Dia 2

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Querido leitor, hoje acordei com um pesadelo, revivendo sempre aquela cena na minha cabeça, me levantei e logo fiquei tonto, talvez seja de fome pois eu não havia jantado na noite passada.
Estou com uma carta na manga, devo pensar como um jogo de xadrez, todos são peças, devo eu descobrir quem é o rei e leva-lo ao cheque mate? Ou descobrir apenas os seus segredos? Estou confiante que hoje o dia será melhor.
Fui andando para a cantina sem nenhuma dificuldade, pelos corredores iluminados pelos raios de sol que passavam através das plantas trepadeiras, formando um cenário místico, algo mágico. As flores que nasciam pela grande parede verde criavam diversos tons iluminados distribuídos pelo chão. Retornei à realidade e continuei a andar para a cantina. Olhei ao redor e o lugar era do mesmo nível que a biblioteca, as paredes estavam caindo de mofo. Fui em direção à enorme fila que formava cruzando o enorme salão. Talvez havia umas 13 pessoas na minha frente, cada um com mais cara de doido que o outro. Após uma longa espera, finalmente chegou na minha vez.
Peguei escondido a comida e fui para a biblioteca, era torradas e frutas, me arrisquei levando alimentos para meu refúgio, onde estou agora escrevendo. Me lembrei do estado precário do nosso meio de comunicação, as folhas, mas, irei utilizar Joseph para me dar mais.
Meu leitor, eu cheguei à conclusão que não estou seguro aqui, tenho que descobrir mais sobre a Irmã Veronica e transforma-la em um peão do meu tabuleiro. Me despeço de você por hoje, espero encontrar você mais tarde para novidades.
Voltei para meu quarto e encontrei a "moradora" do lado, ela se dirigiu a mim.
-Meu nome é Carol. – Ela olhou para mim radiante, estendeu a mão como forma para que eu a cumprimentasse. -Só um aviso, não mexa com o doutor, ele é perigoso, vi ontem outros funcionários entrando no seu quarto, cuidado para ele não te incriminar e você ser pego na hora da inspeção – Ela fechou a cara quando percebeu que eu não iria cumprimenta-la.
-Obrigado pelo conselho, mas eu sei me virar só - Talvez ela seja um problema no futuro, irei procurar saber mais sobre ela.
-Falando em inspeção, hoje à tarde irá ter uma. – Ela voltou seu olha para o quarto. Será que implantaram algo lá dentro para eu me ferrar? Talvez esse seja meus últimos momentos com você.
-Certo, mas eu não tenho nada aqui, não preciso me preocupar – Fui entrando no meu quanto enquanto falava, fechei a porta, malditas portas, pensei, elas não têm trancas. Comecei a vasculhar por todo o quarto, não estava achando nada, então, decidi tirar o colchão, avistei uma lâmina, algo perigoso aqui que poderia causar uma grande tragédia, suicídio ou até assassinato, existem muitos loucos aqui. Não sabia onde esconder, se eu jogasse na pequena janela que havia no quarto, eles iriam ver uma hora ou outra. Escondi a lâmina no meu bolso, saí do quarto e fui para a biblioteca.
Sim meu leitor, estou aqui depois de ter lhe informado que hoje não estaria de volta, infelizmente não veio com boas novidades. Encontrei uma lâmina em baixo do meu colchão, se eu entregasse aos guardas eles não iriam acreditar em mim, provavelmente me prenderiam na ala da solitária por um grande tempo. Escondi as lâminas com você meu leitor, acredito que no futuro eu posso utilizar ele, tomara que eu não chegue à essas circunstâncias. Irei descobrir mais sobre a paciente do lado do meu quarto, tenho que transforma-la em um peão do meu jogo. Já está no final da tarde, tenho que voltar para o meu quarto, pois se for verdade o que ela falou, logo irá haver uma inspeção nos quartos, e se eu não estiver nele terei grandes problemas. Adeus, até amanhã, receio que hoje não o verei mais, a janta é dada nos quartos, muitos pacientes tem medo do escuro, por isso acham melhor confinar todos.
Voltei com um certo receio para meu quarto, se hoje foi uma lâmina amanhã pode ser algo pior, terei que tomar mais cuidado. Sinto que estou sendo observado. Estava cansado demais para comer, então, pulei a janta e me deitei. Olhei para o teto, com manchas de mofo que formavam figuras artística, parecendo que tinham sido colocadas lá por um pintor profissional, suas curvas transformavam o mofo fedido em grandes explosões de flores hipnotizantes. Após admirar durante um tempo o teto, peguei no sono.

Manicômio  (versão original)Onde histórias criam vida. Descubra agora