Minhas costas estão doendo e meu quarto está tomado por chamas azuis, como lamparinas que eu mesmo pus, a penumbra não me abala mais, pelo menos estou tentando lidar com isso e pareço me sair bem esses dias. Faz muito que estou na minha escrivaninha, deveria estudar os diversos livros sobre táticas de batalha que minha mãe pediu para Lucas me entregar, mas estão todos espalhados pelo chão. Só me resta o pequeno caderno de sonho em branco a minha frente, o caderno que Thomas me deu e que me aconselhou escrever todos os meus sonhos, os quais já não posso ter, só me resta mantê-lo em branco.
Outro dia ele me disse que havia sonhado comigo, meu coração se aqueceu, não apenas o coração. Queria poder dizer o mesmo, mas já faz tempo que não sei o que é sonhar, eu tenho pesadelos e acordado assustado constantemente. A escuridão sempre aparecia em parte deles, seguida de sussuros de uma voz e gritos que não sabei de onde vem, eu não queria colocar isso no caderno que Thomas me deu, para fazer a verdade, não consigo nem lembrar do último sonho que tive.
Meu irmão já estava cansado de me acolher nessas noites pesadas, ele dizia que sempre que acontecesse eu poderia ir para o quarto dele, pois, na maioria das vezes minha cama amanhecia em cinzas, os servos estavam achando estranho, não parecia normal, a quantidade de camas que já queimei daria para acomodar todos os quartos do palácio com camas novas, e não é uma quantidade pequena de quartos.
Thomas, meu querido Thomas, ele me entenderia se eu dissesse o que está acontecendo, se soubesse que minha mãe está tentando me manter forte, ela sempre disse que sonhos tendem a deixar as pessoas fracas, e pior ainda se fizesse eu correr para os braços do meu irmão, um principe não deveria ter medo de pesadelos e muito menos ir choramingar para o futuro rei de Norta. Eu jamais falariam sobre Thomas a ela, não posso, Elara não pode descobrir que tenho um ponto fraco e que isso me faz desabar. Ela o destruiria, não quero nem imaginas do que ela seria capaz.
Escuto batidas na porta, reconheço a intensidade da força de longe, Tiberias Calore, meu irmão mais velho. Apesar de jovem ele poderia incendiar esse quarto com o midinho se quisesse, não que eu não podesse fazer isso também, mas ele será o futuro rei e precisa de modos, está sendo treinado para isso, ser educado e gentil, que patético, apesar de ser bom com os modos e seguir bem as aulas de etiqueta, sempre o vejo com suas ferramentas e sujo de graxa, me parece está projetando uma moto, ele sempre gostou de construir coisas a partir de suas ruínas, ele é bom nisso, talvez consiga tirar Norta das ruínas também. Cal será o rei que eu jamais serei, estou aprimorando meus conhecimentos em diversas áreas, com apoio da minha mãe, é claro, meu irmão costuma aprender as coisas mais rápido, está sempre com os soldados na linha de frente quando se trata de estratégias de guerra, se ele pode entender sobre batalhas porque eu não posso?
Outra batida na porta.
Guardo meu caderno na gaveta com uma chave e a tranco, acendo as luzes e apago as chamas, o quarto está fedendo a fumaça e abro as janelas, deixando que a luz entre e me deixe momentaneamente cego.
Outra batida na porta. Mais forte. MAIS FORTE.
- Abre a porta, temos que ir treinar.
-Já vai. - digo.
Treinar. Não sou tão ruim em combates contra Cal, até consigo controlar bem meus poderes, sou até sento ponto forte, posso ser tão bom quando ele, ou até melhor, isso que minha mãe disse, seja o melhor, seja o mais forte e inteligente. Retorno do transe quando escuto ele me chamar.
Seja o melhor. Seja o mais forte e inteligente. Ouso em algum lugar na minha mente.
Batidas na porta ressoam.
Sigo em sua direção, e de encontro ao meu conflito, ao meu oponente. Abro a porta e vejo seus olhos âmbar brilharem, Cal é bem mais alto que eu e mais largo, com mais músculos, enquanto eu sou mais magro e baixo.
- Achei que não abriria, vamos Mavey estamos atrasados!!! - Diz Cal.
Por um momento não sei o que fazer, Mavey, Patético, digo a mim mesmo dou um sorriso debochado e saio ao seu lado.
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COROA DE FOGO
FanfictionAos 14 anos, Maven Calore tenta entender o que está o dividindo, após conhecer um garoto no Front de guerra chamado Thomas. Ele tenta se manter firme diante das adversidades, mas algo está errado, alguma coisa está mudando, e ele não sabe se será ca...