Angelina Clark
Suspiro cansada me jogando em um banquinho que tem ali atrás do balcão, minhas pernas hoje estão pedindo socorro, eu praticamente andei o centro todo entregando currículos depois de ter feito duas entrevistas, confesso que tento não desanimar mas está difícil, fora que todo canto que vou ando olhando pelos becos e calçadas na esperança de ver o meu pai, mesmo que ele não mereça eu me preocupo com ele, é o único familiar que me resta.
— boa noite Angelina, parece cansada – Felipe comenta se sentando no banquinho ali em frente
— boa noite, andei muito hoje – suspiro — wisky ? – pergunto
Ele nega — só uma água hoje, e sua companhia
Me levanto indo até o freezer pegando uma garrafinha de água e a comanda, entregando pra ele.
— posso fazer uma pergunta ?
— claro, acho que já passamos dessa fase de estranhamente
— quando alguém da entrada em algum hospital, e está sem documento, eles ligam pra você ? – pergunto
— sempre que chega alguém sem identificação ao hospital eles informam a polícia pra que possamos tentar encontrar a família
— e não chegou nenhum desses casos pra você durante esses dias ?
Ele sorri triste, acho que ele entendeu onde eu quero chegar — olha Angelina vou ser muito sincero com você, quando uma pessoa está fugindo de um agiota ela não vai ficar na mesma cidade, eles tendem a ir o mais longe possível, eu sei que se preocupa com seu pai, mas eu acho que ele não vai voltar
Eu suspiro piscando várias vezes pra não deixar que nenhuma lágrima caísse dos meus olhos — eu sei que não, mas queria saber se ele ainda está vivo sabe, se procurou ajuda, ou se está por aí caído em algum beco ou calçada
— você não me disse o por que saia de madrugada atrás dele, ou qual era o problema dele
— álcool e jogos – suspiro — nas últimas semanas antes dele fugir eu cheguei a desconfiar de drogas, ele estava muito agitado, mas talvez fosse só pela dívida que havia feito
— eu sinto muito, você é uma garota forte, apesar de tudo não se desviou do caminho certo
— alguém tinha que ser forte depois que minha mãe se foi, e eu vi claramente que não era meu pai – suspiro — mas não vamos passar a noite falando de coisas ruins
Ele concorda, eu me afasto pra ir atender um pessoal, cumprimento a Carla, uma outra moça que trabalha aqui, nós só nos cumprimentamos nunca conversamos de fato, na verdade acho que nunca conversei com nenhuma outra pessoa que trabalha aqui.
Depois volto onde o Felipe está, e me sento no banquinho, hoje por ser dia da semana, o movimento tá fraco, e eu acho ótimo por que estou realmente cansada.
— teve sorte com algum emprego hoje ?
— não, mas fiz duas entrevistas e entreguei bastante currículos, espero que consiga algo
— estou torcendo por isso, mas me conta já teve vontade de fazer alguma graduação ? – ele pergunta
— meu sonho era fazer direito, mas tive que começar a trabalhar muito cedo, tive muitas responsabilidades, isso acabou ficando pra segundo plano.
— não desiste, ainda vai dar certo
— você sempre quis fazer direito?
— sim, e meu pai mesmo querendo que eu me dedicasse ao negócio da família me apoiou na minha decisão, mas pra felicidade dele meu irmão está prestes a chegar pra administrar a empresa de segurança do papai
— ele provavelmente ficaria feliz com isso – comento
Me afasto mais uma vez pra atender mais um pessoal, depois volto.
— com certeza, ele era um cara incrível
— imagino, já que você parece ser um cara incrível também – sorrio
Ele sorrio — Sabe Angelina, depois de todo o péssimo mês que passei, vir aqui e conversar com você tem sido a melhor parte do meu dia
— fico feliz em poder animar, e pra ser sincera o único momento em que esqueço que estou afundada até o pescoço é quando conversamos, me distrai
***
A noite passou tão rápido que nem percebi que já estava na hora de ir, ter alguém pra conversar é incrível, me faz esquecer pelo menos um pouco da confusão em que estou, da preocupação com meu pai e de todo o resto.
— vamos ? – Felipe me chama
— você sabe que não precisa ficar toda a noite aqui e que não precisa me deixar em casa também – digo
— não preciso, mas eu quero! São 2 da manhã, você é só uma menina, não é seguro ficar andando por aí, sei que é independente e que antes de me conhecer você ia embora de uber, ou andava por aí atrás do seu pai, mas estamos nos tornando amigos, me deixa pelo menos tentar te ajudar nessa parte
Suspiro — tudo bem, é que não tô acostumando com alguém cuidando de mim, sempre fui eu por eu mesma sabe
— eu sei, e te admiro por isso, mas eu fico à noite toda por que você é uma ótima companhia, e te levo pra casa pra que não corra riscos
— tudo bem, obrigada – sorrio
Entramos no carro, o Felipe deu partida no carro e fomos em silêncio, uma música qualquer estava tocando no som do carro bem baixo.
Minutos depois estávamos na porta de casa, solto o cinto e me viro pra olhar pro Felipe.
— obrigada mais uma vez pela carona, e boa noite
— boa noite Angelina, eu vou conversar com alguns amigos que são delegados nas cidades vizinhas, vou vê se alguém sabe sobre ele.
— ele se chama Álvaro, e muito obrigada por isso
— só não crie muita expectativa, pode ser que isso não ajude em nada.
— tudo bem, mas já agradeço por pelo menos tentar isso por mim – sorrio e beijo sua bochecha de leve — boa noite
Saio do carro e entro no meu prédio indo pro meu apartamento, estava tão cansada que apenas tirei minha roupa e me joguei na cama.
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Barriga de Aluguel
RomansaAngelina é uma menina doce, independente que desde muito cedo teve que assumir muitas responsabilidades dentro de casa, e não lhe sobrava muito tempo pra se divertir e aproveitar sua juventude. Ela nunca sonhou em se casar, ter filhos, e muito menos...