seus pensamentos giravam, parando em palavras aleatória — viagem, avião, trabalho, pai — e não formando nada específico.

Sua mãe apertou um pouco mais firme sua mão antes de continuar com a voz ainda mais cortada pela emoção que segurava.

— Eles ligaram depois que deixei você na escola... O avião perdeu altitude... — ela faz uma pausa, fechando os olhos — Eles fizeram as buscas e encontram os três corpos.

— Mãe, o que você está dizendo? — April está chorando. O som de seu coração batendo rápido em seus ouvidos.

— O seu pai, querida... Ele... Ele não sobreviveu. — ela solta com um soluço e abraça a filha.

— Mãe... O que você... Mãe... — April repete, com a voz abafada pelo ombro de sua mãe, tentando entender, tentando...


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Oiê S2
Desculpem a demora para atualizar, prometo que vai valer a pena depois ;)
Capítulo curtinho hoje mas o próximo vai sair rápido ;D


Maybe SomedayOnde histórias criam vida. Descubra agora