O primeiro adeus

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   Ainda estou com os olhos fechos e minha cabeça está latejando, não escuto nada, temo abrir os olhos, porém, faço assim mesmo.
Consigo ver uma fina linha horizontal de luz, o que significa que ainda estou vivo, menos mal. Uma sombra se move atrás de um balcão a minha frente e estou sentado, aparentemente nada está me mantendo preso.

— Olá, principezinho. — diz uma voz suave e que me faz acordar em um sobressalto.

— O que está fazendo aqui? O que está acontecendo? Aonde estamos?.— Pergunto.

— Calma, você está seguro aqui, vim porque achei que precisaria da minha ajuda, a guarda escarlate está atacando e nós estamos em um posto seguro, no quartel- general.

   Parte de mim não sabe o que mais choca, ataque da guarda escarlate, Thomas ter me tirado do castelo, como ele foi capaz de entrar e me encontrar? Ou o pior, como ele sabe que sou o príncipe?
   Estou tão confuso que acredito estar sonhando, depois de tanto tempo, penso estar sonhando, então pergunto ainda abalado.

— Do...do que você me chamou Thomas?

— Principezinho, é o que você é não é? O príncipe de Norta, da casa Calore.
Príncipe Maven Calore.

   Thomas diz cada palavra da última frase como se conseguisse sentir o sabor.

— Thomas, eu... Eu posso explicar isso.

— Não se preocupe com isso agora, você sabe que sempre vou estar com você Maven, independente das... Das mentiras. Queria que você entendesse isso, mas também gostaria que você confiasse em mim, achei que me amava o suficiente para isso.

— Eu te amo Thomas, tentei te proteger todo esse tempo, você não faz ideia do que tá acontecendo, me perdoe. Mas não posso meter você nisso, não quero que se machuque.

   Me levanto da cadeira e me aproximo, olho para os lados e vejo todo tipo de armazenamento, bombas... Chumbo e me pergunto como Thomas entrou neste lugar, como conseguiu se aproximar tanto. Mudo de assunto abruptamente depois de ter perambulado os olhos pelo local, retornando minha atenção até ele.

— Esse novo movimento rebelde tem que acabar.

— Não sei quem são Maven, o que querem, foram atrás de você. Ouvi falar que estavam a procura de alguém com poder, parece que querem... Bom, não sei ao certo o que pensar.

— Eles poderiam ter te machucado Thomas, você se arriscou, poderia ter perdido a vida. Tenho meus guardas, segurança... Você não.

— Pare de pensar que não tenho como me defender, que sou franco, de certa forma, tendo porque acha isso, eu sou um vermelho e você é um prateado, somos muito diferentes. Entendo porque se afasta.

   Dou um passo a frente e falo.

— Esse Thomas, acredite, é o menor dos problemas.

— Melhor ficarmos aqui até o conflito lá fora passar.

   Thomas diz, baixinho.

— Ela nunca vai saber, NUNCA. Nunca vai saber sobre você. — falo em um sussurro. Mas Thomas escuta e pergunta.

— Ela quem?

— Elara Merandus.

— Preciso que vá embora Thomas, por favor, se afastar de mim. Ela vai descobrir cedo ou tarde, não posso permitir, que ela saiba que penso em você a cada maldito segundo da minha vida.

— Porque você não se afasta dela Maven? Porque não sai de perto dela?

— Não posso, eu não consigo, eu não... — Solto um suspiro, não consigo olhar nos olhos de Thomas, não consigo encara-lo dessa forma. Eu o amo, um amor que nada nem ninguém vai conseguir apagar. ninguém.

— Minha mãe deve está a minha procura neste momento.

— Então é ela? Elara é sua mãe?

— Sim. — Minha voz sai com uma fraqueza surpreendente.

— Entendi.

— Thomy, quero que guarde uma coisa. — Com cuidado, tiro o pequeno caderno que Thomas me deu, com as folhas em branco, sem sonhos que fossem possíveis se realizar, foi a única coisa que pensei em pegar enquanto o quarto estava em penumbra, a única coisa que lembrei e achei... Importante.

— Maven, isso não é meu. É seu.

— Não tenho motivos para ficar com isso Thomas, não mais.

— Eu só queria te ajudar Mavey, de certa forma, achei que isso ajudaria. Escrever seu sonhos...O que mais deseja.

— Você parece uma criança falando essas coisas, sonhadora e tola. — falo, franzindo as sobrancelhas.— Sonhos são uma fraqueza, te iludem e destroem. Faz você ter esperança em algo que provavelmente nunca não vai acontecer.

— Maven, os sonhos é tudo que pessoas como eu tem, a esperança de que algo bom pode acontecer, é a luz na escuridão, é como olhar para cima e ver luz no abismo do universo e saber que mesmo em dias tempestuosos e mares agitados há vida alí.

— Pare de dizer essas coisas entendeu? Pare. — Reclamo, virando em sua direção e dando um passo a frente, e Thomas está firme como uma pedra.
— Você não faz ideia do que está acontecendo comigo Thomas, no que estou me tornando. Fala como se fosse fácil. — Riu como deboche e chego cada fez mais perto, com as mãos fechadas em punho, uma centelha acende em mim e eu não sei explicar de onde vem.
Seu rosto se abaixa, como em afirmação ao que acabei de dizer. Então, coloco minhas mãos sobre seu rosto o erguendo para que veja em meus olhos e percebo que Thomas está... Thomas está chorando.
Eu encosto a minha testa na sua e digo.

— Você sabe que eu te amo não sabe Thomy? — me aproximo do seu corpo e aquela centelha inicial parece ter saído totalmente do meu controle.
— Vamos. Me diga como faz Thomy, me livre desse inferno. ME LIVRE DESSE INFERNO.— Minha cabeça dói e minhas mãos começam a arder sobre a pele macia de dele.
— Por favor, me dê uma solução para isso. — Grito, com a respiração pesada, o oxigênio em mim parece me inflar.

— Maven...Ma... — Thomas gagueja e seus olhos estão fixos nos meus, com as pílulas dilatadas eu vejo fogo neles, um fogo que não sai dele, mas sim de mim.

— Por favor, Thomy, diga que sabe que te amo. — Sinto lágrimas saindo dos meus olhos, mas rapidamente elas se esvaem. O calor.

— S...sim... Eu sei, principezinho.

E então senti uma explosão, é como se o mundo estivesse em chamas.

                             

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COROA DE FOGOOnde histórias criam vida. Descubra agora