(Frank)
Há muito tempo, o simples ato de despertar não me pareceu tão prazeroso quanto nesta manhã. Eu ainda podia sentir o cheiro do shampoo de Gerard impregnado no travesseiro ao lado e, porra, era bom tê-lo rodopiando em minhas narinas. E foi bom tê-lo por completo ontem.
Gerard e eu estávamos passando mais tempo juntos do que eu imaginei que teríamos, e desde o primeiro dia, a sua beleza foi alvo da minha atenção. Conforme os dias se estenderam, os nossos jeitos se encaixaram pouco a pouco, como um quebra-cabeça, e agora, ele facilmente poderia ser uma das minhas companhias favoritas. Prova-lo ontem foi inesperado. Não aquele inesperado ruim, apenas um pouco assustador no início, mas muito bom no fim. Tão bom que quando nos deitamos após o banho que compartilhamos, eu me perguntei o porquê diabos eu não havia cedido às minhas vontades antes, isso tudo enquanto acariciava os seus fios úmidos emanando o cheiro de shampoo conforme remexidos, o ouvindo ressonar baixinho e tranquilo.
Ainda deitado após despertar, estiquei os braços, me espreguiçando confortavelmente, embora os olhos ainda estivessem fechados, tardando abrir pelos feixes de luz do sol que invadiam o quarto. Minha mão escorregou pela lateral do corpo, tateando o colchão para sentir Gerard.
Mas ele não estava lá. O colchão estava leve demais e não havia corpo algum ao meu lado.
Rapidamente, abri os olhos para me certificar de que realmente ele não estava ali, e de fato não estava. Divaguei a visão atentamente por todos os cantos do quarto, sem sucesso em encontra-lo. Afastei o edredom do corpo e me levantei em um sopro, ajeitando a calça larga do pijama. Senti um vento matinal atingir a minha pele quente e recém desperta, permitindo que o frio arrepiasse o meu corpo nu da cintura pra cima. E quando cogitei caminhar até o banheiro para conferir se havia sinal dele por lá, um som peculiar invadiu minha audição. Parecia baixo demais, embora desse para distinguir perfeitamente.
Era uma nota. Uma nota de piano, mais especificamente.
Vinha do andar de baixo, para onde eu me pus a andar com pressa, procurando entender melhor o que estava acontecendo. No corredor, outra sequência de notas formando uma melopeia graciosa ecoou, agora mais alta e clara. Curioso, atravessei o corredor como o vento, chegando à escada em apenas alguns segundos, onde do alto, eu o vi.
Gerard estava sentado sobre o banco de couro preto, sua bengala descansando em seu colo enquanto seus dedos deslizavam sobre as teclas do piano com muita graça, tendo total conhecimento do que estava fazendo. Então, inesperadamente, a sua voz se desprendeu da sua garganta, forte e imponente, mas ainda tão suave quanto uma pluma. Minha boca se abriu involuntariamente e a fina camada de pêlos nos meus braços se eriçou quando aquela voz parecia entrar pelos meus ouvidos deixando uma trilha de beijos pela minha membrana timpânica.
Who am I? To walk in
(Quem sou eu? Para entrar)I could've been
And I could've stayed
(Eu poderia ter sido e eu poderia ter ficado)Desci alguns degraus, detendo-me no quinto, onde eu o podia ouvir com clareza e ainda conseguia enxerga-lo enquanto tocava.
Where am I?
After all these years
(Onde estou?
Depois de todos esses anos)How could you die
And why did I stay
(Como você pôde morrer?
e como eu fiquei?)After it all
Where would I've been
(Depois disso tudo
Onde eu teria estado?)Holding your hand
In the ambulance
(Segurando sua mão
Na ambulância)E então, subindo algumas notas, Gerard deixou que um grito sôfrego partisse de sua garganta, colhendo ar pelas narinas enquanto seus dedos ainda criavam aquela melodia.
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Behind Your Eyes
FanfictionO luto trouxe a Gerard não só a dor da perda como também a ausência de visão, o prendendo em uma cegueira psicológica como mecanismo de autodefesa. Sofrendo de uma doença psicossomática e lidando com cuidados excessivos, tendo toda a sua independên...